Tim Lopes
Tim Lopes
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Brasileiro
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Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento,
conhecido como Tim Lopes,
(Pelotas, 18 de novembro de 1950 — Rio
de Janeiro, 2 de junho de 2002) foi um repórter brasileiro,
produtor da Rede Globo desde 1996.
Cursou Jornalismo na Faculdade Hélio Alonso (FACHA), Rio
de Janeiro. Seu primeiro trabalho foi na revista Domingo Ilustrada, do
jornalista Samuel Wainer, como contínuo. Quando começou
a fazer reportagens na rua, passou a ser chamado de Tim Lopes. Segundo amigos,
o "nome artístico" teria sido dado pelo
próprio Samuel Wainer, devido à semelhança do jornalista com o cantorTim Maia. Uma de suas primeiras reportagens foi
publicada na década de 1970, no
jornal alternativo "O
Repórter". A matéria relatava as precárias condições de trabalho dos
operários na construção do metrô do Rio. Para
produzi-la, Tim Lopes trabalhou como peão na própria obra. Trabalhou também na
sucursal do Rio de Janeiro da Folha de S.Paulo, nos
jornais "O Dia",
"Jornal do Brasil" e "O Globo"
e na revista "Placar".
Na TV Globo, participou de uma série de reportagens do programa "Fantástico",
que promoviam o encontro de familiares de vítimas com assassinos presos.
Internou-se por dois meses em uma clínica para dependentes químicos para uma
reportagem sobre o assunto. Em 2001, Lopes foi um dos ganhadores do Prêmio Esso. Era
considerado pelos colegas de profissão como um dos mais corajosos e audaciosos
repórteres investigativos em atividade.
Tim Lopes desapareceu em 2 de junho de 2002. Depoimentos
de narcotraficantes presos indicam que ele teria sido
sequestrado e morto entre as 22 e 24h daquele dia. Sua morte somente foi
confirmada a 5 de julho, após exame de DNA dos fragmentos de ossos encontrados
num cemitério clandestino.
Era casado com a estilista Alessandra Wagner havia dez anos.
Tinha um filho de 19 anos, Bruno, nascido do seu primeiro casamento.
Prêmios
Em 2001, recebeu o
Prêmio Esso com a equipe da Rede Globo pela reportagem “A Feira das Drogas”, em
que denunciava, por meio de uma câmera escondida, a venda livre de drogas no complexo
do Morro do Alemão. Foi o primeiro prêmio Esso concedido na categoria
televisão. Recebeu ainda o 11º e o 12º Prêmio Abril de Jornalismo, na categoria
Atualidades, pelas matérias “Tricolor de Coração” publicada na revista Placar de dezembro de 1985, e “Amizade sem
Limite”, de maio de 1986. Em fevereiro de 1994, recebeu um
prêmio de melhor reportagem feita no jornal O
Dia pela série “Funk: som,
alegria e terror” - ironicamente, o mesmo tema de sua última grande reportagem
na TV Globo.
Morte anunciada
A jornalista e ex-produtora do Jornal Nacional da TV Globo, Cristina Guimarães, que
dividiu o Prêmio Esso com Tim Lopes, produzia com ele as matérias de jornalismo
investigativo do telejornal.
Ameaçada de morte, saiu da emissora sete meses antes do assassinato de Tim
Lopes. Segundo ela, a direção de jornalismo da Rede Globo foi informada sobre
as ameaças que sofria por parte dos traficantes, mas nada fez para protegê-la.
" Eu falei sobre os riscos que estávamos correndo
sete meses antes de os traficantes do Alemão matarem o Tim Lopes. Eu implorei
por atenção a estas ameaças e o que fez a TV Globo? Ignorou tudo. Sete meses
depois, eles pegaram o Tim. Na ocasião do Prêmio Esso, antes de o Tim ser
morto, eu liguei para ele e o alertei sobre os riscos de ter exposto seu rosto
nos jornais. Na nossa profissão, é preciso ter muito cuidado para mostrar a
cara. É muita ingenuidade achar que traficante não assiste TV e não lê
jornal."Posteriormente, a jornalista entrou com uma ação judicial
contra a rede, reclamando da falta de segurança para os jornalistas da
emissora. Afinal, sempre em razão das ameaças sofridas, Cristina decidiu sair
do Brasil.
Por volta das 17 horas do dia 2 de junho de 2002,
domingo, Tim Lopes foi até a favela Vila Cruzeiro, no
bairro do Complexo
do Alemão, subúrbio do Rio de Janeiro, com uma
microcâmera escondida numa pochete que levava na cintura, para gravar
imagens de um baile funk promovido por traficantes de drogas.
Ele havia recebido uma denúncia dos moradores da favela de que no baile
acontecia a exploração
sexual de adolescentes e a venda
de drogas. Iria verificar
também a informação de que os traficantes construíram um parque infantil numa
via de acesso à comunidade, para dificultar a ação da polícia, e que desfilavam
armados de fuzis.
Os traficantes estranharam a presença de Tim Lopes no
local. Há suspeita de que, uma vez descoberto, sua morte tenha sido decidida
como vingança pela reportagem feita anteriormente, sobre a venda de drogas no
morro, veiculada em agosto de 2001 pela TV Globo. Depois dessa
reportagem, vários traficantes foram presos e o tráfico da região teve um
prejuízo em suas atividades criminosas por um longo tempo. Outras hipóteses são
de que Tim Lopes tenha sido confundido com um policial ou um informante da
polícia.
Segundo testemunhas, a morte de Tim Lopes foi definida
pelo traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, um dos
líderes do grupo criminoso Comando Vermelho, que
dominava o Complexo do Alemão. As investigações indicam que participaram do
crime outros nove traficantes de sua quadrilha. Antes da execução, os
traficantes fizeram uma espécie de julgamento para decidir sobre a morte do
jornalista. Ele foi torturado, antes de ser
assassinado com uma katana. Em seguida, o
corpo teria sido esquartejado e queimado (método conhecido como
"micro-ondas", usado para ocultar o cadáver e o
crime) no morro da Grota.
Repercussão
Embora fosse um jornalista destacado, Tim Lopes somente
se tornou conhecido nacionalmente após sua morte, num crime que chocou o país,
tendo a sua repercussão aumentada em grande parte pela influência da Rede Globo como formadora de opinião. Seu
desaparecimento ocupou muitas edições do Jornal Nacional, o que
aumentou a pressão sobre as autoridades pela captura de todos os criminosos
envolvidos; o jornal também passou a usar a expressão Poder paralelo para definir os grupos criminosos
existentes nas favelas cariocas. Embora a resolução do caso fosse considerada
pela sociedade em geral como uma prioridade, até pela afronta que representou à liberdade
de expressão, houve quem criticasse o fato de que não tenha havido o
mesmo empenho da polícia no caso de outros crimes onde não houve a influência
de alguma organização influente.
Caçados pela polícia, um a um, todos os criminosos foram
presos ou mortos, até que finalmente Elias Maluco foi preso em setembro, no
alto da favela, após uma mega-operação policial.
Tim Lopes foi homenageado pela escola de samba Acadêmicos
do Tucuruvi no carnaval do ano seguinte, com o enredo "Não
calem minha voz", uma homenagem à imprensa, onde um dos
versos dizia "a verdade tim-tim por tim-tim", numa referência ao
apelido do jornalista.
Condenações
Entre os que participaram da morte de Tim Lopes, foram
julgados e condenados em júri popular: Elias
Pereira da Silva, o "Elias Maluco", condenado a 28 anos e seis meses
de reclusão; Cláudio Orlando do Nascimento, o "Ratinho"; Elizeu
Felício de Souza, o "Zeu"; Reinaldo Amaral de Jesus, o
"Cadê"; Fernando Sátyro da Silva, o "Frei"; e Claudino dos
Santos Coelho, o "Xuxa", todos condenados a 23 anos e seis meses de
prisão. Ângelo Ferreira da Silva, o "Primo", foi condenado
a 15 anos por ter tido uma participação menor no crime e ter colaborado com a
polícia, mas, ao ser beneficiado com o regime semiaberto, teve direito à visita
periódica aos familiares e ficou foragido de 7 de fevereiroa 26 de maio de 2010, quando foi
recapturado pela polícia.
Outros partícipes, André da Cruz Barbosa, o "André
Capeta"; Flávio Reginaldo dos Santos, o "Buda"; e Maurício de
Lima Matias, o "Boizinho", foram mortos em confronto com a polícia.
O criminoso Zeu, beneficiado mais tarde pela progressão
de regime, acabou fugindo da prisão em 2007, quando recebeu
o benefício do regime semiaberto. Denúncias levaram investigadores a crer que
ele teria sido morto em 2007, pelo traficante Tota, depois de ter
assassinado a própria mulher. Em
dezembro de 2008, houve nova
decisão judicial no sentido de conceder benefícios judiciais a criminosos
envolvidos no caso. Em 28 de novembro de 2010, às 15 horas e 02 minutos o
traficante Zeu se entregou à polícia diante de uma grande operação de pacificação do Complexo
do Alemão. Segundo a polícia, ele se rendeu, em sua casa, às
forças de segurança que ocupam o conjunto de favelas.
Edinei Sena