Orlando Brito
Nascido em 08 de Fevereiro de 1950 em Minas
Gerais;
Mudou-se para Brasília com a Família ainda
novo, quando estava em processo de inauguração da Cidade que era a nova Capital
do Brasil.
Em seu trabalho aborda temas políticos e
econômicos, meio sociais, vida na metrópole e no interior, retratando indígenas,
terras, esportes e o cotidiano.
Viajou por mais de 60 países, fazendo
coberturas diversas, como Presidenciais, Papal, Campeonatos Esportivos e a
Sociedade como ponto de reflexão.
Autodidata, iniciou seu trabalho aos 14 anos
de idade, como Laboratorista do Jornal Carioca: Última Hora, e passou a
fotografar 2 anos após.
Foi no Jornal O Globo, que ele fotografou se
firmando profissionalmente, no período de 1968 a 1982;
Também foi editor do Jornal do Brasil, no Rio
de Janeiro de 1988 á 1989;
Mas se tornou reconhecido nacionalmente entre
1982 e 1998 na Revista Veja, no qual teve a publicação de 113 capas.
Fundador da agencia de noticias: Obrito
News, que exerce ate os dias atuais como diretor da mesma, e ministra cursos e
workshops para empresas e universidades de comunicação social e jornalismo.
Autor de Vários Livros como:
O Perfil do Poder (1981); Senhoras e Senhores
(1992); Brasil de Castello a Fernandos (1996); Poder, Gloria e Solidão (2002),
Iluminada Capital (2003) e Corpo e Alma (2006).
Ganhou o premio: Word Press Photo do
Museu Van Gogh em Amsterdã, na Holanda, em 1979, na categoria de seqüência fotográfica;
11 Prêmios Abril de 1983 a 1987, foi
considerado: Hors Concours.
Ganhou a Bolsa da fundação VITAE de
Fotografia de São Paulo em 1989, um importante premio na área de fotografia.
Premio da 1ª Bienal de fotografia do
Museu de Arte de São Paulo – MASP e da Bienal Internacional de fotografia de
Curitiba.
Tem fotografias no acervo de colecionadores
institucionais e privados como:
Coleção Pirelli, Museu de Arte de São
Paulo – MASP;
Museu de Arte Moderna – MAN, tanto o de
SP e do RJ;
Instituto Moreira Salles;
Enciclopédia de Artes Visuais do
Instituto Cultural Itau;
Museu Georges Pompidou em Paris.
Fez exposições individuais como: “Um
Sonho Intenso”, no MASP em SP;
Museu da Republica no Palácio do
Catete, no RJ;
Teatro Nacional de Brasília e em outras
Capitais do País;
Alem de na Federação das Indústrias em
Belo Horizonte;
Galeria Caixa em Curitiba;
Apresentou: “Fotografia é Historia”.
Participou de mais de 40 exibições
coletivas no Brasil e no Exterior.
Atualmente esta trabalhando em 3 outros
livros, simultaneamente.
Das
fotografias
Miguel
Arrais - A volta do exílio
Durante o regime militar que dirigia o Brasil em
1964 ate 1985, havia um clamor pela volta de lideres políticos que foram
forçados a buscar exílio no Exterior. Com a Lei de Anistia foi sancionada em
Agosto de 1979, o direito de retornar para o Brasil personagens políticos.
Dentre eles estava Miguel Arrais, que fora
deposto do cargo de Governador de Pernambuco em 1964; Preso em uma cela do IV
Exercito em Recife, depois por 11 meses na ilha de Fernando de Noronha e na
Fortaleza de Santa Cruz também no RJ.
Por medida de um habeas-corpus do Supremo
Tribunal Federal, conseguiu asilo na Argélia, acusado de subversão e condenado
à revelia pela Justiça Militar Pernambucana.
“De volta ao Brasil, foi ovacionado por uma
multidão de 50 mil pessoas em seu desembarque. Para retomar a vida pública,
doutor Miguel Arrais de Alencar fez várias viagens pelo País, voltou a fixar
residência em Recife e, sobretudo, manteve contato com líderes da oposição.
Pois
foi durante um encontro com Ulysses Guimarães, que fiz essa foto aí para a
Veja, revista para a qual eu trabalhava. Observei-o observando o movimento da
rua, olhando pela janela do apartamento onde morava doutor Ulysses, então presidente
do PMDB. Achei muito significativa a ocasião: parecia apreensivo, ainda
temeroso. Deixava para trás os anos de chumbo e, agora com as luzes da
democracia, mostrava novamente sua face. Ao retomar a carreia na política,
elegeu-se duas vezes deputado federal e governador.
Arrais,
cearense de nascimento, faleceu em 2005, aos 89 anos. O Palácio das Princesas,
que ele habitou em três ocasiões, foi também ocupado por neto Eduardo Campos,
falecido num acidente aéreo em Santos, em agosto do ano passado, durante a
campanha para Presidente da República.”
Festival de cinema – Leila, Ruy e Ana
Em 1970,
as atrizes: Leila Diniz e Ana Maria Magalhães junto com o diretor Ruy Guerra
são premiados no Festival de Cinema de Brasilia com o filme: “Os deuses e os mortos”.
“O Brasil vivia um período sombrio de sua
história, com os direitos democráticos restritos, tortura a presos políticos e
censura à imprensa. O Festival de Brasília era um dos raros espaços para
debates e contestação ao regime militar”.
“A primeira vez que cobri o festival foi em
1967, quando o grande vencedor do Troféu Candango foi o longa-metragem “Proezas
do Satanás na Vila do Leva e Traz”, de Paulo Gil Soares. Eram raros os eventos
culturais em Brasília naquela época e o festival era agenda que ninguém queria
perder. No meu caso – um jovem de 17 anos começando no jornalismo no diário
carioca Última Hora – era uma oportunidade de fotografar personagens bem
diferentes dia-a-dia do poder e que tinha como cenário de trabalho, o Palácio
do Planalto e o Congresso.
Em
1969, Rogério Sganzerla ganhou a estatueta do Candanguinho, com “Bandido da Luz
Vermelha”. No ano seguinte, o vencedor foi “Memórias de Helena”, de Davi Neves.
Em 1970 estava novamente no Cine Brasília para cobrir o festival. À noite, fui
fotografar a movimentação dos diretores, atrizes e atores antes da sessão de
projeção dos filmes. Mas sabia que dificilmente uma imagem formal da festa iria
chamar a atenção dos leitores. Por isso, na manhã seguinte, resolvi ir ao
quartel-general dos artistas, o Hotel Nacional. Por volta das dez horas,
surpreendi-me ao ver essa cena aí, de Leila Diniz, Ana Maria Magalhães e Ruy
Guerra bem à vontade na piscina, sob o sol da Capital”
Estação
Primeira de Mangueira
- Jamelão
José
Bispo Clementino do Santos, o cantor Jamelão. Nascido em 1913 e falecido em
2008.
A vaidosa
“Pequenos
detalhes”, 2013
Bike – Diário da
Republica
Presidente
Dilma Rousseff em sua pedalada matinal - Palácio Alvorada, 17 de junho de 2015
Contra-luz
– O Anjo Triste
Escultura
de Alfredo Cescchiati, no Salão Verde da Câmara dos Deputados - Agosto de 2015
Mergulho
- Da série “Voltando no tempo”
Fernando Collor de Mello, presidente da República. Brasília, 1990 - Do livro Poder, Glória e Solidão, de 2006
O Sonho
- Da série “Enxergando o País de perto”
“O
Sonho” - Praia de Beberibe, 2000 (Do livro Corpo e Alma, de 2006)
O poder feminino - Ministra Zélia, princesa Isabel e presidente Dilma
Reunião
do alto empresariado brasileiro com a economista paulistana Zélia Cardoso de
Mello, titular do Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento no governo
Fernando Collor entre 15 de março de 1990 e 10 de maio de 1991.
“Duas grandes surpresas marcaram a posse de
Fernando Collor quando assumiu a Presidência da República. A primeira foi a
escolha de uma mulher para conduzir a economia do País. Isso, Zélia Maria
Cardoso de Mello passava a comandar a pasta da Fazenda. A segunda, o confisco
pelo governo dos investimentos dos brasileiros na caderneta de poupança. Essa
dupla novidade atraiu a atenção do noticiário não somente para o Palácio, mas
também para a Esplanada dos Ministérios. Eu mesmo, à época fotógrafo de uma
revista de São Paulo, passei a cobrir o principal gabinete do Planalto, mas
também o da doutora Zélia.
Essa foto bem demonstra o poder
e a relevância que tinha a ministra Zélia Cardoso de Mello. Na reunião em uma
sala contígua à do Conselho Monetário Nacional, o olhar dos mais importantes
empresários do Brasil voltam-se para ela, única mulher presente ao encontro,
sentada à cabeceira da mesa.
A passagem de Zélia pelo
governo durou catorze meses e ficou marcada não somente pelo confisco poupança
de milhões de mutuários, mas também pela redução das alíquotas de importação e
a redução dos altos níveis de inflação. Depois que deixou o ministério de
Collor, casou-se com o humorista Chico Anísio – falecido em março de 2012 –,
com quem teve dois filhos. Atualmente reside em Nova Iorque, onde dirige seu
próprio escritório de assessoria.
Portanto, antes de Dilma Vana
Rousseff eleger-se presidente, a mulher que mais deteve poder na história do
Brasil foi a ministra Zélia Maria Cardoso de Mello, aos 36 anos de idade.
Não custa lembrar a existência
de outra brasileira de total prestígio de nossa história: a princesa Isabel. A
Lei Áurea, que põe fim à escravidão, leva sua assinatura. O decreto mudou
fundamentalmente o destino do povo. Era filha de Dom Pedro II e casada do o
Conde D’Eu. Foi também a primeira senadora do país. “Só uma curiosidade sobre
Sua Majestade Imperial, Dona Isabel I, Imperatriz Constitucional e Defensora
Perpétua do Brasil: seu nome completo era Isabel Cristina Leopoldina Augusta
Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon”.
Dezembro de 2006 - Lula da Silva e Hugo Chávez, então presidentes do Brasil
e da Venezuela
Parlatório
do Palácio do Planalto. 07 de dezembro de 2006.
O Rei
- Pelé
Pelé, 2013
BUROCRACIA E SEGURANÇA - Seis homens e um prego
“O que poderia ser apenas uma cena comum e
insólita no andar térreo do Palácio do Planalto, na verdade revela uma doença
eterna e incurável das repartições públicas brasileiras: a burocracia.
Ainda mais quando vem acompanhada do excessivo
cuidado com a segurança. Repare nessa foto. Parece brincadeira, mas é
realidade: o primeiro funcionário vigia o segundo, que observa o terceiro, que
toma conta do quarto. O quinto monta sentinela ou, muito provavelmente procura
por outro, enquanto o sexto homem cumpre a simples tarefa de colocar um pequeno
prego na parede”.
Lisboeta
- Cartas para Saramago
O escritor português José Saramago recebe as
correspondências que chegam a seu endereço de Lisboa. Lisboa, 1993
“Fui a Portugal fazer com Luís Costa Pinto
várias matérias para a Veja. Uma delas, com o Saramago. Ele resolvera mudar-se
para Lanzarote, uma das ilhas Canárias, depois que seu livro “O Evangelho
Segundo Jesus Cristo” foi censurado em seu próprio país, em 1991.
Ao lado da mulher espanhola Maria Del Pilar,
dizia ter encontrado o lugar ideal para meditar e escrever. Não tirou o pé de
lá durante meses. Mas sempre voltava a Lisboa para principalmente atualizar e
conferir a correspondência. Afinal, um ganhador do prêmio Nobel de Literatura
recebe mensagens de admiradores e amigos de todo o mundo.
O carteiro já sabia que dificilmente encontraria
o famoso destinatário e por isso confiava as cartas ao dono da singela quitanda
do Mascote, vizinha do modesto apartamento de Saramago, na Rua dos Ferreiros,
número 36, no Bairro da Estrela, um dos mais tradicionais da agradável da
capital portuguesa.
Saramago faleceu em 2010, aos 78 anos”.
Ex
presidente, ex governador, ex senador Itamar Franco.
Direto da Bahia
As
baianinhas do Pelô. 2006
Girando pelo mundo
Strauss
Platz. Viena, 1997
Diário da República
Conflito,
populares vc. polícia. 2010
Livre criação, 25
Lula, 2005
Palácio do Planalto,
entrevista coletiva do presidente Luís Inácio da Silva. 2005
Pinochet e Figueiredo
Os generais João Figueiredo e Augusto Pinochet
no passeio de charrete num quartel de Santiago, durante visita presidencial.
“Lembre-se de que vários brasileiros se exilaram
no Chile, fugindo do regime militar instalado no Brasil em 1964. Mas, com a
queda de Allende, tiveram que buscar asilo em outros países. Tempos brabos
vivia o povo chileno, de ditadura. Nenhum chefe de Estado visitava Pinochet.
Mas Figueiredo resolveu ir a Santiago.
Mesmo tendo como objetivo fazer cobertura da
visita presidencial, alguns jornalistas brasileiros tiveram problemas com a
força militar. Eu mesmo fui detido na Praça da Constituição quando fotografava
o palácio La Moneda, ainda com as paredes cheias de furos das balas, marcas do
conflito da tomada do poder, em 11 de setembro de 1973. Foi preciso
interferência de um diplomata do Itamaraty para me soltar.
À noite, seis colegas repórteres fomos a um
restaurante frequentado por políticos, que funcionava nos fundos do edifício do
Congresso, posto em recesso. Nem demos importância ao “toque de queda”, ou
seja, à obrigatoriedade de voltar para o hotel antes das 22h. Na verdade,
estávamos acostumados com tempos mais amenos no Brasil, com o processo de
redemocratização iniciado pelo general Ernesto Geisel e seguido por Figueiredo.
Não deu outra. O exército chileno chegou e encrencou com todo mundo. Com
Roberto Stefanelli, Ricardo Pedreira, Álvaro Pereira, Emerson Souza, Flávio
Salles e comigo. Só fomos liberados depois de convencermos o comandante do
pelotão que nos levar para um quartel seria motivo de reportagens mundo afora e
que isto não ficaria bem para a “democracia” de Pinochet”.
Livre criação – 12
O começo da agonia - Doutor Tancredo Neves
Em 1985 o Brasil viveu um dos momentos mais
tensos de sua história. Na véspera de 15 março, dia em que tomaria posse como
presidente da República, Tancredo Neves teve de ser internado às pressas no
Hospital Distrital de Brasília.
Doutor Tancredo foi eleito pelo voto indireto no
colégio eleitoral em 15 de janeiro, dez dias após completar 75 anos. Empresário
e advogado, ex-deputado, ex-ministro, ex-senador e ex-governador de Minas
Gerais, contraiu uma infecção no divertículo, mal que acabou por tirar sua vida,
em 21 de abril de 1985, depois de 38 dias de agonia. Em seu lugar, tomou posse
o vice José Sarney.
“Tantos anos no front da notícia, perdi o número
de vezes em que o sofrimento foi o alvo de meu trabalho. Mas tenho certeza de
que uma das coberturas mais angustiantes foi aquela, dos momentos que
precederam a morte do doutor Tancredo. Não somente pelas circunstâncias
humanitárias, mas também pelo caráter político de seu significado. Era, aliás,
um sentimento de todos os interessados na normalização da vida democrática do
País, após vinte e um anos de regime militar. O temor era de que a esperança de
ver um civil na principal cadeira do Palácio do Planalto também fosse para a
UTI.
Fico cada vez mais impressionado com o poder de
premonição que uma fotografia jornalística contém. Sempre digo que, na verdade,
elas têm maior capacidade de se referir ao futuro que simplesmente retratar uma
mera situação acontecida. Dois dias antes da missa a que comparecera no
Santuário Dom Bosco em ação de graças pelo mandato que brevemente se iniciaria,
fiz para a revista Veja essa foto aí.
Tancredo era um dos vários personagens
importantes da minha área de cobertura, a seara do poder. Durante duas décadas,
praticamente todas as semanas o fotografava. E no ano anterior, então, mais
ainda, porque era um dos democratas que subiram com Ulysses Guimarães ao
palanque nos comícios do movimento Diretas-Já. Eu era bem familiarizado com sua
imagem, portanto. Naquela tarde-noite na igreja, achei estranho seu exagerado
silêncio. E, sobretudo, esse gesto de dor, que jamais eu o tinha visto fazer.
Não podia imaginar, porém, que representava o início de sua agonia”.
A face da crise
- Presidente Dilma Rousseff
Entrevista
no Palácio do Planalto - 9 de março de 2015
Diário da República - A posse
Presidente
Dilma Rousseff deixa a rampa do Planalto e entra no Palácio para receber
cumprimentos dos convidados por seu segundo mandato.
FOTOGRAFIA É HISTÓRIA - Abril de
1977
Ulysses Guimarães, nascido na pequenina cidade de Itirapina, perto
de Rio Claro, em São Paulo. Deputado federal por onze mandatos consecutivos.
Advogado e professor. Democrata. Torcedor do Santos. Ministro da Indústria e
Comércio nos anos de 1961 e 1962. Um dos fundadores do MDB, foi o destacado
condutor da oposição contra o regime militar. Faleceu em 12 de outubro de 1992
a bordo de um helicóptero na Baía de Angra dos Reis. Seu corpo jamais foi
encontrado.
“Em outubro do próximo ano, 140 milhões de brasileiros irão às
urnas para escolher o futuro presidente da República, não custa lembrar que um
dos principais responsáveis pela reconquista desse direito democrático foi
o Doutor Ulysses Guimarães.
Talvez ele tenha sido o personagem mais expressivo que encontrei
em toda minha trajetória de foto-jornalista. Impressionante como sua fisionomia
refletia a gravidade de cada momento. Esse aí foi no dia em que o governo
fechou o Congresso, em 1977. Sempre digo que Ulysses não era uma simples
imagem. Era a efígie de um grande líder”.
Fotografia é História - Composição político-militar
Soldado monta guarda em frente ao edifício do
Congresso Nacional fechado dias antes, 13 de dezembro de 1968, com a edição do
Ato Institucional Número Cinco, assinado pelo então presidente da República,
marechal Costa e Silva. O AI-5 fechava o Congresso Nacional, as assembleias
legislativas dos estados e as câmaras municipais de todo o País. Cassava o
mandato de dezenas de parlamentares, inclusive o do ex-presidente Juscelino
Kubitschek. O decreto também suspendia o direito de habeas-corpus nos processos
considerados de caráter político.
O Ato Institucional Número Cinco estabelecia
ainda a censura prévia à imprensa, às peças de teatro, aos livros e à música. E
mais, proibia várias liberdades, entre elas a reunião dos cidadãos.
“Com a Revolução de 1964, com a subida dos
militares da chamada linha-dura ao poder, as liberdades democráticas foram
gradativamente suprimidas. Mas em 13 de dezembro de 1968, a força do governo
chegou ao cume. Pôs em recesso o Congresso Nacional, com a edição do AI-5. O
regime político se transformara em ditadura. Era uma realidade que eu precisava
representar com uma fotografia.
Foi
quando encontrei esta cena aí, que bem representa a face daquela crise
política: os coturnos de um soldado compondo o desenho do Congresso com as
cúpulas da Câmara e do Senado. Somente dez anos depois, em 1978 – quando o
presidente Ernesto Geisel botou em curso o processo de abertura política – o
AI-5 foi extinto”.
Fotografia é História - Diário da República - Ouvir e sair
A noite de sexta feira 13 de dezembro de 1968
ficou marcada como um dos momentos mais sombrios para a democracia brasileira,
considerada uma das mais duras medidas do regime militar que governou o Brasil
de 1964 a 1985. O governo do marechal Costa e Silva decretava o AI-5, que
fechava o Congresso Nacional, as assembleias legislativas dos estados e as
câmaras municipais de todo o País. Cassava o mandato de dezenas de
parlamentares, inclusive o do ex-presidente Juscelino Kubitschek. Também
suspendia o direito de habeas-corpus nos processos considerados de caráter
político.
O Ato Institucional Número Cinco estabelecia
ainda a censura prévia à imprensa, às peças de teatro, aos livros e à música. E
mais, proibia várias liberdades, entre elas a reunião dos cidadãos.
Câmara e Senado Federal só foram reabertos dez
meses depois para referendar, em eleição indireta, a escolha do novo presidente
da República, o general Garrastazú Médici no lugar de Costa e Silva, acometido
por uma embolia cerebral. O AI-5 só foi revogado dez anos depois, quando o
general Ernesto Geisel ocupava a Presidência da República e facultou o projeto
de distensão democrática e reabertura política.
“Eu era um jovem fotógrafo a cobrir para O
Globo os assuntos da política. Vi pela movimentação dos jornalistas veteranos
que a notícia estava na Presidência da República, mas seu efeito se mostraria
no Congresso. Atravessei o Eixo Monumental N-1, a avenida que separa o Planalto
da Câmara dos Deputados e Senado Federal. No Palácio não havia nenhuma foto a ser
feita, a não ser a de um contínuo aborrecido distribuindo aos repórteres as
cópias do tal decreto presidencial.
Ao
chegar ao Congresso, constatei que eu estava certo. Numa salinha do térreo –
próxima ao plenário e abarrotada de senhores atônitos, cabisbaixos, em silêncio
– consegui fotografar alguns parlamentares de ouvidos atentos a um rádio de
pilhas. Chegava pelo ar a intervenção na Constituição anunciada pelo então
ministro da Justiça, Gama e Silva.
Entre
eles estavam os presidentes da Câmara, da Comissão de Justiça e o líder do
governo, Zezinho Bonifácio, Djalma Marinho e Geraldo Freyre, além de
jornalistas e alguns funcionários. Ao fim da audição radiofônica, todos tiveram
de abandonar o edifício do Congresso.
Nem
sei como consegui estar naquele cenário em um momento tão cheio de “não pode”.
É verdade que as fotos não são nenhum exemplo de capricho estético. Mas
retratam esse momento dramático da história. Ainda assim, apesar do caráter
documental que elas contêm, nenhuma delas pode ser publicada. A censura já
estava em vigor”.
Fotografia é História - Diário da República - Adeus, Simon
Interessante como a profissão de jornalista nos
coloca diante de situações as mais comoventes. No meu caso, que sou fotógrafo,
isto acontece com maior intensidade porque o contato visual e a necessária
presença diante de um fato e personagens é imperiosa, essencial.
“Pois bem, na tarde do dia 10 de dezembro, fui
ao plenário do Senado fotografar um acontecimento que, aparentemente, não iria
produzir grandes emoções. Me refiro ao discurso de despedida do senador Pedro
Simon, do Rio Grande Sul. Simon subia à tribuna para dirigir-se aos presentes e
ao povo brasileiro. Estava ali para dar adeus à sua longa vida pública”.
Pedro Simon entrou para a política quando era
ainda um jovem advogado de 28 anos que se elegia vereador em sua cidade natal,
Caxias do Sul. Sua marcante atuação na câmara municipal o levou a uma cadeira
de deputado estadual por quatro mandatos consecutivos em Porto Alegre. Em 1978,
no PMDB, Simon desembarcou na Capital Federal, escolhido senador pelos gaúchos.
De lá, até àquela tarde, não passou um dia sem mandato.
O Brasil vivia o fim de uma década movimentada e
conturbada na política. Ainda governado pelo regime militar, o País clamava nas
ruas tempos de maior liberdade. E Simon chegou para engrossar um time de
deputados e senadores que lideravam esse sentimento: Ulysses Guimarães,
Tancredo Neves, Paulo Brossard, Marcos Freire, Jarbas Vasconcellos, Fernando
Lyra, Teotônio Villela, Lisâneas Maciel, entre outros democratas.
Era grande a luta para que o Brasil voltasse a
reconquistar a normalidade democrática. O general Ernesto Geisel punha em
prática sua política de abertura, antes de passar a presidência da República a
seu sucessor, João Figueiredo. Eu mesmo, à época fotógrafo do jornal O Globo e
depois da revista Veja, cobri de perto os principais movimentos da politica. No
Palácio do Planalto, o lado da situação estabelecida pelo golpe militar, em
1964. No Congresso Nacional, a oposição incansável dos políticos. Simon era um
dos destaques.
Peregrinos da liberdade.
Nem sei quantas vezes fotografei, Brasil a
dentro, os comícios do movimento Diretas-Já e as reuniões que exigiam o fim das
torturas, da censura, da anistia aos exilados e da instalação de uma nova
assembléia constituinte. Realmente não sei o número de fotos que fiz desses
temas. Mas sei que praticamente todas contam com a presença firme de Pedro
Simon, ao lado dos líderes Ulysses e Tancredo.
Durante esses quase cinqüenta anos eu acompanhei
e retratei a história do poder no Brasil, vi de perto e tive a primazia de
documentar momentos de extrema emoção, importantes na vida da nação. É raro,
porém, a foto em que não aparece a singela e ao mesmo tempo imponente, figura
do senador Pedro Simon. O certo é que Simon estava na tribuna, a falar e
despedir-se da vida pública, iniciada seis décadas antes. No plenário, somente
parlamentares mais amigos. Por exemplo, Jarbas Vasconcellos, Luiz Henrique,
Aécio Neves, Eduardo Suplicy, Álvaro Dias.
O ex-presidente José Sarney é um exímio orador.
Certa vez em um discurso fez uma citação de um dos seus autores prediletos, o
Padre Antônio Vieira. Chamou-me a atenção por ver meu ofício de fotógrafo
incluído em seu pensamento. Em um dos seus sermões, o Padre Vieira dizia:
-
Deus, quando criou a figura humana, deu-lhes os olhos para principal função:
enxergar. Perceber, sentir e emocionar-se com as coisas existentes. Mas,
depois, acrescentou a possibilidade de chorar. Porque chorar é a maneira de a
alma expressar seu mais puro sentimento.
No dia 10 de dezembro de 2014, pois, eu estava
nas galerias do plenário do Senado com meu olhar atento a um personagem
familiarizado com a história do Brasil, e com meu testemunho. Era Pedro Simon
em seu momento final como parlamentar, em seu derradeiro discurso, dava sua
palavra de despedida. A última vez que subia à tribuna do Parlamento. A bancada
de senadores a ouvi-lo era mínima. Somente fieis amigos e companheiros de eras
outras lá estavam para ouvi-lo, aparteá-lo, aplaudi-lo.
Ao final do seu discurso, percebi que o velho
senador – tão bravo e destemido, forte e corajoso, que eu mesmo fotografara no
front de muitas batalhas em defesa de causas tão nobres, de quem eu fizera mil
fotos com seus colegas democratas – dessa vez cedia à sua própria emoção. Não
conteve as lágrimas. Confesso que meus olhos, tão acostumados à função de perceber
com frieza o decorrer dos fatos e a presenciar com isenção tantos lances da
história, dessa vez também cederam à função a que se referia o sábio Padre
Vieira.
Não somente a presença de Pedro Simon, agora com
84 anos, me emocionou. Perto de terminar sua oração, reparei que, bem pertinho
de onde eu estava, nas galerias superiores do plenário, um grupo de colegiais o
aplaudia calorosamente. Eram 27 jovens de uma escola brasiliense. Alunos,
meninos e meninas do ensino médio. Perguntei-lhes a razão de sua presença ali.
Ouvi de um deles:
-
Soubemos pela mídia que o senador Pedro Simon faria hoje seu último discurso.
Convencemos nosso professor de história a nos trazer para presenciarmos um
momento tão significante, de um homem de conduta exemplar e honrado. Coisa rara
na política. Sujeito íntegro, de conduta irrepreensível, que jamais teve um
escândalo a manchar sua biografia…
Bem, mais uma vez fiquei emocionado e resolvi
deixar o cenário do fato para seguir para outra pauta do meu dia-a-dia do poder.
Enquanto conferia em minha câmara as imagens que havia feito, caminhava em
silêncio, deixando as galerias. Mas podia ouvir ao longe o aparte de um jovem
senador:
-
Pedro Simon é um dos mais bem qualificados homens públicos do Brasil. Deveria
fazer uma nova peregrinação pelo País para dizer da decência, da simplicidade,
da seriedade, da humildade, da compostura, ética, dignidade…
Maestro
- Tom Jobim
Eu era editor da Veja,
em São Paulo, e a revista tinha uma reportagem de capa com o maestro Antonio
Carlos Brasileiro de Almeida Jobim.A matéria estava resolvida com as fotos que
tínhamos, mas faltava o essencial, justamente a imagem que iria para a capa. Elio
Gaspari, nosso diretor-de-redação queria uma fotografia fora do convencional,
que chamasse a atenção do leitor logo no primeiro contato com a revista, ou
seja, a capa. Disse-me:
-
Ouse, meu caro, seja ousado.
Então
liguei para o Flávio Pinheiro, o chefe da sucursal da Veja no Rio. E pedi-lhe
propusesse ao Tom que posasse para nós em Ipanema. O maestro aceitou. Pedimos
que fosse bem cedinho, por volta das sete da matina, para evitar um enxame de
pessoas a vê-lo. Para nossa surpresa, Tom disse sim novamente. Só me restou
voar às pressas de Sampa para o Rio.
Providenciou-se
o aluguel de um piano, esse ai, e o levamos para o Arpoador. Levamos não, seis
carregadores o suportaram nas costas.
O
sol brilhante conspirou a nosso favor. E pouco antes das sete da matina lá
estava Antonio Carlos, tal e qual havíamos sonhado.
Enquanto
eu fazia as fotos, Tom tocou várias músicas. Várias, “O samba do avião”,
“Garota de Ipanema” e outras mais. A certa altura, o senti com uma certa
timidez ou desconforto. Eu mesmo achava a cena um tanto ousada para um sujeito
tão contido quanto Tom. Ao percebê-lo encabulado, aproximei-me. E tivemos o
seguinte diálogo:
-
Qual é mesmo sua graça?, perguntou-me
-
Brito, Orlando Brito, respondi-lhe.
-
Brito, Orlando Brito, eu não sou o …, disse-me baixinho. (Não vou dizer nome do
pianista famoso por delicadeza e respeito ao Tom e ao próprio artista citado)
-
Tom, Tom Jobim, confie em mim. Creia no meu bom gosto. Não vou lhe transformar
em Fulano de Tal, lhe assegurei.
E
seguimos fotografando. Não durou muito, uns quinze ou vinte minutos, talvez. Ao
final, quando dei o trabalho por completo, agradeci. Ele se levantou do
banquinho e preparou-se para tomar seu carro, um Voyage creme. Mas antes de
deixar a praia, voltou ao piano e disse:
- Faltou uma canção.
E olha que “Manhã de carnaval”, nem é de sua autoria. É composição de Luiz Bonfá e Antonio Maria.
Quanto
terminou, levantou-se, deu uma piscadinha para um grupo de jovens senhoras que
observava a cena da calçada, entrou no seu automóvel de cor creme, colocou um
chapéu de palhinha e saiu, devagarinho, ele mesmo dirigindo.
Acho
que gostou, porque na segunda feira-seguinte, quando viu a revista telefonou
para nós na Veja e agradeceu. Nem acreditei que Tom Jobim fosse ter lembrança
para isto. Teve.
Bem,
esqueci-me de dizer que esta foto aí não é a escolhida para a capa da revista.
É uma sobra.
Palco iluminado
- Silvio Caldas
Os românticos da música polemizam sobre qual o
mais belo verso da música brasileira. Se “a lua furando nosso zinco salpicava
de estrelas nosso chão. E tu pisavas nos astros, distraída” ou se “nos seus
olhos eu suponho, que o sol num dourado sonho, vai claridade buscar”. Para
Silvio Caldas não importava. Até porque tanto em “Chão de Estrelas” quanto em
“A Deusa da Minha Rua” estavam nas canções de seu repertório, cantado durante
sua carreira de oitenta e tantos anos de artista.
Silvio nasceu no Rio, em 1908. O pai tinha uma
oficina de consertar instrumentos musicais, além de ser afinador de pianos.
Antes de ficar famoso, foi leiteiro, estivador, garimpeiro, mecânico. Subiu num
palco para cantar pela primeira vez ainda menino e só parou em 1998, quando
faleceu. Foi um dos reis da chamada Era do Rádio, com Emilinha Borba, Nelson
Gonçalves, Carmem Costa, Orlando Silva, Marlene. Gravou melodias de Noel,
Pixinguinha, Chico Buarque, Ary Barroso, Lamartine, Tom Jobim, Braguinha,
Roberto Carlos, Caymmi, Adoniran, Dolores, Antonio Maria e demais compositores
qualificados. Dentre os tantos sucessos, o maior é “Chão de Estrelas”, que fez
em parceria com Orestes Barbosa. Nunca faltava em seus shows.
“Era minha decisão: sem a foto de Silvio
Caldas, eu não faria “Senhoras e Senhores”, o livro com oitentões consagrados
do Brasil, que a bolsa Vitae e a sensibilidade do amigo Jack Corrêa
possibilitaram-me publicar. Cheguei ao sítio de Atibaia, onde Silvio morava,
por volta das 11 da manhã. Acompanhado da mulher Camila, quarenta anos mais
jovem, e do menino Roberto, o filho mais novo, levou-me para ver a plantação de
frutas e flores, que ele mesmo cuidava.
Era a arma que usava para melhorar o estado de
espírito, combater o fantasma da depressão e lembrar-se dos melhores momentos
de sua vida. Sentia-se vitorioso aos 84 anos. Afinal, disse-me, havia
sobrevivido a duas Guerras Mundiais, revoluções, perseguições e visto acontecer
duas epidemias que sacrificaram milhares de vidas, a gripe espanhola e a AIDS.
Na hora da foto, escolhi a posição do pano vermelho que ilustra todas as
imagens de “Senhoras e Senhores”. Ele fez questão de posar com violão que
ganhara do presidente JK, após uma seresta em Diamantina.
Meses depois, na noite de autógrafos, em
Brasília – trouxemos também para a festa o palhaço Carequinha, outro personagem
do livro –, vi Silvio Caldas, contando histórias e cantarolando para um grupo
de convidados o maior de seus sucessos. Recordei-me de quando lhe indaguei em
Atibaia sobre os três melhores momentos de sua vida: - As batalhas de confete
dos velhos carnavais, os papos com Ary Barroso e toda vez que cantava “Chão de
Estrelas”.
POPULAÇÃO - Basta um close
Em breve, o Brasil deverá conhecer o resultado
do novo censo populacional feito pelo IBGE. Segundo as estatísticas. há em
nosso país em torno de 20 milhões de idosos.
“Como diz um velho ditado chinês, o conjunto
é o resultado de uma infinidade de detalhes. Quando parte para uma matéria, um
fotógrafo sabe que é importante retratar cada personagem dentro do ambiente em
que este vive. São referências visuais, informações que completarão aquilo que
dirá o texto do repórter.
Em 1994 o Nordeste sofria uma das freqüentes
secas. Viajei durante trinta dias para a Bahia, Ceará, Pernambuco e Piauí,
estados onde a situação era mais grave. Minha função era ilustrar com
fotografias as matérias de Elio Gaspari para a Folha de São Paulo, Zero Hora e
O Globo. Rodamos em torno de dez mil quilômetros. Era uma região que eu já
conhecia bastante, de outras vezes em que fui fazer reportagens para Veja,
Jornal do Brasil e para o próprio Globo.
No caso dessa cearense de quase cem anos de
idade, porém, não senti a necessidade de acrescentar outros elementos que
“falassem” de sua condição de vida. Dispensei o conjunto, optando pelo detalhe.
Achei que um close era suficiente para complementar a descrição de Elio sobre a
parede da casa que ela habitava”.
CONTINENTE - A ilha
Toda imagem representa algo, comunica uma idéia,
tem alguma coisa a dizer.
Como foi – Dia
desses, enquanto meu avião não decolava e ainda estava autorizado o uso de
notebooks e tablets antes do vôo, resolvi fazer um giro pela Internet,
preencher o atraso no aeroporto com algo produtivo. Acabei parando numa página
da WWW que recordava um trecho da obra do poeta inglês John Donne, do século
dezesseis. Sua poesia inspirou o escritor Ernest Hemingway, quando escreveu o
livro “Por Quem os Sinos Dobram”:
- Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo;
cada homem é uma parte do continente, parte do todo.
Três ou quatro horas depois, eu estava
caminhando na orla de João Pessoa observando a beleza do Atlântico na Paraíba e
com a citação que lera pouco antes fixa em minha memória. Foi quando me deparei
com essa cena aí, o gordinho solitário isolado e absorto na pequena piscina
cercada de pedras que maré baixa construiu. Enquanto fazia a foto, sorria
satisfeito com a coincidência do que estava vendo com os escritos da
literatura.
Canudos, Bahia
- Lendário João Botão
A Revolta de Canudos é a mais sangrenta página
da história do Brasil. Nos fins do século dezenove, o beato Antônio Conselheiro
arrebanhou uma multidão de miseráveis que o seguiram pelo sertão ouvindo suas
pregações contra a República, novo regime de governo recém instalado no país.
Foram necessárias quatro expedições do Exército para sufocar de vez o movimento
liderado pelo peregrino nascido no Ceará.
Há controvérsias sobre o número preciso de
mortos, mas estima-se que ao final dos combates em torno de 40 mil soldados e
conselheiristas perderam a vida. João Botão foi um dos raríssimos
sobreviventes. À época era ainda um menino e viu de perto o sofrimento daquela
guerra tão bem contada em detalhes por Euclides da Cunha em “Os Sertões”, um
dos livros mais sensacionais da literatura brasileira.
Como foi – Quem
quiser conhecer o Brasil profundamente não pode deixar de ir a Canudos. Aliás,
de uns anos para cá, a cidadezinha passou a receber visitantes de todos os
interesses. São estudantes, pesquisadores, historiadores, fotógrafos. Eu sou um
deles. Devo ter ido umas quinze vezes. Também, com um cenário daqueles e os
personagens que a gente encontra, impossível não estar sempre por lá. Os amigos
Evandro Teixeira e Antônio Olavo fazem a mesma coisa. Ambos, aliás, publicaram
magistrais livros sobre o tema. Bons, muito bons.
Na verdade, quando digo Canudos, me refiro a
toda região onde a seca pega pesado no Norte da Bahia, cenário dos combates
entre os seguidores do Conselheiro e as tropas do Exército. Vou a Bendegó,
Uauá, Crisópolis, Monte Santo, Euclides da Cunha, Quijingue, Massacará etc.
Essa foto aí, do João Botão, é parte do que
colhi durante uma viagem com Roberto Pompeu de Toledo para uma matéria de Veja,
em 1997. João Botão morreu pouco depois de completar cento e três anos. Morava
em uma pequena casa de varas cobertas por barro, ao lado de uma igrejinha que
construíra para rezar pelos pais e irmãos que morreram no conflito.
Não se encontra mais homem ou mulher que tenha
vivido na época do Conselheiro, mas há filhos e netos deles que sempre têm
histórias para contar e muitos lugares para mostrar, como o lago Cocorobó, que
serve de sepulcro para mais de trinta mil conselheiristas e soldados.
Palácio do Planalto - O sentido da rampa
Nos idos de 1984, o presidente João Figueiredo
chega ao Palácio do Planalto. A acompanhá-lo, os generais Danilo Venturini e
Golbery do Couto e Silva, além do chanceler Ramiro Saraiva Guerreiro. Mais
atrás, o diplomata-chefe do Cerimonial da Presidência e o ajudante de ordens.
Como
foi – A cerimônia de subida e descida da rampa do Planalto era, na época dos
governos militares, acontecimento contumaz. Os repórteres e fotógrafos que
cobríamos a Presidência estávamos sempre presentes a ela porque era matéria
muitas vezes publicada nos jornais.
A
rampa é peça característica da leveza dos traços da arquitetura de Oscar
Niemeyer, autor do projeto do edifício construído para sediar o Poder
Executivo. Dizia que optou por essa forma para simbolizar que as questões do
País podem chegar ao gabinete presidencial de maneira suave, sem os solavancos
dos degraus de uma escada.
A
solenidade resulta da recomendação que o então presidente Juscelino Kubitschek
fez ao protocolo da Presidência, em 1960. Era mais uma inovação de JK. Queria
despertar o caráter cívico nos visitantes da Praça dos Três Poderes, aproximar
o Chefe de Nação do povo.
Para
relembrar: Jânio Quadros e João Goulart tiverem mandatos curtos e praticamente
não puseram os pés na rampa. Já os marechais Castello Branco e Costa e Silva,
assim como os generais Emílio Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo eram
assíduos. José Sarney reduziu para uma vez por mês.
O
último presidente a cultivar esse hábito como atividade regular foi Fernando
Collor. Convidava personalidades – o campeão de Fórmula Um, Ayrton Senna, por
exemplo – para acompanhá-lo quando descia, nas sextas feiras, encerrando a
rotina de trabalho da semana. Os que o sucederam – Itamar Franco,
Fernando Henrique, Lula e, agora, Dilma Rousseff – em poucas ocasiões o
fizeram.
Para
dar colorido à festa, soldados do Batalhão da Guarda Presidencial e dos Dragões
da Independência usam uniformes de gala. Hoje, a cerimônia acontece somente
para receber visitantes ilustres de outros países que visitam o Brasil.
ALÉM DO PODER - Cena obscura
1966. Na chuvosa manhã de agosto, soldados do
Batalhão da Guarda Presidencial hasteiam a bandeira do Brasil no mastro do
Palácio do Planalto. Era uma mesma cena se repetia desde 1964.
O golpe militar que tirou do poder o então
presidente da República João Goulart completou 49 anos no domingo passado, 31
de março. Jango foi substituído pelo marechal Castello Branco. Depois de
Castello, houve uma sucessão de generais a comandar o País: Costa e Silva,
Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo.
Houve também uma junta militar, que governou de
setembro a outubro de 1969, com o afastamento de Costa e Silva. Com a Revolução
de 1964, o Brasil viria mergulhar, durante 21 anos, num clima de ditadura, com
o fechamento do Congresso Nacional, censura è imprensa e às obras de arte,
cassação de mandatos parlamentares, proibição de manifestações públicas e
prisão de pessoas consideradas contrárias ao regime.
Depois de um longo processo de distensão
política – iniciado no governo Geisel e concluído na gestão de Figueiredo –, o
Planalto voltaria às mãos de presidentes civis, com a eleição de Tancredo
Neves, em 1985.
Como foi
– Muitas vezes uma fotografia vai além da função de simplesmente
ilustrar matérias publicadas no jornal do dia seguinte, no blog de daqui um
minuto ou na revista da próxima semana. Ao invés de registrar momentos que
“morrem” no jornalismo, o fotógrafo produz documento para a história. Essa
imagem, por exemplo, bem condiz com a afirmação.
Eu
era ainda um menino, mas já cobria a Presidência da República, para o jornal
Última Hora, importante matutino carioca que não existe mais, de propriedade de
Samuel Wainer. Diariamente eu via a rotina dos soldados hasteando a bandeira do
Brasil, coisa que acontece toda vez que os presidentes chegam ao Palácio.
Naquele
dia, porém, o céu nublado contrastava com a posição do pelotão e compunha essa
imagem que reflete o período sombrio que o Brasil vivia.
Fotografia é História - Betinho, o irmão do Henfil
Hoje não sei se ainda existe, mas durante as
quase duas décadas em que trabalhei na Veja, havia uma edição para a qual os
fotógrafos da revista tínhamos que nos empenhar para ilustrá-la chamada “O
livro do ano”. A chefia da redação elegia pessoas que se destacaram durante os
doze últimos meses e as reunia numa bela publicação que ia às bancas em meados
de dezembro. Com certeza, era um trabalho aguardado com ansiedade pelos
leitores, pois se tratava de matérias produzidas com maior elaboração e
capricho, tanto nos textos que traçavam o perfil e a história de cada
personagem, quanto nas fotos estampadas geralmente em página inteira.
Quando chegava novembro, portanto, os fotógrafos
recebíamos a relação de quais nomes deveriam ser retratados. Eu,
particularmente, achava aquela tarefa em tanto interessante porque –
trabalhando o ano inteiro com fotos nas quais não podia jamais interferir,
colhidas do desenrolar dos acontecimentos – era uma oportunidade de exercer
algo raro para mim, a pose. Sempre tive como regra, fazer com que a foto
refletisse o perfil de cada personagem.
Em 1992, coube a mim retratar alguns desses
nomes escolhidos pela revista. Um deles foi Betinho, o apelido de Herbert de
Souza, personalidade importante por vários aspectos. Primeiramente por sua
opinião contra o regime militar, durante o qual teve de se exilar no Chile,
Canadá e México. Só retornou ao Brasil após a Anistia de 1979. Citado
pelos músicos João Bosco e Aldir Blanc na canção “O bêbado e a equilibrista”,
imortalizada pela cantora Elis Regina. O sociólogo mereceu versos que diziam:
“… meu Brasil, que sonha com a volta do irmão do Henfil, com tanta gente que
partiu…”. Era figura notável e respeitada por sua participação ativa na defesa
das minorias e desigualdades sociais.
Henfil, consagrado cartunista que se notabilizou
no extinto jornal O Pasquim, igualmente a seu mano Betinho sofria de hemofilia.
Por esta razão, ambos tinham que fazer sucessivas transfusões de sangue. E,
numa delas, Herbert acabou contraindo AIDS. Faleceu em agosto de 1997, aos 62
anos.
Aproveitei a presença de Betinho no Congresso
Nacional, em Brasília, para fotografá-lo. Escolhi o ambiente calmo do Salão
Negro do Senado, ambiente sóbrio e com luz adequada para o retrato de um homem
com seu perfil. Eu sabia de sua timidez e da aversão à badalação. Por isto,
quando lhe falei do intuito daquela imagem, citei o escritor colombiano Gabriel
Garcia Márquez: ”- A vida não é somente uma pose para fotografia”. Mas,
complementei, dizendo de o quanto era importante sua presença no “Livro do ano”
da revista. Foi esse aí, enfim, o clic que fiz do lendário Betinho.
MOVIMENTO - Caminhando e cantando
1969. Em frente Congresso, populares fazem
manifestação contra o governo. O presidente Costa e Silva, segundo presidente
do regime militar, é acometido por uma embolia cerebral. Impossibilitado de
governar, teve de ser afastado. Seu vice, Pedro Aleixo, era civil e foi
descartado para substituí-lo. Em seu lugar, assumia o poder uma junta militar –
composta pelo general Lira Tavares, pelo almirante Augusto Rademaker e pelo
brigadeiro Márcio de Sousa e Melo.
“Caminhando”, de autoria do compositor
pernambucano Geraldo Vandré, é uma das músicas brasileiras de maior simbolismo.
Ficou em segundo lugar no Festival Internacional da Canção, promovido pela
TV-Rio, em 1968. Mas logo em seguida, teve sua execução proibida, durante os
tempos brabos da censura, sob a alegação de que incitava a população à
resistência contra regime vigente. Ainda assim, virou hino dos chamados anos de
chumbo no Brasil.
A canção de Geraldo Vandré era cantada sempre
nas manifestações políticas. Uma dessas ocasiões foi essa aí da foto, que fiz
ao passar pelo Congresso: cerca de duas mil pessoas ocuparam a praça em frente
à cúpula da Câmara em protesto contra a subida da junta militar. Mãos
levantadas e folhetos impressos com a letra, entoavam “Prá Dizer Que Não Falei
de Flores”, o outro título da música à época proibida de ser executada nos
rádios, nas tevês ou em recintos públicos”.
Além do Poder
- Praça dos lamentos
Manifestação contra a violência na Esplanada dos
Ministérios. Brasília, 2006.
“Jornalista que cobre os fatos do poder há
muitos anos, não deixo de dar atenção a tudo que vejo no gramado em frente ao
Congresso Nacional. É, provavelmente, um dos locais que mais acolhe
manifestações democráticas em todo o mundo”.
Categorias de todos os tipos usam o espaço da
capital brasileira – também chamado de Praça do Povo – para defender suas
causas e protestar contra tudo, como as recentes passeatas da Marcha do
Vinagre, que leva até lá um sem número de jovens praticamente todos os dias. Em
outros países há também locais preferidos pelos manifestantes para o mesmo fim.
Por exemplo, o Hyde Park, em Londres, Washington Square, em Nova Iorque e a
Praça da Bastilha, em Paris. Não custa lembrar da Praça Tahrir, no Cairo, berço
da onda popular que culminou com a deposição do presidente do Egito, Mohamed
Morsi.
Em Brasília, é rara a semana em que não haja um
protesto de alguma categoria da sociedade, funcionários públicos, índios,
sem-terra, fazendeiros e agricultores, estudantes, médicos, procuradores,
policiais, desempregados, religiosos e, enfim, vozes contra e a favor do
governo, mas todas reivindicando direitos. Sem falar das caravanas organizadas
por sindicatos, que chegam a Brasília, oriundas de vários estados do País.
Autorizadas ou não pela polícia, as manifestações têm de obedecer às normas
estabelecidas pela polícia de não instalação de tapumes, arquibancadas,
palanques, tendas ou quaisquer peças que impossibilitem o acesso ou a vista do
Parlamento. Evidentemente, essa regra não é nem de longe cumprida.
Mas há também aquelas que, ao contrário de lotar
a praça de pessoas, usam o visual para comunicar suas aflições. Como essa aí,
organizada por um grupo de humanistas contra a violência. Milhares de cruzes
brancas amanheceram fincadas no grande gramado da Esplanada dos Ministérios, em
frente â Câmara e ao Senado.
MÃE TERRA - “Terra Mater”
Esta é uma das 211 fotos constantes do livro
“Corpo e Alma”, publicado em 2004. Uma viagem em preto-e-branco pelos 27
estados do Brasil.
“Um dia fui fotografar o pintor gaúcho Iberê
Camargo, em Porto Alegre. No meio da sessão, o telefone tocou. Gentilmente,
pediu-me licença e atendeu. Não sei quem era. Mas o ouvi dizer ao interlocutor
uma frase que tomei como lição: -
o depois não existe, especialmente quando se lida com imagens.
Oito anos nos depois, em 1999, eu estava no
litoral do Ceará fazendo uma reportagem sobre vacinação. Preocupado em não
atrasar a equipe de Ministério da Saúde, deixei para fazer depois uma
fotografia que viria martelar minha memória durante um mês. Um menino brincando
na praia, em total interação com a natureza. Cumprida a pauta, não retornamos
mais ao mesmo lugar. Voltei para casa com a horrível sensação de haver perdido
uma cena irrecuperável.
A TransBrasil tinha um vôo que saia de Brasília
por volta da meia noite e, depois de uma ou duas escalas, pousava em Fortaleza
antes nascer do sol. Para me livrar do fantasma da foto perdida, embarquei para
o Ceará. Aluguei um automóvel no aeroporto e ainda de manhãzinha estava em
Beberibe. Estacionei no mesmo lugar, o paredão da Praia das Fontes. Tal e qual
um mês antes, lá estava o menino em seu divertimento rotineiro. Ajudado pela
irmã menor que ele, construía pequenos montes de areia e depois observava a
orelha das ondas desfazê-los.
Por fim, correu em direção aos arrecifes.
Encolhido, deitou-se em uma das poças de água. Aqueles laguinhos miúdos e rasos
que se formam quando a maré baixa. Tal e qual eu vira quatro semanas antes. De
onde eu estava, sobre o mesmíssimo balcão de falésias, pude enfim fazer a
fotografia que deixei para depois, contrariando ao que dissera mestre Iberê
Camargo. De volta, no avião, impressionado com a imagem do garoto em forma de
embrião, resolvi dar um nome à foto. Terra Mater”.
Guimarães
- A morte de Ulysses
Em 12 de outubro de 1992 o deputado Ulysses
Guimarães morreria a bordo do helicóptero que o transportava de uma praia de
Angra dos Reis para São Paulo. Com ele, estavam dona Mora, sua mulher, e o
casal de amigos Marieta e Severo Gomes, além do comandante da aeronave Jorge
Comeratto, também falecidos. O país perdia um dos mais importantes políticos de
sua história.
“A todo momento a gente vê a velha e já gasta
discussão: uma imagem vale tanto quanto mil palavras. Discordo inteiramente.
Primeiro, acho que depende da imagem e também depende das palavras. Segundo,
não escrevo intrinsecamente sobre a foto em questão. Abordo algo que está fora
dela, as condições em que foi feita e não simplesmente uma descrição automática
da imagem. É interessante dizer dos lances inerentes ao seu conteúdo. Esta, por
exemplo, tem uma história que reputo curiosa”.
Sempre fiquei preocupado com o caráter
premonitório de algumas fotos que fiz. Mas esta de Ulysses tirou-me o sono por
várias noites. O dia 6 de outubro de 1992 foi daquelas terças feiras de pouco
movimento no Congresso. No fim da tarde, quando eu voltava para a redação de
Veja e descia a escada do Salão Verde da Câmara para o térreo, reparei que a
luz do outono brasiliense estava como sempre majestosa. O sol, na altura do
horizonte, invadia o andar térreo com uma réstia de raios cristalinos. Minha
saída coincidia com a chegada do doutor Ulysses. Ele parou em frente do
elevador privativo aos parlamentares para responder a uma pergunta do
jornalista Ivanir Bortot, à época da Gazeta Mercantil.
Do lugar onde eu estava, no contra-luz,
via a silhueta de Ulysses e Bortot, ambos contornados pelos raios de luz.
Quatro fotogramas. Confesso que o resultado da imagem me impressionou. Era
forte, não tinha a ver com a serenidade daquele momento. Seis dias depois, a
trágica notícia do desaparecimento de Ulysses. Constatada sua morte,
evidentemente, virou capa da revista. Falei com Mário Sérgio Conti,
editor-chefe àquela época, recomendando que resgatasse em São Paulo o tal
cromo. Aquela imagem que tanto me chamou a atenção foi para a capa da revista.
Depois virou monumento em uma praça de Campinas.
Por força do convívio de anos na cobertura
da política, assim como outros colegas acabei me aproximando bastante do doutor
Ulysses Guimarães. Fiquei bastante entristecido. Recebi inúmeras cartas de
leitores da revista. Uma delas trazia uma pergunta que até hoje não consegui
resposta: como se sente um jornalista diante da dor dos outros. Incrível! Essas
palavras são as que inspiram o título que a ensaísta americana Susan Sontag dá
a seu livro sobre o conflito entra a frieza e a emoção que um fotógrafo
encontra no front da notícia.
Leveza
- O poeta sereno
Mário Quintana. Nasceu em Alegrete, em 1906.
Faleceu em Porto Alegre, em 1994.
“Mário
Quintana tinha três sobrinhas. Cada uma delas destinava oito horas do dia para
acompanhá-lo. Era uma maneira de jamais deixá-lo sozinho nos momentos em que se
aproximava o fim de sua vida. Durante dois meses falei com elas por telefone
praticamente todos os dias. Torcíamos pela melhora do Mário. Fiquei ansioso à
espera do momento adequado para ir retratá-lo em Porto Alegre para o livro
“Senhoras e Senhores”.
Eu
corria contra o tempo. Primeiro, sabia do precário estado de saúde de Quintana.
Segundo, estava expirando o prazo de conclusão do meu livro. Numa sexta-feira,
enfim, eu estava no hotel onde ele morava. O poeta estava sentado à cama,
ouvindo o “Adágio”, de Albinoni. Na parede, um pôster da atriz sueca Ingrid
Bergman e uma foto dele com uma admiradora, a atriz brasileira Bruna Lombardi.
Antes de despedir-me, fiz as mesmas quatro perguntas que apresentei para os
personagens anteriores. Uma delas sobre a sensação de ultrapassar os 80 anos.
Respondeu-me:
-
A idade, meu jovem, é uma cruel invenção do calendário”.
Outra
das minhas perguntas foi: qual foi o melhor momento de sua vida?
-
Bá, tchê, pois não foi quando nasci?
Mato Grosso
- Cena Brasileira - Trio trio pif-paf
Eu viajava pelo interior do Brasil em busca de cenas e personagens
para o livro Corpo e Alma, na década de 1990.
Não deixei de ir a à pequena Santo Antônio do Leverger, perto da capital
mato-grossense de Cuiabá, porque sempre foi lugar de muitas superstições e
tradições. Há mistérios e histórias dos idos do século dezenove sobre o resgate
da imagem de um santo milagreiro que desapareceu nas águas do rio que corta a
vila. Era porto obrigatório dos bandeirantes que desbravaram o Centro-Oeste.
A tranqüila
rotina da cidade só é quebrada no carnaval porque é tomada pelos turistas que
para lá se destinam em busca de alegria no ritmo tipicamente regional da dança
do siriri. E também nos feriados, quando os jet-skies e as lanchas esportivas
movimentam o Rio Cuiabá. Porém o que mais diverte os moradores locais — gente
simples, em geral, canoeiros, vaqueiros e pequenos agricultores — são as
descontraídas partidas de pif-paf nas feiras de sábado. Vence o jogo o
competidor que conseguir montar e baixar à mesa seqüências ou trincas com as
cartas do baralho destinadas a cada um.
É o que faziam
essas três risonhas e brasileiríssimas figuraças.
Recife e Olinda
- Dom Hélder Câmara
Pelas leis do Vaticano,
todos os cardeais – com exceção daquele que se torna Papa – são obrigados a se
aposentar quando chegam à idade de 80 anos. Não foi diferente com o irrequieto
Dom Hélder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife por mais de duas décadas. Em
1990, teve de deixar para trás sua infatigável e ideológica vida religiosa.
Mudou-se do Palácio Episcopal para a pequenina Igreja das Fronteiras, na Ilha
do Leite, bairro da capital pernambucana.
Até o momento
de sua morte, em 1999, manteve a simplicidade que trouxe da infância pobre no
interior do Ceará, onde nasceu, e noutros estados do Nordeste. Mesmo quando
morou na sede da Santa Sé, em Roma, Dom Hélder não abriu mão da humildade e da
modéstia. Para ele, o mais importante não era a ostentação e sim o combate às desigualdades
sociais.
Como foi – Fui a Recife fotografar Dom Hélder
para um livro que publiquei em 1992, “Senhoras e Senhores”. Meu foco eram os
“oitentões” mais conhecidos do Brasil. E Dom Hélder era um deles, personagem
que fotografei inúmeras vezes. Agora com atividades menos atribuladas acordava
religiosamente cedo e celebrava missa, auxiliado por uma freira e um frade.
Depois, sentava-se em uma cadeira de balanço, sob a imagem de Jesus para contar
histórias e relembrar os tempos em que enfrentava o regime militar do Brasil,
de quem foi um dos seus principais contestadores.
Copa 2014 - Neymar Jr
A importância de um ídolo: o olhar do craque
para o pequeno fã. - Fim do jogo Holanda 2, Brasil O
Manif
- Protestos, protestos
Manifestação de mutuários da casa própria, em
frente ao Congresso Nacional.
“Os habitantes das capitais administrativas
de todo o mundo convivem com manifestações de vários setores da sociedade.
Também é assim em Brasília, onde praticamente todos os dias a Praça dos Três
Poderes é cenário de manifestações dos mais variados os tipos. São, por
exemplo, passeatas de motoristas de ônibus que reivindicam melhores condições
de trabalho, funcionários querendo aumento de salários, professores sonhando
com reajuste de horários, sem-terra batalhando pela reforma agrária, pacifistas
bradando contra a violência etc. etc.
Essa aí aconteceu na tarde de uma de
quina-feira, emoldurada pelo belo pôr-do-sol. Os manifestantes empunhando suas
bandeiras. Lembra o magnífico filme “O Incrível Exército de Brancaleone”,
dirigido pelo cineasta Mário Monicelli e estrelado por Vittorio Gassman, que
relata com bom humor a caminhada de um grupo de críticos cidadãos contra os
governantes na Idade Média”.
Interiores
- O Brasil às seis da tarde
Casinha
de fazenda perto de Passa Quatro, Minas Gerais.
Rodovia
que vai de Manaus para a pequena cidade de Breves, no Amazonas.
Ernesto Geisel
- A descontração do general
O general Ernesto Geisel, falecido em setembro
de 1996, chegou à Presidência da República com a fama que sempre teve: a de
durão. Era homem avesso às brincadeiras, pilhérias, piadas e chistes. De poucas
palavras, ouvia mais que falava. Ao suceder o general Garrastazú Médici no
Palácio do Planalto, demitiu os acusados da morte do jornalista Wladimir
Herzog, em São Paulo. Tinha o propósito de promover a chamada abertura
política.
E deu uma surpreendente demonstração visual
desse propósito deixando de lado sua antipatia à descontração. Durante uma
viagem a Natal, no Rio Grande Norte, o rigoroso Ernesto Geisel caminhou
tranquilamente de pela Praia dos Artistas, em frente ao Hotel dos Reis Magos,
vestindo nada mais que um short de banho.
Trabalhando no jornal O Globo, eu era o
fotógrafo designado para a cobertura da Presidência da República. Da mesma
forma que os colegas de outros jornais, viajávamos a qualquer hora para todos
os lugares. Essa visita de Geisel ao Rio Grande do Norte foi inesperada, e não
tivemos tempo de providenciar reservas de hotel. Por isto, tive que pegar
“carona” no quarto de colegas de outros jornais, os concorrentes, mas não
inimigos. O quarto era pequeno e só me coube dormir num cantinho junto à
janela, que dava frente para a praia.
Às seis da manhã, fui acordado por um dos
“donos” do apartamento assustado com o que estava vendo: o general, vestindo de
short, caminhando na praia. Inexplicavelmente, nenhum deles teve a iniciativa
de retratar o momento tão raro e simbólico. Não tive dúvida. Coloquei uma
teleobjetiva de 300 milímetros na minha inseparável Nikon e rodei dois rolos de
filmes, sem sair de onde estava, no cantinho do quarto, junto à janela.
Relatei o fato ao meu companheiro de equipe,
Merval Pereira. Ficamos com receio de – como estávamos vivendo ainda os tempos
da censura à imprensa – ter as fotos tomadas pelos seguranças.
Por volta das sete e meia, estávamos no café da
manhã no térreo do hotel, e o secretário de Imprensa do presidente, Humberto
Barreto, veio ao nosso encontro. Tememos que fosse reclamar das fotos que eu
fizera. Que nada. O que ouvimos de Humberto foi algo bem diferente. O passeio
matinal aconteceu por pura intenção. Geisel sinalizava que se despia da farda
para indicar rumos mais amenos para o futuro.
Projeto Dores
- Campanha contra a violência no trânsito
Começou a ser publicada nesta semana nas
revistas, na Internet e jornais impressos de todo o Brasil a série de fotos que
estou fazendo para a campanha contra a violência no trânsito, do
Ministério das Cidades. O projeto intitulado “Dores” tem a finalidade de, por
meio de fotografias, sensibilizar condutores de veículos a dirigir com
responsabilidade para evitar acidentes.
Evidentemente, antes de dar início ao trabalho,
eu tinha a certeza de que iria estar diante de personagens definitivamente
marcados pela dor, pelo sofrimento, pela morte, pela perda de um ente querido,
um familiar, um amigo, um conhecido.
Mesmo sendo um foto-jornalista acostumado ao
longo de anos a estar frente a frente de fatos os mais variados, de catástrofes
e tragédias, não podia imaginar iria encontrar tanto sofrimento. Entrei em
contato, através de entidades que reúnem familiares de pessoas vitimadas por
acidentes e, durante semanas me comuniquei com elas por e-mail e por telefone.
Expliquei-lhes da importância de emprestarem sua imagem em benefício da causa.
Para minha surpresa, nenhuma delas de opôs. Ao contrário, se dispuseram a posar
para uma foto expressando sua dor, sua revolta, o clamor pela punição dos
culpados.
Passei noites sem dormir e dias a fio
concentrado, preocupado em dar um conceito ao conjunto de fotos. Pedi a cada um
dos personagens – residentes em pequenas e grandes cidades de vários estados do
País – que me enviasse uma fotografia de seu familiar falecido. Mandei imprimir
a foto de todos e colocá-las num porta-retratos para estes tomarem parte da
cena.
Pensei em luz, ângulos, planos, objetivas.
Queria que o rigor estético fosse de extrema importância para conferir emoção a
cada imagem. Queria a marca do jornalismo presente em cada situação. Só não me
lembrei: nada é mais forte que o sentimento do ser humano e suas dores.
Logo na primeira sessão de fotos, o conceito e o
padrão que eu traçara caíram por terra. Perderam de longe para a realidade em
frente à minha câmara. Então, pude ver que a força das lágrimas, da
consternação, da tristeza e, enfim, da dor de cada pessoa eram imbatíveis.
Em nome de atingir meu objetivo (cada imagem
prender a atenção de quem a ver), pensei fazer fotos em preto-e-branco. A
ausência das cores poderia oferecer maior dramaticidade. Depois, refleti se
deveriam ser coloridas porque os matizes dariam maior caráter de realidade ao
drama presente. Mas, ao ouvir uma senhora que perdeu o filho adolescente, optei
pela técnica do Photoshop que reduz a força de cada cor. E o que disse-me mãe,
com palavras carregadas de consternação?
- Ao receber a notícia da morte do meu filho,
perdi a noção das distâncias, a precisão dos aromas, a delícia dos sabores e a
beleza das cores.
Indescritível a sensação de colocar meu ofício
para a finalidade de captar a aflição no seu mais alto grau. Não deixo de me
recordar do livro “Diante da dor dos outros”, da ensaísta americana Susan
Sontag, falecida em 2004. A escritora faz uma densa análise do que sente um
fotógrafo com a missão de captar a amargura do ser humano.
A
dor de Neusa e Suse
Nessa
foto, estão Suselaine Camargo e sua mãe, a senhora Neusa, moradoras de Taubaté,
em São Paulo. Há dois anos a manicure Silvia – irmã de Suselaine e filha de
Dona Neusa – perdeu a vida quando voltava de um evento religioso. Um motorista
embriagado a atingiu com seu automóvel em alta velocidade. Silvia deixou órfãos
dois filhos. O mais novo, de seis anos. O outro, de 16. E o esposo.
A forte face da dor
Grazielly
Rodrigues e dois de seus quatro filhos, moradores da cidade de Itanhadu, no Sul
de Minas Gerais. Sobre a mesa, o porta-retratos com a foto dos avós, seu
Joaquim e dona Maria Leonor, mortos por um motorista embriagado que colidiu com
a camionete em que estavam, no dia 2 de novembro de 2004.
Cristina Maria e os filhos
Guilherme e Gutemberg
Dois
de junho de 2013, dez horas da noite, no bairro Barra de Jangada, em Jaboatão
dos Guararapes, em Pernambuco. Cristina Maria da Silva, de 37 anos, saia da
missa na capela de Santo Antônio e ficou curiosa quando viu uma
aglomeração de pessoas na esquina.
Ao
chegar ao local deparou-se com a cena mais triste de sua vida: a morte do seu
próprio marido.
Givanildo Geraldo da Silva era garçom de um restaurante na Praia de Boa Viagem, em Recife. Quando voltava para casa, sua moto foi abalroada por um carro em alta velocidade. Ficou em coma durante três dias, mas não resistiu. Deixou além da esposa Cristina dois filhos, de 11 e 13 anos.
Givanildo Geraldo da Silva era garçom de um restaurante na Praia de Boa Viagem, em Recife. Quando voltava para casa, sua moto foi abalroada por um carro em alta velocidade. Ficou em coma durante três dias, mas não resistiu. Deixou além da esposa Cristina dois filhos, de 11 e 13 anos.
A dor da família Leal
Moradores
da pequena cidade de Itamonte, no Sul de Minas, o senhor Newton Bernardino,
suas filhas Marcelle e Leandra, e os netos Joaquim e Kauê sofrem intensamente a
perda de dona Elizabeth. Ela foi atropelada por um motorista bêbado, quando
fazia sua corrida matinal.
Trapézio
- Livre criação IV
FROIS - Inverno em
Paris
Festa em Parintins - Caprichoso ou Garantido
E S P M JOR-308 – FOTOGRAFIA - 2º semestre – 2015
Fotojornalistas e Fotografias - Trabalho individual
(Orientadores: Professores Lorca e Gilson)
Objetivo
• Pesquisar, analisar e comentar a trajetória e o trabalho
de um fotojornalista que
atuou no jornalismo brasileiro.
Dinâmica
• Escolher um fotógrafo da lista fornecida, que estará
disponibilizada a partir do dia 8
de Outubro, no Laboratório de Fotografia Digital. Só poderá
ser escolhido um
fotógrafo por aluno/professor da lista.
Apresentação
• Texto introdutório contemplando:
o Resumo de sua trajetória como fotojornalista
o Breve observação crítica sobre sua obra no contexto do
período em que atuou
- porém o mais importante para o trabalho serão as
observações técnicas e
estéticas acima abordadas.
• Fotos representativas do trabalho do fotógrafo comentadas
técnica (profundidade de
campo, tempo de exposição, etc.) e esteticamente. A
quantidade de fotos deve ser no
mínimo 8 e no máximo 12.
Requisitos
• Todo o texto deverá ser redigido com suas próprias
palavras e quaisquer frases
citadas na íntegra precisarão ter suas respectivas
referências, ou seja, as fontes de
onde foram extraídas deverão ser indicadas (livros, artigos,
internet, etc..) e todos os
sites e literatura impressa utilizada para sua elaboração
devem ser citados.
• Para enriquecer esteticamente seu trabalho poderá
privilegiar a mesclagem (mistura)
de texto e imagem numa mesma página.
Forma de entrega
• Utilizar uma fonte padrão (Cambria, Georgia ou Times New
Roman), corpo 11 e
espacejamento entre linhas 1,5. Para enriquecer
esteticamente o trabalho poderá ser
privilegiada a mesclagem (mistura) de texto e imagem numa
mesma página.
• Somente será aceita a entrega completa - impresso +
arquivo PDF.
Edinei Sena
Edinei Sena
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