domingo, 15 de novembro de 2015

Biografia de Orlando Brito - Newspaper Weekly TV

Orlando Brito

Nascido em 08 de Fevereiro de 1950 em Minas Gerais;
Mudou-se para Brasília com a Família ainda novo, quando estava em processo de inauguração da Cidade que era a nova Capital do Brasil.
Em seu trabalho aborda temas políticos e econômicos, meio sociais, vida na metrópole e no interior, retratando indígenas, terras, esportes e o cotidiano.
Viajou por mais de 60 países, fazendo coberturas diversas, como Presidenciais, Papal, Campeonatos Esportivos e a Sociedade como ponto de reflexão.
Autodidata, iniciou seu trabalho aos 14 anos de idade, como Laboratorista do Jornal Carioca: Última Hora, e passou a fotografar 2 anos após.
Foi no Jornal O Globo, que ele fotografou se firmando profissionalmente, no período de 1968 a 1982;
Também foi editor do Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro de 1988 á 1989;
Mas se tornou reconhecido nacionalmente entre 1982 e 1998 na Revista Veja, no qual teve a publicação de 113 capas.
Fundador da agencia de noticias: Obrito News, que exerce ate os dias atuais como diretor da mesma, e ministra cursos e workshops para empresas e universidades de comunicação social e jornalismo.
Autor de Vários Livros como:
O Perfil do Poder (1981); Senhoras e Senhores (1992); Brasil de Castello a Fernandos (1996); Poder, Gloria e Solidão (2002), Iluminada Capital (2003) e Corpo e Alma (2006).
Ganhou o premio: Word Press Photo do Museu Van Gogh em Amsterdã, na Holanda, em 1979, na categoria de seqüência fotográfica;
11 Prêmios Abril de 1983 a 1987, foi considerado: Hors Concours.
Ganhou a Bolsa da fundação VITAE de Fotografia de São Paulo em 1989, um importante premio na área de fotografia.
Premio da 1ª Bienal de fotografia do Museu de Arte de São Paulo – MASP e da Bienal Internacional de fotografia de Curitiba.
Tem fotografias no acervo de colecionadores institucionais e privados como:
Coleção Pirelli, Museu de Arte de São Paulo – MASP;
Museu de Arte Moderna – MAN, tanto o de SP e do RJ;
Instituto Moreira Salles;
Enciclopédia de Artes Visuais do Instituto Cultural Itau;
Museu Georges Pompidou em Paris.
Fez exposições individuais como: “Um Sonho Intenso”, no MASP em SP;
Museu da Republica no Palácio do Catete, no RJ;
Teatro Nacional de Brasília e em outras Capitais do País;
Alem de na Federação das Indústrias em Belo Horizonte;
Galeria Caixa em Curitiba;
Apresentou: “Fotografia é Historia”.
Participou de mais de 40 exibições coletivas no Brasil e no Exterior.
Atualmente esta trabalhando em 3 outros livros, simultaneamente.

Das fotografias

Miguel Arrais - A volta do exílio

Durante o regime militar que dirigia o Brasil em 1964 ate 1985, havia um clamor pela volta de lideres políticos que foram forçados a buscar exílio no Exterior. Com a Lei de Anistia foi sancionada em Agosto de 1979, o direito de retornar para o Brasil personagens políticos.
Dentre eles estava Miguel Arrais, que fora deposto do cargo de Governador de Pernambuco em 1964; Preso em uma cela do IV Exercito em Recife, depois por 11 meses na ilha de Fernando de Noronha e na Fortaleza de Santa Cruz também no RJ.
Por medida de um habeas-corpus do Supremo Tribunal Federal, conseguiu asilo na Argélia, acusado de subversão e condenado à revelia pela Justiça Militar Pernambucana.
De volta ao Brasil, foi ovacionado por uma multidão de 50 mil pessoas em seu desembarque. Para retomar a vida pública, doutor Miguel Arrais de Alencar fez várias viagens pelo País, voltou a fixar residência em Recife e, sobretudo, manteve contato com líderes da oposição.
 Pois foi durante um encontro com Ulysses Guimarães, que fiz essa foto aí para a Veja, revista para a qual eu trabalhava. Observei-o observando o movimento da rua, olhando pela janela do apartamento onde morava doutor Ulysses, então presidente do PMDB. Achei muito significativa a ocasião: parecia apreensivo, ainda temeroso. Deixava para trás os anos de chumbo e, agora com as luzes da democracia, mostrava novamente sua face. Ao retomar a carreia na política, elegeu-se duas vezes deputado federal e governador.
 Arrais, cearense de nascimento, faleceu em 2005, aos 89 anos. O Palácio das Princesas, que ele habitou em três ocasiões, foi também ocupado por neto Eduardo Campos, falecido num acidente aéreo em Santos, em agosto do ano passado, durante a campanha para Presidente da República.”

Festival de cinema – Leila, Ruy e Ana



Em 1970, as atrizes: Leila Diniz e Ana Maria Magalhães junto com o diretor Ruy Guerra são premiados no Festival de Cinema de Brasilia com o filme: “Os deuses e os mortos”.

O Brasil vivia um período sombrio de sua história, com os direitos democráticos restritos, tortura a presos políticos e censura à imprensa. O Festival de Brasília era um dos raros espaços para debates e contestação ao regime militar”.
A primeira vez que cobri o festival foi em 1967, quando o grande vencedor do Troféu Candango foi o longa-metragem “Proezas do Satanás na Vila do Leva e Traz”, de Paulo Gil Soares. Eram raros os eventos culturais em Brasília naquela época e o festival era agenda que ninguém queria perder. No meu caso – um jovem de 17 anos começando no jornalismo no diário carioca Última Hora – era uma oportunidade de fotografar personagens bem diferentes dia-a-dia do poder e que tinha como cenário de trabalho, o Palácio do Planalto e o Congresso.
Em 1969, Rogério Sganzerla ganhou a estatueta do Candanguinho, com “Bandido da Luz Vermelha”. No ano seguinte, o vencedor foi “Memórias de Helena”, de Davi Neves. Em 1970 estava novamente no Cine Brasília para cobrir o festival. À noite, fui fotografar a movimentação dos diretores, atrizes e atores antes da sessão de projeção dos filmes. Mas sabia que dificilmente uma imagem formal da festa iria chamar a atenção dos leitores. Por isso, na manhã seguinte, resolvi ir ao quartel-general dos artistas, o Hotel Nacional. Por volta das dez horas, surpreendi-me ao ver essa cena aí, de Leila Diniz, Ana Maria Magalhães e Ruy Guerra bem à vontade na piscina, sob o sol da Capital”


José Bispo Clementino do Santos, o cantor Jamelão. Nascido em 1913 e falecido em 2008.
A vaidosa

“Pequenos detalhes”, 2013
Bike – Diário da Republica

Presidente Dilma Rousseff em sua pedalada matinal - Palácio Alvorada, 17 de junho de 2015

Contra-luz – O Anjo Triste


Escultura de Alfredo Cescchiati, no Salão Verde da Câmara dos Deputados - Agosto de 2015

Mergulho - Da série “Voltando no tempo”


Fernando Collor de Mello, presidente da República. Brasília, 1990 - Do livro Poder, Glória e Solidão, de 2006


O Sonho - Da série “Enxergando o País de perto”


“O Sonho” - Praia de Beberibe, 2000 (Do livro Corpo e Alma, de 2006)

O poder feminino - Ministra Zélia, princesa Isabel e presidente Dilma


Reunião do alto empresariado brasileiro com a economista paulistana Zélia Cardoso de Mello, titular do Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento no governo Fernando Collor entre 15 de março de 1990 e 10 de maio de 1991.
Duas grandes surpresas marcaram a posse de Fernando Collor quando assumiu a Presidência da República. A primeira foi a escolha de uma mulher para conduzir a economia do País. Isso, Zélia Maria Cardoso de Mello passava a comandar a pasta da Fazenda. A segunda, o confisco pelo governo dos investimentos dos brasileiros na caderneta de poupança. Essa dupla novidade atraiu a atenção do noticiário não somente para o Palácio, mas também para a Esplanada dos Ministérios. Eu mesmo, à época fotógrafo de uma revista de São Paulo, passei a cobrir o principal gabinete do Planalto, mas também o da doutora Zélia.
Essa foto bem demonstra o poder e a relevância que tinha a ministra Zélia Cardoso de Mello. Na reunião em uma sala contígua à do Conselho Monetário Nacional, o olhar dos mais importantes empresários do Brasil voltam-se para ela, única mulher presente ao encontro, sentada à cabeceira da mesa.
A passagem de Zélia pelo governo durou catorze meses e ficou marcada não somente pelo confisco poupança de milhões de mutuários, mas também pela redução das alíquotas de importação e a redução dos altos níveis de inflação. Depois que deixou o ministério de Collor, casou-se com o humorista Chico Anísio – falecido em março de 2012 –, com quem teve dois filhos. Atualmente reside em Nova Iorque, onde dirige seu próprio escritório de assessoria.
Portanto, antes de Dilma Vana Rousseff eleger-se presidente, a mulher que mais deteve poder na história do Brasil foi a ministra Zélia Maria Cardoso de Mello, aos 36 anos de idade.
Não custa lembrar a existência de outra brasileira de total prestígio de nossa história: a princesa Isabel. A Lei Áurea, que põe fim à escravidão, leva sua assinatura. O decreto mudou fundamentalmente o destino do povo. Era filha de Dom Pedro II e casada do o Conde D’Eu. Foi também a primeira senadora do país. “Só uma curiosidade sobre Sua Majestade Imperial, Dona Isabel I, Imperatriz Constitucional e Defensora Perpétua do Brasil: seu nome completo era Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon”.

 

Dezembro de 2006 - Lula da Silva e Hugo Chávez, então presidentes do Brasil e da Venezuela


Parlatório do Palácio do Planalto. 07 de dezembro de 2006.

O Rei - Pelé


Pelé, 2013

 

BUROCRACIA E SEGURANÇA - Seis homens e um prego

“O que  poderia ser apenas uma cena comum e insólita no andar térreo do Palácio do Planalto, na verdade revela uma doença eterna e incurável das repartições públicas brasileiras: a burocracia.
Ainda mais quando vem acompanhada do excessivo cuidado com a segurança. Repare nessa foto. Parece brincadeira, mas é realidade: o primeiro funcionário vigia o segundo, que observa o terceiro, que toma conta do quarto. O quinto monta sentinela ou, muito provavelmente procura por outro, enquanto o sexto homem cumpre a simples tarefa de colocar um pequeno prego na parede”.

Lisboeta - Cartas para Saramago


O escritor português José Saramago recebe as correspondências que chegam a seu endereço de Lisboa. Lisboa, 1993
Fui a Portugal fazer com Luís Costa Pinto várias matérias para a Veja. Uma delas, com o Saramago. Ele resolvera mudar-se para Lanzarote, uma das ilhas Canárias, depois que seu livro “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” foi censurado em seu próprio país, em 1991.
Ao lado da mulher espanhola Maria Del Pilar, dizia ter encontrado o lugar ideal para meditar e escrever. Não tirou o pé de lá durante meses. Mas sempre voltava a Lisboa para principalmente atualizar e conferir a correspondência. Afinal, um ganhador do prêmio Nobel de Literatura recebe mensagens de admiradores e amigos de todo o mundo.
O carteiro já sabia que dificilmente encontraria o famoso destinatário e por isso confiava as cartas ao dono da singela quitanda do Mascote, vizinha do modesto apartamento de Saramago, na Rua dos Ferreiros, número 36, no Bairro da Estrela, um dos mais tradicionais da agradável da capital portuguesa. Saramago faleceu em 2010, aos 78 anos”.

Ex presidente, ex governador, ex senador Itamar Franco.

Direto da Bahia

As baianinhas do Pelô. 2006

Girando pelo mundo


Strauss Platz. Viena, 1997

Diário da República


Conflito, populares vc. polícia. 2010

Livre criação, 25

 

Lula, 2005


Palácio do Planalto, entrevista coletiva do presidente Luís Inácio da Silva. 2005

 

Pinochet e Figueiredo


Os generais João Figueiredo e Augusto Pinochet no passeio de charrete num quartel de Santiago, durante visita presidencial.
“Lembre-se de que vários brasileiros se exilaram no Chile, fugindo do regime militar instalado no Brasil em 1964. Mas, com a queda de Allende, tiveram que buscar asilo em outros países. Tempos brabos vivia o povo chileno, de ditadura. Nenhum chefe de Estado visitava Pinochet. Mas Figueiredo resolveu ir a Santiago.
Mesmo tendo como objetivo fazer cobertura da visita presidencial, alguns jornalistas brasileiros tiveram problemas com a força militar. Eu mesmo fui detido na Praça da Constituição quando fotografava o palácio La Moneda, ainda com as paredes cheias de furos das balas, marcas do conflito da tomada do poder, em 11 de setembro de 1973. Foi preciso interferência de um diplomata do Itamaraty para me soltar.
À noite, seis colegas repórteres fomos a um restaurante frequentado por políticos, que funcionava nos fundos do edifício do Congresso, posto em recesso. Nem demos importância ao “toque de queda”, ou seja, à obrigatoriedade de voltar para o hotel antes das 22h. Na verdade, estávamos acostumados com tempos mais amenos no Brasil, com o processo de redemocratização iniciado pelo general Ernesto Geisel e seguido por Figueiredo. Não deu outra. O exército chileno chegou e encrencou com todo mundo. Com Roberto Stefanelli, Ricardo Pedreira, Álvaro Pereira, Emerson Souza, Flávio Salles e comigo. Só fomos liberados depois de convencermos o comandante do pelotão que nos levar para um quartel seria motivo de reportagens mundo afora e que isto não ficaria bem para a “democracia” de Pinochet”.

Livre criação – 12

 

O começo da agonia - Doutor Tancredo Neves


Em 1985 o Brasil viveu um dos momentos mais tensos de sua história. Na véspera de 15 março, dia em que tomaria posse como presidente da República, Tancredo Neves teve de ser internado às pressas no Hospital Distrital de Brasília.
Doutor Tancredo foi eleito pelo voto indireto no colégio eleitoral em 15 de janeiro, dez dias após completar 75 anos. Empresário e advogado, ex-deputado, ex-ministro, ex-senador e ex-governador de Minas Gerais, contraiu uma infecção no divertículo, mal que acabou por tirar sua vida, em 21 de abril de 1985, depois de 38 dias de agonia. Em seu lugar, tomou posse o vice José Sarney.
Tantos anos no front da notícia, perdi o número de vezes em que o sofrimento foi o alvo de meu trabalho. Mas tenho certeza de que uma das coberturas mais angustiantes foi aquela, dos momentos que precederam a morte do doutor Tancredo. Não somente pelas circunstâncias humanitárias, mas também pelo caráter político de seu significado. Era, aliás, um sentimento de todos os interessados na normalização da vida democrática do País, após vinte e um anos de regime militar. O temor era de que a esperança de ver um civil na principal cadeira do Palácio do Planalto também fosse para a UTI. 
Fico cada vez mais impressionado com o poder de premonição que uma fotografia jornalística contém. Sempre digo que, na verdade, elas têm maior capacidade de se referir ao futuro que simplesmente retratar uma mera situação acontecida. Dois dias antes da missa a que comparecera no Santuário Dom Bosco em ação de graças pelo mandato que brevemente se iniciaria, fiz para a revista Veja essa foto aí. 
Tancredo era um dos vários personagens importantes da minha área de cobertura, a seara do poder. Durante duas décadas, praticamente todas as semanas o fotografava. E no ano anterior, então, mais ainda, porque era um dos democratas que subiram com Ulysses Guimarães ao palanque nos comícios do movimento Diretas-Já. Eu era bem familiarizado com sua imagem, portanto. Naquela tarde-noite na igreja, achei estranho seu exagerado silêncio. E, sobretudo, esse gesto de dor, que jamais eu o tinha visto fazer. Não podia imaginar, porém, que representava o início de sua agonia”.

A face da crise - Presidente Dilma Rousseff


Entrevista no Palácio do Planalto - 9 de março de 2015

Diário da República - A posse


Presidente Dilma Rousseff deixa a rampa do Planalto e entra no Palácio para receber cumprimentos dos convidados por seu segundo mandato.

FOTOGRAFIA É HISTÓRIA - Abril de 1977

 
Ulysses Guimarães, nascido na pequenina cidade de Itirapina, perto de Rio Claro, em São Paulo. Deputado federal por onze mandatos consecutivos. Advogado e professor. Democrata. Torcedor do Santos. Ministro da Indústria e Comércio nos anos de 1961 e 1962. Um dos fundadores do MDB, foi o destacado condutor da oposição contra o regime militar. Faleceu em 12 de outubro de 1992 a bordo de um helicóptero na Baía de Angra dos Reis. Seu corpo jamais foi encontrado.
Em outubro do próximo ano, 140 milhões de brasileiros irão às urnas para escolher o futuro presidente da República, não custa lembrar que um dos principais responsáveis pela reconquista desse direito democrático foi o Doutor Ulysses Guimarães.
Talvez ele tenha sido o personagem mais expressivo que encontrei em toda minha trajetória de foto-jornalista. Impressionante como sua fisionomia refletia a gravidade de cada momento. Esse aí foi no dia em que o governo fechou o Congresso, em 1977. Sempre digo que Ulysses não era uma simples imagem. Era a efígie de um grande líder.

 

Fotografia é História - Composição político-militar


Soldado monta guarda em frente ao edifício do Congresso Nacional fechado dias antes, 13 de dezembro de 1968, com a edição do Ato Institucional Número Cinco, assinado pelo então presidente da República, marechal Costa e Silva. O AI-5 fechava o Congresso Nacional, as assembleias legislativas dos estados e as câmaras municipais de todo o País. Cassava o mandato de dezenas de parlamentares, inclusive o do ex-presidente Juscelino Kubitschek. O decreto também suspendia o direito de habeas-corpus nos processos considerados de caráter político.
O Ato Institucional Número Cinco estabelecia ainda a censura prévia à imprensa, às peças de teatro, aos livros e à música. E mais, proibia várias liberdades, entre elas a reunião dos cidadãos.
Com a Revolução de 1964, com a subida dos militares da chamada linha-dura ao poder, as liberdades democráticas foram gradativamente suprimidas. Mas em 13 de dezembro de 1968, a força do governo chegou ao cume. Pôs em recesso o Congresso Nacional, com a edição do AI-5. O regime político se transformara em ditadura. Era uma realidade que eu precisava representar com uma fotografia.
Foi quando encontrei esta cena aí, que bem representa a face daquela crise política: os coturnos de um soldado compondo o desenho do Congresso com as cúpulas da Câmara e do Senado. Somente dez anos depois, em 1978 – quando o presidente Ernesto Geisel botou em curso o processo de abertura política – o AI-5 foi extinto”.

 

Fotografia é História - Diário da República - Ouvir e sair


A noite de sexta feira 13 de dezembro de 1968 ficou marcada como um dos momentos mais sombrios para a democracia brasileira, considerada uma das mais duras medidas do regime militar que governou o Brasil de 1964 a 1985. O governo do marechal Costa e Silva decretava o AI-5, que fechava o Congresso Nacional, as assembleias legislativas dos estados e as câmaras municipais de todo o País. Cassava o mandato de dezenas de parlamentares, inclusive o do ex-presidente Juscelino Kubitschek. Também suspendia o direito de habeas-corpus nos processos considerados de caráter político.
O Ato Institucional Número Cinco estabelecia ainda a censura prévia à imprensa, às peças de teatro, aos livros e à música. E mais, proibia várias liberdades, entre elas a reunião dos cidadãos.
Câmara e Senado Federal só foram reabertos dez meses depois para referendar, em eleição indireta, a escolha do novo presidente da República, o general Garrastazú Médici no lugar de Costa e Silva, acometido por uma embolia cerebral. O AI-5 só foi revogado dez anos depois, quando o general Ernesto Geisel ocupava a Presidência da República e facultou o projeto de distensão democrática e reabertura política.
Eu era um jovem fotógrafo a cobrir para O Globo os assuntos da política. Vi pela movimentação dos jornalistas veteranos que a notícia estava na Presidência da República, mas seu efeito se mostraria no Congresso. Atravessei o Eixo Monumental N-1, a avenida que separa o Planalto da Câmara dos Deputados e Senado Federal. No Palácio não havia nenhuma foto a ser feita, a não ser a de um contínuo aborrecido distribuindo aos repórteres as cópias do tal decreto presidencial.
Ao chegar ao Congresso, constatei que eu estava certo. Numa salinha do térreo – próxima ao plenário e abarrotada de senhores atônitos, cabisbaixos, em silêncio – consegui fotografar alguns parlamentares de ouvidos atentos a um rádio de pilhas. Chegava pelo ar a intervenção na Constituição anunciada pelo então ministro da Justiça, Gama e Silva.
Entre eles estavam os presidentes da Câmara, da Comissão de Justiça e o líder do governo, Zezinho Bonifácio, Djalma Marinho e Geraldo Freyre, além de jornalistas e alguns funcionários. Ao fim da audição radiofônica, todos tiveram de abandonar o edifício do Congresso.
Nem sei como consegui estar naquele cenário em um momento tão cheio de “não pode”. É verdade que as fotos não são nenhum exemplo de capricho estético. Mas retratam esse momento dramático da história. Ainda assim, apesar do caráter documental que elas contêm, nenhuma delas pode ser publicada. A censura já estava em vigor”.

 

Fotografia é História - Diário da República - Adeus, Simon


Interessante como a profissão de jornalista nos coloca diante de situações as mais comoventes. No meu caso, que sou fotógrafo, isto acontece com maior intensidade porque o contato visual e a necessária presença diante de um fato e personagens é imperiosa, essencial.
“Pois bem, na tarde do dia 10 de dezembro, fui ao plenário do Senado fotografar um acontecimento que, aparentemente, não iria produzir grandes emoções. Me refiro ao discurso de despedida do senador Pedro Simon, do Rio Grande Sul. Simon subia à tribuna para dirigir-se aos presentes e ao povo brasileiro. Estava ali para dar adeus à sua longa vida pública”.
Pedro Simon entrou para a política quando era ainda um jovem advogado de 28 anos que se elegia vereador em sua cidade natal, Caxias do Sul. Sua marcante atuação na câmara municipal o levou a uma cadeira de deputado estadual por quatro mandatos consecutivos em Porto Alegre. Em 1978, no PMDB, Simon desembarcou na Capital Federal, escolhido senador pelos gaúchos. De lá, até àquela tarde, não passou um dia sem mandato.
O Brasil vivia o fim de uma década movimentada e conturbada na política. Ainda governado pelo regime militar, o País clamava nas ruas tempos de maior liberdade. E Simon chegou para engrossar um time de deputados e senadores que lideravam esse sentimento: Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Paulo Brossard, Marcos Freire, Jarbas Vasconcellos, Fernando Lyra, Teotônio Villela, Lisâneas Maciel, entre outros democratas.

Era grande a luta para que o Brasil voltasse a reconquistar a normalidade democrática. O general Ernesto Geisel punha em prática sua política de abertura, antes de passar a presidência da República a seu sucessor, João Figueiredo. Eu mesmo, à época fotógrafo do jornal O Globo e depois da revista Veja, cobri de perto os principais movimentos da politica. No Palácio do Planalto, o lado da situação estabelecida pelo golpe militar, em 1964. No Congresso Nacional, a oposição incansável dos políticos. Simon era um dos destaques.
Peregrinos da liberdade.
Nem sei quantas vezes fotografei, Brasil a dentro, os comícios do movimento Diretas-Já e as reuniões que exigiam o fim das torturas, da censura, da anistia aos exilados e da instalação de uma nova assembléia constituinte. Realmente não sei o número de fotos que fiz desses temas. Mas sei que praticamente todas contam com a presença firme de Pedro Simon, ao lado dos líderes Ulysses e Tancredo.
Durante esses quase cinqüenta anos eu acompanhei e retratei a história do poder no Brasil, vi de perto e tive a primazia de documentar momentos de extrema emoção, importantes na vida da nação. É raro, porém, a foto em que não aparece a singela e ao mesmo tempo imponente, figura do senador Pedro Simon. O certo é que Simon estava na tribuna, a falar e despedir-se da vida pública, iniciada seis décadas antes. No plenário, somente parlamentares mais amigos. Por exemplo, Jarbas Vasconcellos, Luiz Henrique, Aécio Neves, Eduardo Suplicy, Álvaro Dias.
O ex-presidente José Sarney é um exímio orador. Certa vez em um discurso fez uma citação de um dos seus autores prediletos, o Padre Antônio Vieira. Chamou-me a atenção por ver meu ofício de fotógrafo incluído em seu pensamento. Em um dos seus sermões, o Padre Vieira dizia:
- Deus, quando criou a figura humana, deu-lhes os olhos para principal função: enxergar. Perceber, sentir e emocionar-se com as coisas existentes. Mas, depois, acrescentou a possibilidade de chorar. Porque chorar é a maneira de a alma expressar seu mais puro sentimento.
No dia 10 de dezembro de 2014, pois, eu estava nas galerias do plenário do Senado com meu olhar atento a um personagem familiarizado com a história do Brasil, e com meu testemunho. Era Pedro Simon em seu momento final como parlamentar, em seu derradeiro discurso, dava sua palavra de despedida. A última vez que subia à tribuna do Parlamento. A bancada de senadores a ouvi-lo era mínima. Somente fieis amigos e companheiros de eras outras lá estavam para ouvi-lo, aparteá-lo, aplaudi-lo.
Ao final do seu discurso, percebi que o velho senador – tão bravo e destemido, forte e corajoso, que eu mesmo fotografara no front de muitas batalhas em defesa de causas tão nobres, de quem eu fizera mil fotos com seus colegas democratas – dessa vez cedia à sua própria emoção. Não conteve as lágrimas. Confesso que meus olhos, tão acostumados à função de perceber com frieza o decorrer dos fatos e a presenciar com isenção tantos lances da história, dessa vez também cederam à função a que se referia o sábio Padre Vieira.
Não somente a presença de Pedro Simon, agora com 84 anos, me emocionou. Perto de terminar sua oração, reparei que, bem pertinho de onde eu estava, nas galerias superiores do plenário, um grupo de colegiais o aplaudia calorosamente. Eram 27 jovens de uma escola brasiliense. Alunos, meninos e meninas do ensino médio. Perguntei-lhes a razão de sua presença ali. Ouvi de um deles:
- Soubemos pela mídia que o senador Pedro Simon faria hoje seu último discurso. Convencemos nosso professor de história a nos trazer para presenciarmos um momento tão significante, de um homem de conduta exemplar e honrado. Coisa rara na política. Sujeito íntegro, de conduta irrepreensível, que jamais teve um escândalo a manchar sua biografia…


Bem, mais uma vez fiquei emocionado e resolvi deixar o cenário do fato para seguir para outra pauta do meu dia-a-dia do poder. Enquanto conferia em minha câmara as imagens que havia feito, caminhava em silêncio, deixando as galerias. Mas podia ouvir ao longe o aparte de um jovem senador:
- Pedro Simon é um dos mais bem qualificados homens públicos do Brasil. Deveria fazer uma nova peregrinação pelo País para dizer da decência, da simplicidade, da seriedade, da humildade, da compostura, ética, dignidade…

 

Maestro - Tom Jobim



Eu era editor da Veja, em São Paulo, e a revista tinha uma reportagem de capa com o maestro Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim.A matéria estava resolvida com as fotos que tínhamos, mas faltava o essencial, justamente a imagem que iria para a capa. Elio Gaspari, nosso diretor-de-redação queria uma fotografia fora do convencional, que chamasse a atenção do leitor logo no primeiro contato com a revista, ou seja, a capa. Disse-me:
- Ouse, meu caro, seja ousado.
Então liguei para o Flávio Pinheiro, o chefe da sucursal da Veja no Rio. E pedi-lhe propusesse ao Tom que posasse para nós em Ipanema. O maestro aceitou. Pedimos que fosse bem cedinho, por volta das sete da matina, para evitar um enxame de pessoas a vê-lo. Para nossa surpresa, Tom disse sim novamente. Só me restou voar às pressas de Sampa para o Rio.
Providenciou-se o aluguel de um piano, esse ai, e o levamos para o Arpoador. Levamos não, seis carregadores o suportaram nas costas.
O sol brilhante conspirou a nosso favor. E pouco antes das sete da matina lá estava Antonio Carlos, tal e qual havíamos sonhado.
Enquanto eu fazia as fotos, Tom tocou várias músicas. Várias, “O samba do avião”, “Garota de Ipanema” e outras mais. A certa altura, o senti com uma certa timidez ou desconforto. Eu mesmo achava a cena um tanto ousada para um sujeito tão contido quanto Tom. Ao percebê-lo encabulado, aproximei-me. E tivemos o seguinte diálogo:
- Qual é mesmo sua graça?, perguntou-me
- Brito, Orlando Brito, respondi-lhe.
- Brito, Orlando Brito, eu não sou o …, disse-me baixinho. (Não vou dizer nome do pianista famoso por delicadeza e respeito ao Tom e ao próprio artista citado)
- Tom, Tom Jobim, confie em mim. Creia no meu bom gosto. Não vou lhe transformar em Fulano de Tal, lhe assegurei.
E seguimos fotografando. Não durou muito, uns quinze ou vinte minutos, talvez. Ao final, quando dei o trabalho por completo, agradeci. Ele se levantou do banquinho e preparou-se para tomar seu carro, um Voyage creme. Mas antes de deixar a praia, voltou ao piano e disse:
- Faltou uma canção.

E olha que “Manhã de carnaval”, nem é de sua autoria. É composição de Luiz Bonfá e Antonio Maria.
Quanto terminou, levantou-se, deu uma piscadinha para um grupo de jovens senhoras que observava a cena da calçada, entrou no seu automóvel de cor creme, colocou um chapéu de palhinha e saiu, devagarinho, ele mesmo dirigindo.
Acho que gostou, porque na segunda feira-seguinte, quando viu a revista telefonou para nós na Veja e agradeceu. Nem acreditei que Tom Jobim fosse ter lembrança para isto. Teve.
Bem, esqueci-me de dizer que esta foto aí não é a escolhida para a capa da revista. É uma sobra.

Palco iluminado - Silvio Caldas 


Os românticos da música polemizam sobre qual o mais belo verso da música brasileira. Se “a lua furando nosso zinco salpicava de estrelas nosso chão. E tu pisavas nos astros, distraída” ou se “nos seus olhos eu suponho, que o sol num dourado sonho, vai claridade buscar”. Para Silvio Caldas não importava. Até porque tanto em “Chão de Estrelas” quanto em “A Deusa da Minha Rua” estavam nas canções de seu repertório, cantado durante sua carreira de oitenta e tantos anos de artista.
Silvio nasceu no Rio, em 1908. O pai tinha uma oficina de consertar instrumentos musicais, além de ser afinador de pianos. Antes de ficar famoso, foi leiteiro, estivador, garimpeiro, mecânico. Subiu num palco para cantar pela primeira vez ainda menino e só parou em 1998, quando faleceu. Foi um dos reis da chamada Era do Rádio, com Emilinha Borba, Nelson Gonçalves, Carmem Costa, Orlando Silva, Marlene. Gravou melodias de Noel, Pixinguinha, Chico Buarque, Ary Barroso, Lamartine, Tom Jobim, Braguinha, Roberto Carlos, Caymmi, Adoniran, Dolores, Antonio Maria e demais compositores qualificados. Dentre os tantos sucessos, o maior é “Chão de Estrelas”, que fez em parceria com Orestes Barbosa. Nunca faltava em seus shows.
Era minha decisão: sem a foto de Silvio Caldas, eu não faria “Senhoras e Senhores”, o livro com oitentões consagrados do Brasil, que a bolsa Vitae e a sensibilidade do amigo Jack Corrêa possibilitaram-me publicar. Cheguei ao sítio de Atibaia, onde Silvio morava, por volta das 11 da manhã. Acompanhado da mulher Camila, quarenta anos mais jovem, e do menino Roberto, o filho mais novo, levou-me para ver a plantação de frutas e flores, que ele mesmo cuidava.
Era a arma que usava para melhorar o estado de espírito, combater o fantasma da depressão e lembrar-se dos melhores momentos de sua vida. Sentia-se vitorioso aos 84 anos. Afinal, disse-me, havia sobrevivido a duas Guerras Mundiais, revoluções, perseguições e visto acontecer duas epidemias que sacrificaram milhares de vidas, a gripe espanhola e a AIDS. Na hora da foto, escolhi a posição do pano vermelho que ilustra todas as imagens de “Senhoras e Senhores”. Ele fez questão de posar com violão que ganhara do presidente JK, após uma seresta em Diamantina.
Meses depois, na noite de autógrafos, em Brasília – trouxemos também para a festa o palhaço Carequinha, outro personagem do livro –, vi Silvio Caldas, contando histórias e cantarolando para um grupo de convidados o maior de seus sucessos. Recordei-me de quando lhe indaguei em Atibaia sobre os três melhores momentos de sua vida: - As batalhas de confete dos velhos carnavais, os papos com Ary Barroso e toda vez que cantava “Chão de Estrelas”.

POPULAÇÃO - Basta um close


Em breve, o Brasil deverá conhecer o resultado do novo censo populacional feito pelo IBGE. Segundo as estatísticas. há em nosso país em torno de 20 milhões de idosos.
Como diz um velho ditado chinês, o conjunto é o resultado de uma infinidade de detalhes. Quando parte para uma matéria, um fotógrafo sabe que é importante retratar cada personagem dentro do ambiente em que este vive. São referências visuais, informações que completarão aquilo que dirá o texto do repórter.
Em 1994 o Nordeste sofria uma das freqüentes secas. Viajei durante trinta dias para a Bahia, Ceará, Pernambuco e Piauí, estados onde a situação era mais grave. Minha função era ilustrar com fotografias as matérias de Elio Gaspari para a Folha de São Paulo, Zero Hora e O Globo. Rodamos em torno de dez mil quilômetros. Era uma região que eu já conhecia bastante, de outras vezes em que fui fazer reportagens para Veja, Jornal do Brasil e para o próprio Globo.  
No caso dessa cearense de quase cem anos de idade, porém, não senti a necessidade de acrescentar outros elementos que “falassem” de sua condição de vida. Dispensei o conjunto, optando pelo detalhe. Achei que um close era suficiente para complementar a descrição de Elio sobre a parede da casa que ela habitava”.

CONTINENTE - A ilha


Toda imagem representa algo, comunica uma idéia, tem alguma coisa a dizer.
Como foi – Dia desses, enquanto meu avião não decolava e ainda estava autorizado o uso de notebooks e tablets antes do vôo, resolvi fazer um giro pela Internet, preencher o atraso no aeroporto com algo produtivo. Acabei parando numa página da WWW que recordava um trecho da obra do poeta inglês John Donne, do século dezesseis. Sua poesia inspirou o escritor Ernest Hemingway, quando escreveu o livro “Por Quem os Sinos Dobram”:
- Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; cada homem é uma parte do continente, parte do todo.
Três ou quatro horas depois, eu estava caminhando na orla de João Pessoa observando a beleza do Atlântico na Paraíba e com a citação que lera pouco antes fixa em minha memória. Foi quando me deparei com essa cena aí, o gordinho solitário isolado e absorto na pequena piscina cercada de pedras que maré baixa construiu. Enquanto fazia a foto, sorria satisfeito com a coincidência do que estava vendo com os escritos da literatura.

Canudos, Bahia - Lendário João Botão


A Revolta de Canudos é a mais sangrenta página da história do Brasil. Nos fins do século dezenove, o beato Antônio Conselheiro arrebanhou uma multidão de miseráveis que o seguiram pelo sertão ouvindo suas pregações contra a República, novo regime de governo recém instalado no país. Foram necessárias quatro expedições do Exército para sufocar de vez o movimento liderado pelo peregrino nascido no Ceará.
Há controvérsias sobre o número preciso de mortos, mas estima-se que ao final dos combates em torno de 40 mil soldados e conselheiristas perderam a vida. João Botão foi um dos raríssimos sobreviventes. À época era ainda um menino e viu de perto o sofrimento daquela guerra tão bem contada em detalhes por Euclides da Cunha em “Os Sertões”, um dos livros mais sensacionais da literatura brasileira.
Como foi – Quem quiser conhecer o Brasil profundamente não pode deixar de ir a Canudos. Aliás, de uns anos para cá, a cidadezinha passou a receber visitantes de todos os interesses. São estudantes, pesquisadores, historiadores, fotógrafos. Eu sou um deles. Devo ter ido umas quinze vezes. Também, com um cenário daqueles e os personagens que a gente encontra, impossível não estar sempre por lá. Os amigos Evandro Teixeira e Antônio Olavo fazem a mesma coisa. Ambos, aliás, publicaram magistrais livros sobre o tema. Bons, muito bons.
Na verdade, quando digo Canudos, me refiro a toda região onde a seca pega pesado no Norte da Bahia, cenário dos combates entre os seguidores do Conselheiro e as tropas do Exército. Vou a Bendegó, Uauá, Crisópolis, Monte Santo, Euclides da Cunha, Quijingue, Massacará etc.
Essa foto aí, do João Botão, é parte do que colhi durante uma viagem com Roberto Pompeu de Toledo para uma matéria de Veja, em 1997. João Botão morreu pouco depois de completar cento e três anos. Morava em uma pequena casa de varas cobertas por barro, ao lado de uma igrejinha que construíra para rezar pelos pais e irmãos que morreram no conflito.
Não se encontra mais homem ou mulher que tenha vivido na época do Conselheiro, mas há filhos e netos deles que sempre têm histórias para contar e muitos lugares para mostrar, como o lago Cocorobó, que serve de sepulcro para mais de trinta mil conselheiristas e soldados.

Palácio do Planalto - O sentido da rampa


Nos idos de 1984, o presidente João Figueiredo chega ao Palácio do Planalto. A acompanhá-lo, os generais Danilo Venturini e Golbery do Couto e Silva, além do chanceler Ramiro Saraiva Guerreiro. Mais atrás, o diplomata-chefe do Cerimonial da Presidência e o ajudante de ordens.

Como foi – A cerimônia de subida e descida da rampa do Planalto era, na época dos governos militares, acontecimento contumaz. Os repórteres e fotógrafos que cobríamos a Presidência estávamos sempre presentes a ela porque era matéria muitas vezes publicada nos jornais.
A rampa é peça característica da leveza dos traços da arquitetura de Oscar Niemeyer, autor do projeto do edifício construído para sediar o Poder Executivo. Dizia que optou por essa forma para simbolizar que as questões do País podem chegar ao gabinete presidencial de maneira suave, sem os solavancos dos degraus de uma escada.
A solenidade resulta da recomendação que o então presidente Juscelino Kubitschek fez ao protocolo da Presidência, em 1960. Era mais uma inovação de JK. Queria despertar o caráter cívico nos visitantes da Praça dos Três Poderes, aproximar o Chefe de Nação do povo.
Para relembrar: Jânio Quadros e João Goulart tiverem mandatos curtos e praticamente não puseram os pés na rampa. Já os marechais Castello Branco e Costa e Silva, assim como os generais Emílio Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo eram assíduos. José Sarney reduziu para uma vez por mês.
O último presidente a cultivar esse hábito como atividade regular foi Fernando Collor. Convidava personalidades – o campeão de Fórmula Um, Ayrton Senna, por exemplo – para acompanhá-lo quando descia, nas sextas feiras, encerrando a rotina de trabalho da semana.  Os que o sucederam – Itamar Franco, Fernando Henrique, Lula e, agora, Dilma Rousseff – em poucas ocasiões o fizeram.
Para dar colorido à festa, soldados do Batalhão da Guarda Presidencial e dos Dragões da Independência usam uniformes de gala. Hoje, a cerimônia acontece somente para receber visitantes ilustres de outros países que visitam o Brasil.

 

ALÉM DO PODER - Cena obscura


1966. Na chuvosa manhã de agosto, soldados do Batalhão da Guarda Presidencial hasteiam a bandeira do Brasil no mastro do Palácio do Planalto. Era uma mesma cena se repetia desde 1964.
O golpe militar que tirou do poder o então presidente da República João Goulart completou 49 anos no domingo passado, 31 de março. Jango foi substituído pelo marechal Castello Branco. Depois de Castello, houve uma sucessão de generais a comandar o País: Costa e Silva, Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo.
Houve também uma junta militar, que governou de setembro a outubro de 1969, com o afastamento de Costa e Silva. Com a Revolução de 1964, o Brasil viria mergulhar, durante 21 anos, num clima de ditadura, com o fechamento do Congresso Nacional, censura è imprensa e às obras de arte, cassação de mandatos parlamentares, proibição de manifestações públicas e prisão de pessoas consideradas contrárias ao regime.
Depois de um longo processo de distensão política – iniciado no governo Geisel e concluído na gestão de Figueiredo –, o Planalto voltaria às mãos de presidentes civis, com a eleição de Tancredo Neves, em 1985.

Como foi – Muitas vezes uma fotografia vai além da função de simplesmente ilustrar matérias publicadas no jornal do dia seguinte, no blog de daqui um minuto ou na revista da próxima semana. Ao invés de registrar momentos que “morrem” no jornalismo, o fotógrafo produz documento para a história. Essa imagem, por exemplo, bem condiz com a afirmação.
Eu era ainda um menino, mas já cobria a Presidência da República, para o jornal Última Hora, importante matutino carioca que não existe mais, de propriedade de Samuel Wainer. Diariamente eu via a rotina dos soldados hasteando a bandeira do Brasil, coisa que acontece toda vez que os presidentes chegam ao Palácio.
Naquele dia, porém, o céu nublado contrastava com a posição do pelotão e compunha essa imagem que reflete o período sombrio que o Brasil vivia.

 

Fotografia é História - Betinho, o irmão do Henfil


Hoje não sei se ainda existe, mas durante as quase duas décadas em que trabalhei na Veja, havia uma edição para a qual os fotógrafos da revista tínhamos que nos empenhar para ilustrá-la chamada “O livro do ano”. A chefia da redação elegia pessoas que se destacaram durante os doze últimos meses e as reunia numa bela publicação que ia às bancas em meados de dezembro. Com certeza, era um trabalho aguardado com ansiedade pelos leitores, pois se tratava de matérias produzidas com maior elaboração e capricho, tanto nos textos que traçavam o perfil e a história de cada personagem, quanto nas fotos estampadas geralmente em página inteira.
Quando chegava novembro, portanto, os fotógrafos recebíamos a relação de quais nomes deveriam ser retratados. Eu, particularmente, achava aquela tarefa em tanto interessante porque – trabalhando o ano inteiro com fotos nas quais não podia jamais interferir, colhidas do desenrolar dos acontecimentos – era uma oportunidade de exercer algo raro para mim, a pose. Sempre tive como regra, fazer com que a foto refletisse o perfil de cada personagem.
Em 1992, coube a mim retratar alguns desses nomes escolhidos pela revista. Um deles foi Betinho, o apelido de Herbert de Souza, personalidade importante por vários aspectos. Primeiramente por sua opinião contra o regime militar, durante o qual teve de se exilar no Chile, Canadá e México.  Só retornou ao Brasil após a Anistia de 1979. Citado pelos músicos João Bosco e Aldir Blanc na canção “O bêbado e a equilibrista”, imortalizada pela cantora Elis Regina. O sociólogo mereceu versos que diziam: “… meu Brasil, que sonha com a volta do irmão do Henfil, com tanta gente que partiu…”. Era figura notável e respeitada por sua participação ativa na defesa das minorias e desigualdades sociais.
Henfil, consagrado cartunista que se notabilizou no extinto jornal O Pasquim, igualmente a seu mano Betinho sofria de hemofilia. Por esta razão, ambos tinham que fazer sucessivas transfusões de sangue. E, numa delas, Herbert acabou contraindo AIDS. Faleceu em agosto de 1997, aos 62 anos.
Aproveitei a presença de Betinho no Congresso Nacional, em Brasília, para fotografá-lo. Escolhi o ambiente calmo do Salão Negro do Senado, ambiente sóbrio e com luz adequada para o retrato de um homem com seu perfil. Eu sabia de sua timidez e da aversão à badalação. Por isto, quando lhe falei do intuito daquela imagem, citei o escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez: ”- A vida não é somente uma pose para fotografia”. Mas, complementei, dizendo de o quanto era importante sua presença no “Livro do ano” da revista.  Foi esse aí, enfim, o clic que fiz do lendário Betinho.

MOVIMENTO - Caminhando e cantando


1969. Em frente Congresso, populares fazem manifestação contra o governo. O presidente Costa e Silva, segundo presidente do regime militar, é acometido por uma embolia cerebral. Impossibilitado de governar, teve de ser afastado. Seu vice, Pedro Aleixo, era civil e foi descartado para substituí-lo. Em seu lugar, assumia o poder uma junta militar – composta pelo general Lira Tavares, pelo almirante Augusto Rademaker e pelo brigadeiro Márcio de Sousa e Melo.
“Caminhando”, de autoria do compositor pernambucano Geraldo Vandré, é uma das músicas brasileiras de maior simbolismo. Ficou em segundo lugar no Festival Internacional da Canção, promovido pela TV-Rio, em 1968. Mas logo em seguida, teve sua execução proibida, durante os tempos brabos da censura, sob a alegação de que incitava a população à resistência contra regime vigente. Ainda assim, virou hino dos chamados anos de chumbo no Brasil.
A canção de Geraldo Vandré era cantada sempre nas manifestações políticas. Uma dessas ocasiões foi essa aí da foto, que fiz ao passar pelo Congresso: cerca de duas mil pessoas ocuparam a praça em frente à cúpula da Câmara em protesto contra a subida da junta militar. Mãos levantadas e folhetos impressos com a letra, entoavam “Prá Dizer Que Não Falei de Flores”, o outro título da música à época proibida de ser executada nos rádios, nas tevês ou em recintos públicos”.

Além do Poder - Praça dos lamentos


Manifestação contra a violência na Esplanada dos Ministérios. Brasília, 2006.
Jornalista que cobre os fatos do poder há muitos anos, não deixo de dar atenção a tudo que vejo no gramado em frente ao Congresso Nacional. É, provavelmente, um dos locais que mais acolhe manifestações democráticas em todo o mundo”.
Categorias de todos os tipos usam o espaço da capital brasileira – também chamado de Praça do Povo – para defender suas causas e protestar contra tudo, como as recentes passeatas da Marcha do Vinagre, que leva até lá um sem número de jovens praticamente todos os dias. Em outros países há também locais preferidos pelos manifestantes para o mesmo fim. Por exemplo, o Hyde Park, em Londres, Washington Square, em Nova Iorque e a Praça da Bastilha, em Paris. Não custa lembrar da Praça Tahrir, no Cairo, berço da onda popular que culminou com a deposição do presidente do Egito, Mohamed Morsi.      
Em Brasília, é rara a semana em que não haja um protesto de alguma categoria da sociedade, funcionários públicos, índios, sem-terra, fazendeiros e agricultores, estudantes, médicos, procuradores, policiais, desempregados, religiosos e, enfim, vozes contra e a favor do governo, mas todas reivindicando direitos. Sem falar das caravanas organizadas por sindicatos, que chegam a Brasília, oriundas de vários estados do País. Autorizadas ou não pela polícia, as manifestações têm de obedecer às normas estabelecidas pela polícia de não instalação de tapumes, arquibancadas, palanques, tendas ou quaisquer peças que impossibilitem o acesso ou a vista do Parlamento. Evidentemente, essa regra não é nem de longe cumprida.
Mas há também aquelas que, ao contrário de lotar a praça de pessoas, usam o visual para comunicar suas aflições. Como essa aí, organizada por um grupo de humanistas contra a violência. Milhares de cruzes brancas amanheceram fincadas no grande gramado da Esplanada dos Ministérios, em frente â Câmara e ao Senado.

MÃE TERRA - “Terra Mater”


Esta é uma das 211 fotos constantes do livro “Corpo e Alma”, publicado em 2004. Uma viagem em preto-e-branco pelos 27 estados do Brasil.
Um dia fui fotografar o pintor gaúcho Iberê Camargo, em Porto Alegre. No meio da sessão, o telefone tocou. Gentilmente, pediu-me licença e atendeu. Não sei quem era. Mas o ouvi dizer ao interlocutor uma frase que tomei como lição: - o depois não existe, especialmente quando se lida com imagens.
Oito anos nos depois, em 1999, eu estava no litoral do Ceará fazendo uma reportagem sobre vacinação. Preocupado em não atrasar a equipe de Ministério da Saúde, deixei para fazer depois uma fotografia que viria martelar minha memória durante um mês. Um menino brincando na praia, em total interação com a natureza. Cumprida a pauta, não retornamos mais ao mesmo lugar. Voltei para casa com a horrível sensação de haver perdido uma cena irrecuperável.
A TransBrasil tinha um vôo que saia de Brasília por volta da meia noite e, depois de uma ou duas escalas, pousava em Fortaleza antes nascer do sol. Para me livrar do fantasma da foto perdida, embarquei para o Ceará. Aluguei um automóvel no aeroporto e ainda de manhãzinha estava em Beberibe. Estacionei no mesmo lugar, o paredão da Praia das Fontes. Tal e qual um mês antes, lá estava o menino em seu divertimento rotineiro. Ajudado pela irmã menor que ele, construía pequenos montes de areia e depois observava a orelha das ondas desfazê-los.
Por fim, correu em direção aos arrecifes. Encolhido, deitou-se em uma das poças de água. Aqueles laguinhos miúdos e rasos que se formam quando a maré baixa. Tal e qual eu vira quatro semanas antes. De onde eu estava, sobre o mesmíssimo balcão de falésias, pude enfim fazer a fotografia que deixei para depois, contrariando ao que dissera mestre Iberê Camargo. De volta, no avião, impressionado com a imagem do garoto em forma de embrião, resolvi dar um nome à foto. Terra Mater”.

Guimarães - A morte de Ulysses


Em 12 de outubro de 1992 o deputado Ulysses Guimarães morreria a bordo do helicóptero que o transportava de uma praia de Angra dos Reis para São Paulo. Com ele, estavam dona Mora, sua mulher, e o casal de amigos Marieta e Severo Gomes, além do comandante da aeronave Jorge Comeratto, também falecidos. O país perdia um dos mais importantes políticos de sua história. 
 A todo momento a gente vê a velha e já gasta discussão: uma imagem vale tanto quanto mil palavras. Discordo inteiramente. Primeiro, acho que depende da imagem e também depende das palavras. Segundo, não escrevo intrinsecamente sobre a foto em questão. Abordo algo que está fora dela, as condições em que foi feita e não simplesmente uma descrição automática da imagem. É interessante dizer dos lances inerentes ao seu conteúdo. Esta, por exemplo, tem uma história que reputo curiosa”.
 Sempre fiquei preocupado com o caráter premonitório de algumas fotos que fiz. Mas esta de Ulysses tirou-me o sono por várias noites. O dia 6 de outubro de 1992 foi daquelas terças feiras de pouco movimento no Congresso. No fim da tarde, quando eu voltava para a redação de Veja e descia a escada do Salão Verde da Câmara para o térreo, reparei que a luz do outono brasiliense estava como sempre majestosa. O sol, na altura do horizonte, invadia o andar térreo com uma réstia de raios cristalinos. Minha saída coincidia com a chegada do doutor Ulysses. Ele parou em frente do elevador privativo aos parlamentares para responder a uma pergunta do jornalista Ivanir Bortot, à época da Gazeta Mercantil.
 Do lugar onde eu estava, no contra-luz, via a silhueta de Ulysses e Bortot, ambos contornados pelos raios de luz. Quatro fotogramas. Confesso que o resultado da imagem me impressionou. Era forte, não tinha a ver com a serenidade daquele momento. Seis dias depois, a trágica notícia do desaparecimento de Ulysses. Constatada sua morte, evidentemente, virou capa da revista. Falei com Mário Sérgio Conti, editor-chefe àquela época, recomendando que resgatasse em São Paulo o tal cromo. Aquela imagem que tanto me chamou a atenção foi para a capa da revista. Depois virou monumento em uma praça de Campinas.
 Por força do convívio de anos na cobertura da política, assim como outros colegas acabei me aproximando bastante do doutor Ulysses Guimarães. Fiquei bastante entristecido. Recebi inúmeras cartas de leitores da revista. Uma delas trazia uma pergunta que até hoje não consegui resposta: como se sente um jornalista diante da dor dos outros. Incrível! Essas palavras são as que inspiram o título que a ensaísta americana Susan Sontag dá a seu livro sobre o conflito entra a frieza e a emoção que um fotógrafo encontra no front da notícia.

Leveza - O poeta sereno


Mário Quintana. Nasceu em Alegrete, em 1906. Faleceu em Porto Alegre, em 1994.
“Mário Quintana tinha três sobrinhas. Cada uma delas destinava oito horas do dia para acompanhá-lo. Era uma maneira de jamais deixá-lo sozinho nos momentos em que se aproximava o fim de sua vida. Durante dois meses falei com elas por telefone praticamente todos os dias. Torcíamos pela melhora do Mário. Fiquei ansioso à espera do momento adequado para ir retratá-lo em Porto Alegre para o livro “Senhoras e Senhores”.
Eu corria contra o tempo. Primeiro, sabia do precário estado de saúde de Quintana. Segundo, estava expirando o prazo de conclusão do meu livro. Numa sexta-feira, enfim, eu estava no hotel onde ele morava. O poeta estava sentado à cama, ouvindo o “Adágio”, de Albinoni. Na parede, um pôster da atriz sueca Ingrid Bergman e uma foto dele com uma admiradora, a atriz brasileira Bruna Lombardi. Antes de despedir-me, fiz as mesmas quatro perguntas que apresentei para os personagens anteriores. Uma delas sobre a sensação de ultrapassar os 80 anos. Respondeu-me:
- A idade, meu jovem, é uma cruel invenção do calendário”.
Outra das minhas perguntas foi: qual foi o melhor momento de sua vida?
- Bá, tchê, pois não foi quando nasci?

Mato Grosso - Cena Brasileira - Trio trio pif-paf

 
Eu viajava pelo interior do Brasil em busca de cenas e personagens para o livro Corpo e Alma, na década de 1990. Não deixei de ir a à pequena Santo Antônio do Leverger, perto da capital mato-grossense de Cuiabá, porque sempre foi lugar de muitas superstições e tradições. Há mistérios e histórias dos idos do século dezenove sobre o resgate da imagem de um santo milagreiro que desapareceu nas águas do rio que corta a vila. Era porto obrigatório dos bandeirantes que desbravaram o Centro-Oeste.
A tranqüila rotina da cidade só é quebrada no carnaval porque é tomada pelos turistas que para lá se destinam em busca de alegria no ritmo tipicamente regional da dança do siriri. E também nos feriados, quando os jet-skies e as lanchas esportivas movimentam o Rio Cuiabá. Porém o que mais diverte os moradores locais — gente simples, em geral, canoeiros, vaqueiros e pequenos agricultores — são as descontraídas partidas de pif-paf nas feiras de sábado. Vence o jogo o competidor que conseguir montar e baixar à mesa seqüências ou trincas com as cartas do baralho destinadas a cada um.
É o que faziam essas três risonhas e brasileiríssimas figuraças.

 

Recife e Olinda - Dom Hélder Câmara

 
Pelas leis do Vaticano, todos os cardeais – com exceção daquele que se torna Papa – são obrigados a se aposentar quando chegam à idade de 80 anos. Não foi diferente com o irrequieto Dom Hélder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife por mais de duas décadas. Em 1990, teve de deixar para trás sua infatigável e ideológica vida religiosa. Mudou-se do Palácio Episcopal para a pequenina Igreja das Fronteiras, na Ilha do Leite, bairro da capital pernambucana.
Até o momento de sua morte, em 1999, manteve a simplicidade que trouxe da infância pobre no interior do Ceará, onde nasceu, e noutros estados do Nordeste. Mesmo quando morou na sede da Santa Sé, em Roma, Dom Hélder não abriu mão da humildade e da modéstia. Para ele, o mais importante não era a ostentação e sim o combate às desigualdades sociais.
Como foi – Fui a Recife fotografar Dom Hélder para um livro que publiquei em 1992, “Senhoras e Senhores”. Meu foco eram os “oitentões” mais conhecidos do Brasil. E Dom Hélder era um deles, personagem que fotografei inúmeras vezes. Agora com atividades menos atribuladas acordava religiosamente cedo e celebrava missa, auxiliado por uma freira e um frade. Depois, sentava-se em uma cadeira de balanço, sob a imagem de Jesus para contar histórias e relembrar os tempos em que enfrentava o regime militar do Brasil, de quem foi um dos seus principais contestadores.

 

Copa 2014 - Neymar Jr


A importância de um ídolo: o olhar do craque para o pequeno fã. - Fim do jogo Holanda 2, Brasil O

Manif - Protestos, protestos


Manifestação de mutuários da casa própria, em frente ao Congresso Nacional.
Os habitantes das capitais administrativas de todo o mundo convivem com manifestações de vários setores da sociedade. Também é assim em Brasília, onde praticamente todos os dias a Praça dos Três Poderes é cenário de manifestações dos mais variados os tipos. São, por exemplo, passeatas de motoristas de ônibus que reivindicam melhores condições de trabalho, funcionários querendo aumento de salários, professores sonhando com reajuste de horários, sem-terra batalhando pela reforma agrária, pacifistas bradando contra a violência etc. etc.
Essa aí aconteceu na tarde de uma de quina-feira, emoldurada pelo belo pôr-do-sol. Os manifestantes empunhando suas bandeiras. Lembra o magnífico filme “O Incrível Exército de Brancaleone”, dirigido pelo cineasta Mário Monicelli e estrelado por Vittorio Gassman, que relata com bom humor a caminhada de um grupo de críticos cidadãos contra os governantes na Idade Média”.

Interiores - O Brasil às seis da tarde


Casinha de fazenda perto de Passa Quatro, Minas Gerais.

Rodovia que vai de Manaus para a pequena cidade de Breves, no Amazonas.
Ernesto Geisel - A descontração do general

O general Ernesto Geisel, falecido em setembro de 1996, chegou à Presidência da República com a fama que sempre teve: a de durão. Era homem avesso às brincadeiras, pilhérias, piadas e chistes. De poucas palavras, ouvia mais que falava. Ao suceder o general Garrastazú Médici no Palácio do Planalto, demitiu os acusados da morte do jornalista Wladimir Herzog, em São Paulo. Tinha o propósito de promover a chamada abertura política.
E deu uma surpreendente demonstração visual desse propósito deixando de lado sua antipatia à descontração. Durante uma viagem a Natal, no Rio Grande Norte, o rigoroso Ernesto Geisel caminhou tranquilamente de pela Praia dos Artistas, em frente ao Hotel dos Reis Magos, vestindo nada mais que um short de banho.
Trabalhando no jornal O Globo, eu era o fotógrafo designado para a cobertura da Presidência da República. Da mesma forma que os colegas de outros jornais, viajávamos a qualquer hora para todos os lugares. Essa visita de Geisel ao Rio Grande do Norte foi inesperada, e não tivemos tempo de providenciar reservas de hotel. Por isto, tive que pegar “carona” no quarto de colegas de outros jornais, os concorrentes, mas não inimigos. O quarto era pequeno e só me coube dormir num cantinho junto à janela, que dava frente para a praia.
Às seis da manhã, fui acordado por um dos “donos” do apartamento assustado com o que estava vendo: o general, vestindo de short, caminhando na praia. Inexplicavelmente, nenhum deles teve a iniciativa de retratar o momento tão raro e simbólico. Não tive dúvida. Coloquei uma teleobjetiva de 300 milímetros na minha inseparável Nikon e rodei dois rolos de filmes, sem sair de onde estava, no cantinho do quarto, junto à janela.
Relatei o fato ao meu companheiro de equipe, Merval Pereira. Ficamos com receio de – como estávamos vivendo ainda os tempos da censura à imprensa – ter as fotos tomadas pelos seguranças.
Por volta das sete e meia, estávamos no café da manhã no térreo do hotel, e o secretário de Imprensa do presidente, Humberto Barreto, veio ao nosso encontro. Tememos que fosse reclamar das fotos que eu fizera. Que nada. O que ouvimos de Humberto foi algo bem diferente. O passeio matinal aconteceu por pura intenção. Geisel sinalizava que se despia da farda para indicar rumos mais amenos para o futuro.

Projeto Dores - Campanha contra a violência no trânsito

Começou a ser publicada nesta semana nas revistas, na Internet e jornais impressos de todo o Brasil a série de fotos que estou fazendo para a campanha contra a violência no trânsito, do Ministério das Cidades. O projeto intitulado “Dores” tem a finalidade de, por meio de fotografias, sensibilizar condutores de veículos a dirigir com responsabilidade para evitar acidentes.
Evidentemente, antes de dar início ao trabalho, eu tinha a certeza de que iria estar diante de personagens definitivamente marcados pela dor, pelo sofrimento, pela morte, pela perda de um ente querido, um familiar, um amigo, um conhecido.
Mesmo sendo um foto-jornalista acostumado ao longo de anos a estar frente a frente de fatos os mais variados, de catástrofes e tragédias, não podia imaginar iria encontrar tanto sofrimento. Entrei em contato, através de entidades que reúnem familiares de pessoas vitimadas por acidentes e, durante semanas me comuniquei com elas por e-mail e por telefone. Expliquei-lhes da importância de emprestarem sua imagem em benefício da causa. Para minha surpresa, nenhuma delas de opôs. Ao contrário, se dispuseram a posar para uma foto expressando sua dor, sua revolta, o clamor pela punição dos culpados.
Passei noites sem dormir e dias a fio concentrado, preocupado em dar um conceito ao conjunto de fotos. Pedi a cada um dos personagens – residentes em pequenas e grandes cidades de vários estados do País – que me enviasse uma fotografia de seu familiar falecido. Mandei imprimir a foto de todos e colocá-las num porta-retratos para estes tomarem parte da cena.
Pensei em luz, ângulos, planos, objetivas. Queria que o rigor estético fosse de extrema importância para conferir emoção a cada imagem. Queria a marca do jornalismo presente em cada situação. Só não me lembrei: nada é mais forte que o sentimento do ser humano e suas dores.
Logo na primeira sessão de fotos, o conceito e o padrão que eu traçara caíram por terra. Perderam de longe para a realidade em frente à minha câmara. Então, pude ver que a força das lágrimas, da consternação, da tristeza e, enfim, da dor de cada pessoa eram imbatíveis.
Em nome de atingir meu objetivo (cada imagem prender a atenção de quem a ver), pensei fazer fotos em preto-e-branco. A ausência das cores poderia oferecer maior dramaticidade. Depois, refleti se deveriam ser coloridas porque os matizes dariam maior caráter de realidade ao drama presente. Mas, ao ouvir uma senhora que perdeu o filho adolescente, optei pela técnica do Photoshop que reduz a força de cada cor. E o que disse-me mãe, com palavras carregadas de consternação?
- Ao receber a notícia da morte do meu filho, perdi a noção das distâncias, a precisão dos aromas, a delícia dos sabores e a beleza das cores.
Indescritível a sensação de colocar meu ofício para a finalidade de captar a aflição no seu mais alto grau. Não deixo de me recordar do livro “Diante da dor dos outros”, da ensaísta americana Susan Sontag, falecida em 2004. A escritora faz uma densa análise do que sente um fotógrafo com a missão de captar a amargura do ser humano.
A dor de Neusa e Suse
Nessa foto, estão Suselaine Camargo e sua mãe, a senhora Neusa, moradoras de Taubaté, em São Paulo. Há dois anos a manicure Silvia – irmã de Suselaine e filha de Dona Neusa – perdeu a vida quando voltava de um evento religioso. Um motorista embriagado a atingiu com seu automóvel em alta velocidade. Silvia deixou órfãos dois filhos. O mais novo, de seis anos. O outro, de 16. E o esposo.

A forte face da dor 
Grazielly Rodrigues e dois de seus quatro filhos, moradores da cidade de Itanhadu, no Sul de Minas Gerais. Sobre a mesa, o porta-retratos com a foto dos avós, seu Joaquim e dona Maria Leonor, mortos por um motorista embriagado que colidiu com a camionete em que estavam, no dia 2 de novembro de 2004.
Cristina Maria e os filhos Guilherme e Gutemberg
Dois de junho de 2013, dez horas da noite, no bairro Barra de Jangada, em Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco. Cristina Maria da Silva, de 37 anos, saia da missa na capela de Santo Antônio e ficou curiosa quando viu uma aglomeração de pessoas na esquina.
Ao chegar ao local deparou-se com a cena mais triste de sua vida: a morte do seu próprio marido.
Givanildo Geraldo da Silva era garçom de um restaurante na Praia de Boa Viagem, em Recife. Quando voltava para casa, sua moto foi abalroada por um carro em alta velocidade. Ficou em coma durante três dias, mas não resistiu. Deixou além da esposa Cristina dois filhos, de 11 e 13 anos.

A dor da família Leal
Moradores da pequena cidade de Itamonte, no Sul de Minas, o senhor Newton Bernardino, suas filhas Marcelle e Leandra, e os netos Joaquim e Kauê sofrem intensamente a perda de dona Elizabeth. Ela foi atropelada por um motorista bêbado, quando fazia sua corrida matinal.

Trapézio - Livre criação IV

 

FROIS - Inverno em Paris



 

Festa em Parintins - Caprichoso ou Garantido







E S P M JOR-308 – FOTOGRAFIA - 2º semestre – 2015
Fotojornalistas e Fotografias - Trabalho individual
(Orientadores: Professores Lorca e Gilson)
Objetivo
• Pesquisar, analisar e comentar a trajetória e o trabalho de um fotojornalista que
atuou no jornalismo brasileiro.
Dinâmica
• Escolher um fotógrafo da lista fornecida, que estará disponibilizada a partir do dia 8
de Outubro, no Laboratório de Fotografia Digital. Só poderá ser escolhido um
fotógrafo por aluno/professor da lista.
Apresentação
• Texto introdutório contemplando:
o Resumo de sua trajetória como fotojornalista
o Breve observação crítica sobre sua obra no contexto do período em que atuou
- porém o mais importante para o trabalho serão as observações técnicas e
estéticas acima abordadas.
• Fotos representativas do trabalho do fotógrafo comentadas técnica (profundidade de
campo, tempo de exposição, etc.) e esteticamente. A quantidade de fotos deve ser no
mínimo 8 e no máximo 12.
Requisitos
• Todo o texto deverá ser redigido com suas próprias palavras e quaisquer frases
citadas na íntegra precisarão ter suas respectivas referências, ou seja, as fontes de
onde foram extraídas deverão ser indicadas (livros, artigos, internet, etc..) e todos os
sites e literatura impressa utilizada para sua elaboração devem ser citados.
• Para enriquecer esteticamente seu trabalho poderá privilegiar a mesclagem (mistura)
de texto e imagem numa mesma página.
Forma de entrega
• Utilizar uma fonte padrão (Cambria, Georgia ou Times New Roman), corpo 11 e
espacejamento entre linhas 1,5. Para enriquecer esteticamente o trabalho poderá ser
privilegiada a mesclagem (mistura) de texto e imagem numa mesma página.
• O trabalho deve ser entregue impresso no tamanho A4, acompanhado do arquivo PDF

• Somente será aceita a entrega completa - impresso + arquivo PDF.

Edinei Sena

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