Queda da inflação acelera na Zona Euro
A taxa de inflação na Zona Euro recuou para -0,6%,
em Janeiro, o que corresponde à taxa mais baixa de sempre.
A taxa de inflação na Zona Euro desceu de -0,2%, em
Dezembro, para -0,6% em Janeiro, revelam os dados revelados pelo Eurostat na
data, 30 de Janeiro de 2015.
Esta é a taxa mais baixa de sempre, em ex ao
período com Julho de 2009 á Julho de 2010.
A contribuir para
este comportamento terá estado a generalidade dos segmentos: a energia acelerou
a queda, os preços da alimentação, bebidas alcoólicas e tabaco também desceram,
bem como os preços dos bens industriais. A exceção terá sido o segmento dos
serviços, cujos preços terão aumentado 1%, segundo a mesma fonte.
A taxa de inflação
"core", ou seja, excluindo a energia e a alimentação, abrandou para
0,5%, em Janeiro de 2015, quando em Dezembro 2014, tinha-se fixado em 0,7%. A
leitura de Janeiro é assim a mais baixa desde que o euro entrou em vigor (1999),
realça a Bloomberg.
A taxa de inflação
tem representado uma dor de cabeça para o Banco Central Europeu (BCE), cuja
principal missão é garantir a estabilidade de preços, com a meta a ser uma taxa
em torno dos 2%.
E o BCE tem
implementado medidas para combater a queda dos preços. Ainda na semana passada,
a autoridade anunciou o: Programa de compra de dívida pública e privada no
montante de até 60 mil milhões de euros por mês.
Este programa tem como objetivo travar a queda da
inflação e injetar liquidez no mercado que permita financiar a economia.
PWC analisa conjuntura da
Zona do Euro - Cynthia Navarro Vargas Brandão
Em análise realizada por economistas da PWC, como a
Alemanha, França e Itália não atingiram as expectativas de crescimento para o
segundo trimestre de 2014, foi a vez de países economicamente periféricos da
Zona do Euro (“soft core”) de saírem das sombras.
O relatório aponta que economias como Espanha e
Portugal se recuperaram, sendo que a primeira obteve um rendimento de 0,6% de
trimestre a trimestre – o maior índice em mais de cinco anos. Enquanto isso, a
Alemanha diminuiu com um rendimento de 0,2% de trimestre a trimestre, a Itália
entrou em recessão pela terceira vez desde 2008; e a França encarou um segundo
trimestre consecutivo de crescimento nulo.
“Acreditamos que a Alemanha recuperará sua forma no
terceiro trimestre, visto que a última contração foi parcialmente motivada por
fatores temporários – um primeiro trimestre forte e o agravamento da situação
Ucrânia/Rússia. Estamos menos otimistas em relação aos outros países principais
da Zona do Euro”, afirma Richard Boxshall, economista sênior da PWC”.
De acordo com os economistas, os efeitos do forte
crescimento já são notados na taxa de desemprego da Espanha, que descende desde
o final de 2013. Um desempenho igualmente forte deve continuar no terceiro
trimestre para a maioria das economias periféricas, decorrente de uma intensa
temporada de turismo.
Com base nos dados feitos, os economistas da PWC
reviram suas projeções em relação ao cenário da Zona do Euro de 1,1% para 0,8%
em 2014, refletindo o enfraquecimento dos três países nucleares.
A análise também mostra que nos Estados Unidos as
perspectivas são relativamente estáveis, com um crescimento das taxas de juros
esperado para o próximo ano. Algumas preocupações foram levantadas em relação a
maior economia do mundo após um decepcionante desempenho no primeiro trimestre
do ano, no qual o PIB (Produto Interno Bruto) encolheu 0,5% durante o trimestre
(ou 2,1% em uma base anual). Entretanto, essa diminuição foi em grande parte
resultante de fatores temporários, incluindo condições climáticas adversas e a
correção de estoques.
Segundo a PWC, a estimativa revisada para o segundo
trimestre mostrou um desempenho muito melhor com um crescimento de trimestre a
trimestre de 1,0% (ou seja, um índice de crescimento anual de 4,2%), dirigida
principalmente pelos gastos com o consumo pessoal e um aumento dos estoques.
“Essa recuperação estava amplamente de acordo com
nossas expectativas anteriores, dessa forma ainda esperamos uma média de
crescimento de 2,1% dos Estados Unidos ainda este ano, atingindo uma melhora de
cerca de 3% em 2015, completa Boxshall”.
Crise do euro:
Europa redescobre seus novos pobres. No Brasil tudo vai bem?
A análise da conjuntura é uma (re) leitura das "Notícias do
Dia” publicadas, diariamente, no sítio do IHU. A análise é
elaborada, em fina sintonia com o Instituto Humanitas Unisinos - IHU,
pelos cientistas do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores - CEPAT -
com sede em Curitiba, PR, parceiro estratégico do Instituto Humanitas Unisinos
- IHU.
Europa. Encurralada e amedrontada
Grécia. Pária da Europa
O mercado no lugar da democracia
Europa começa a descobrir seus novos pobres
Europa. Aprender com a América Latina?
Plano Fênix para a América Latina
Brasil no contexto mundial de incertezas econômicas
Por aqui tudo vai bem?
Desindustrialização. Má notícia em tempos de crise mundial
A questão social
A questão ambiental. O desafio de dialogar com a economia
Conjuntura da Semana em frases
Crise se alastra na zona do euro - Europa: Encurralada e amedrontada.
A Europa
encontra-se à beira de uma grave recessão com implicações imediatas nas condições da vida da sua população.
A zona do
euro dá sinais de esfacelamento e ameaça atingir o seu núcleo duro, a França e
a Alemanha.
Depois do
falimento completo da Grécia, do colapso que ameaça a economia portuguesa, da grave recessão em que se encontra a Espanha e, agora, da crítica situação italiana, já não se descarta que a crise chegue até a
França e a Alemanha, os dois bastiões do euro. Nos bastidores já se cogita a
adoção de novas regras para se refazer a arquitetura da zona do euro
que faz água por todos os lados.
A Europa
está encurralada e
amedrontada. Resultante da grande crise –
que se iniciou em agosto de 2007 e atingiu seu vértice com a quebra do banco
americano Lehman Brothers em setembro de 2008 – a crise da zona do Euro
enfrenta a sua segunda grande onda depois do primeiro forte movimento de abalos do mercado. De lá para cá, após uma breve calmaria, a crise
retomou o seu furor e vem arrastando todos os países.
A
angústia instalou-se no velho continente.
O sinal
de alerta soou nos últimos dias com a notícia de que as previsões de crescimento para os
países da zona do euro no próximo ano foram reduzidas de 1,8% para 0,5%. Isso
significa que a Europa está à beira de uma recessão.
As
perspectivas se tornam ainda mais sombrias quando se têm presentes as
orientações do Banco Central Europeu (BCE) que alertou os governos do
continente para que radicalizem as reformas. "Todos os governos do bloco
europeu devem acelerar a implantação de reformas estruturais substanciais e
abrangentes", escreveu o BCE. Ora, radicalizar reformas
significa atingir, sobretudo, as áreas sociais.
Para uma
retomada do debate acerca da natureza da crise de 2008 que está na origem da
crise da zona do euro, sugerimos a leitura da revista IHU On-Line nº
276.
A crise financeira internacional.
O retorno de Keynes e
a IHU On-Line nº 278.
A financeirização do mundo e sua
crise. Uma leitura a partir de Marx. Outras revistas do IHU On-Line retomaram o debate
acerca da crise do capitalismo mundial, entre elas destacamos a revista
nº 287.
A crise capitalista e a esquerda e,
recentemente, tendo como referência essa análise, a revista nº 330.
Grécia.
Pária da Europa
Toda a
perversidade da crise da zona do euro se manifesta na Grécia. O país somatiza e
sintetiza o sofrimento das conseqüências de uma crise que começou no sistema
financeiro. As autoridades repassam o remédio amargo sugerido pela União
Européia para o seu povo. "A Europa impõe um neocolonialismo à
Grécia", afirma , afirma o economista Gabriel Palma.
Segundo esse professor, da Universidade de
Cambridge (Reino Unido), "acontece na Grécia, o que acorreu na América
Latina muitas vezes. Foi criada uma crise e os que pagam pela crise são outros.
A Grécia cortou 25% da educação pública, 95% da saúde pública, deixaram a
habitação à zero. Nenhum desses setores foi causa da crise. Uns se beneficiaram
e são outros os que estão pagando".
A crise
da Grécia tem a ver com o seu ingresso do país na Comunidade Econômica Européia
(CEE). Como todo país que ingressou no euro, a Grécia teve que, além de
cumprir uma série de metas fiscais, monetárias e financeiras, renunciarem à
possibilidade de emitir sua própria moeda. Esse privilégio ficou nas mãos do
Banco Central Europeu (BCE), entidade supranacional que funciona como um
banco central independente. O BCE tem como uma de suas regras
não financiar déficits fiscais dos Estados membros.
Logo, os
países ficam seriamente restringidos em suas políticas econômicas pela
dificuldade de obter créditos.
A receita
para a Grécia permanecer na zona do euro e receber ajuda financeira foi e
continua sendo duríssima: demissões, cortes salariais, adiamento das
aposentadorias, aumento de tarifas e impostos e privatizações. Ironicamente, a
Grécia, ao procurar abrigo na solidez da zona do Euro, encontrou a tragédia.
Foi do Olimpo ao inferno. A sociedade grega explodiu em manifestações, fez protestos, mobilizações, greve e agora se
encontra desiludida, entregue a própria sorte.
O mercado
no lugar da democracia.
A Europa,
berço da civilização política moderna, cede ao mercado. A política, uma
construção das forças civilizatórias, cede espaço às orientações liberais. Uma
simples menção a organização de um plebiscito na Grécia para colocar em debate as reformas
no país causou a ira do mercado.
O
economista Gabriel Palma afirma
que "a queda de George Papandreou é uma vitória do
mercado financeiro, que conseguiu enterrar a idéia - mal encaminhada - do
plebiscito na Grécia. O pacote de resgate imposto pela Europa ao país é uma
forma de neocolonialismo. Alemanha e França pensam que têm o direito de decidir
o que acontece na Grécia depois do resgate. A falta de democracia é absoluta",
diz ele: "Quando se passam perdas privadas para o setor publico tem que
perguntar às pessoas que vão pagar. Os setores financeiros têm a maior parte
desses governos no bolso. Ninguém quer a democracia".
Segundo o economista, "as condições que a
Europa impôs à Grécia para o plano de resgate são uma forma de neocolonialismo.
É cortar os gastos de educação, saúde, habitação - que paguem os que não têm
responsabilidade pela crise. Houve um nível de brutalidade e de caráter
antidemocrático muito forte. Alemanha e França pensam que têm o direito de
decidir o que acontece na Grécia depois do resgate. A falta de democracia é
absoluta".
Sem
direção e pressionada pelo mercado, a Europa troca as elites políticas locais
por tecnocratas, adia eleições e dá prioridade à aprovação de
medidas de austeridade para enfrentar a pior crise nos últimos 70 anos.
"Hoje os mercados financeiros e as grandes corporações têm o poder de
trocar governos, trocar primeiros-ministros. Isso é o fundamental da falta de
democracia", diz Gabriel Palma.
Na mesma
linha destaca um dos editoriais da Folha na semana:
"Causa espanto que a escolha de governos nacionais seja, na prática,
negociada em gabinetes de autoridades transnacionais e de organismos
multilaterais do mundo financeiro - e tudo isso na Europa, não num país falido
da América Latina, como acontecia na década de 1980".
"Os
neoliberais usam Grécia como cobaia da crise financeira", afirma o
político grego Michalis Kritsotakis. Segundo
ele, "estamos enfrentando, na verdade, a ditadura dos mercados em cima da
política e da sociedade, que não conseguem resistir. O sistema político e a
sociedade acabam servindo aos desejos dos mercados quase como um viciado em
algo, que neste caso é o credito".
A
percepção de que a política falhou em sua versão da democracia representativa,
é uma das motivações que está na origem do movimento dos indignados. Segundo
o ativista Thomas Coutrot: "A
essência do movimento dos indignados não está tanto na crítica ao sistema
financeiro, isto não é novo. A novidade está precisamente na crítica radical da
representação política, esse grito mundial que diz "vocês não nos
representam’. As pessoas estão dizendo: não é porque votamos em você que isso
lhe dá o direito de fazer o que quer contra a nossa opinião. Essa é a inovação
fundamental. “O protesto pede um retorno às fontes da democracia, a democracia
real”.
Europa
começa a descobrir seus novos pobres.
Depois da
conquista do Welfare state, chegou-se a pensar que a questão social
havia sido resolvida na Europa. Agora, o continente se dá conta que está às
voltas com seus noves pobres. Na Grécia, Espanha e Portugal, o desemprego está
acima da média européia. Agora, a Itália pode entrar nesse grupo. Pior ainda:
para dar conta de tentar estancar a crise, as medidas adotadas produzem ainda
mais desemprego, uma vez que se cortam investimentos e se promove arrocho
salarial e cortes nos gastos sociais.
A Grécia somatiza os maiores sofrimentos. Desnutrição,
AIDS, prostituição, drogas e suicídios são ameaças crescentes. A crise no país
vem atingindo duramente a saúde da nação: o número de suicídios está
aumentando, mais pessoas estão usando drogas e se prostituindo, e crescem
rapidamente as taxas de infecções por HIV.
Martin McKee, da London
School of Hygiene and Tropical Medicine, disse que outros países europeus
em dificuldades devem prestar atenção a esses fatos. "A experiência da
Grécia é uma advertência para o que pode acontecer se houver grandes cortes nos
sistemas de saúde em face de uma recessão", disse ele.
A
pobreza, que a Grécia pensava que havia superado nos anos 80, cresce com força.
Quem também alerta para a explosão da pobreza é a Igreja Ortodoxa de
Atenas.
Costis Dimtsas,
porta-voz da Igreja, explica que desde meados deste ano vem registrando um
número cada vez maior de pessoas que batem à porta dos centros religiosos em
busca de comida, remédio e um teto. "Há um tsunami vindo e 2012 verá
resultados desastrosos no campo social", disse.
Dimtsas conta que a rede de distribuição de alimentos
sequer está dando conta da demanda diária. "Antes, tínhamos esse serviço
basicamente para os imigrantes. Hoje, 60% dos que pedem comida são
gregos", disse.
Europa.
Aprender com a América Latina?
A saída
da crise na Europa pode estar na América Latina, particularmente a partir da
experiência argentina, que dentre os países latino-americanos foi talvez o que
mais desceu ao fundo do poço. "O que acontece na Grécia, foi o que acorreu
na América Latina muitas vezes", diz o economista Gabriel Palma.
Durante
décadas os países latino-americanos – e também asiáticos - foram uma espécie de
laboratório e fonte de dinheiro fácil para os interesses do mercado financeiro.
Qualquer tentativa de resistência a ortodoxia financeira e os países
latino-americanos eram amaldiçoados pelas agências de risco, basicamente três
delas: Moody “s, Standard & Poors"s (S&P) e Fitch
Ratings – guardiãs dos interesses do mercado.
As
mesmas, ao lado do FMI, desempenhavam papel similar ao da
Congregação para a Doutrina da Fé no tempo da Inquisição: julgavam e condenavam
ao anátema aqueles países que não cumpriam as obrigações determinadas pelo
mercado financeiro.
O "pão que o diabo amassou" que durante
anos países pobres e emergentes comeram das mãos das agências de risco,
voltou-se para alguns países da Europa e, surpreendentemente, até mesmo para a Meca
do capitalismo mundial, os EUA.
A
argentina foi um dos países que mais sofreu. Os anos 90 na Argentina foram os
anos de farra do neoliberalismo no país, das "relações carnais com os EUA”
descritas por Menem.
Anos de
privatizações e venda descontrolada de títulos para bancos e investidores do
mercado financeiro. A tragédia em que se meteu a Argentina no final dos anos 90
foi responsável por jogar milhares na pobreza.
O que a
Grécia e mesmo a Europa deveria fazer?
"O
que fez a Argentina em 2003: renegociar imediatamente com os mercados
financeiros", afirma o economista Gabriel Palma.
"Se eu vou a um banco e peço U$ 1 milhão para ir ao cassino e perco, a
culpa é minha. Mas também do banco que emprestou dinheiro para uma coisa tão
absurda.
É assim o
caso da Grécia. Os que emprestaram essa quantidade de dinheiro à Grécia são
igualmente responsáveis por essa situação insustentável", diz ele.
O fato
incontestável é que após pacotes bilionários para saciar a crise produzida pelo
mercado financeiro, sua sede continua incontrolável e a política –os Estados -
se manifesta incapazes de promover rupturas apesar das juras proclamadas no
encontro do G-20.
"Em
tempos anormais, são necessárias soluções anormais", escreve Luiz Carlos Bresser-Pereira,
economista.
Plano
Fênix para a América Latina.
Em tempos de crise mundial, vem da Argentina talvez
por ser um dos países que mais sofreram com os anos neoliberais, a proposta de
um fórum permanente para ampliar o debate ideológico e varrer definitivamente
os riscos de que a região retorne às orientações da ortodoxia neoclássica.
Diz o
documento que dá corpo a proposta: "Apresentamos esta contribuição sob a
invocação da ave mitológica, porque estamos convencidos de que a América do Sul
pode ressurgir da tragédia a que foi submetida por idéias e políticas incompatíveis
com os seus interesses fundamentais". O Plano tem como referência a crise
mundial e propõe um fórum permanente de debates para fazer frente à ortodoxia
neoclássica que "no cenário mundial de riscos pode novamente enredar
nossos países como fornecedores periféricos de produtos primários".
Segundo o documento, a crise da zona do euro e nos
EUA além de infligir sofrimento as suas populações é um sinal de que o
paradigma do pensamento neoliberal, hegemônico nas últimas três décadas se
enfraqueceu. Entretanto, alertam os economistas, isso não significa que não
continue hegemônico, "conforme se vê no caminho adotado pelas economias
centrais, na fraqueza de sua lideranças políticas e na crescente influência do
FMI na arquitetura financeira global que perturba a estabilidade".
"A
diferença substancial – destaca Alfredo Zaiat - para com os países
que agora sofrem e aprofundam a crise com medidas do receituário neoliberal é
que aqui já se conhecem os seus resultados dramáticos e quem foram os autores matérias
e intelectuais dos desastres. Essa vantagem relativa é que permite outro tipo
de economia na contramão dos prognósticos negativos e, ao mesmo tempo,
desenvolver uma batalha de idéias um pouco menos desigual".
Num momento em que a influência do paradigma
neoliberal como "cânone organizador da ordem mundial" está
fragilizado e diante do vazio teórico, é o momento de "retomar as idéias inspirado
por Prebisch e Furtado e outros mestres do estruturalismo
latino-americano", afirma o Plano Fênix para a América do Sul.
Brasil no
contexto mundial de incertezas econômicas - Por aqui tudo vai bem?
O Brasil
está livre do perigo do contágio da crise da zona do euro? A nossa economia
está robusta o suficiente para evitar as conseqüências da deterioração da
economia mundial?
Questões
como essas formuladas recentemente por ocasião da crise mundial pós-2008, continuam
pertinentes.
O
ministro Guido Mantega reconhece
a gravidade da crise, ao afirmar que "a crise piorou "um pouquinho’ e
países emergentes começam a sofrer com fuga de capitais", porém ressalva
que o Brasil está fora de perigo. Segundo o ministro, o problema não atinge o
Brasil, mas outros países que têm reservas internacionais menores e por isso
têm maior fragilidade no câmbio.
"O
mundo pós-crise não é previsível", afirma o economista Carlos Lessa, e por
isso mesmo o Brasil deve "botar suas barbas de molho", diz ele.
Segundo o ex-presidente do BNDES, a presidente sabe que é
necessário tomar cuidado e adotar políticas econômicas preventivas.
Essas
medidas, segundo ele, passam pelo reforço do sistema bancário oficial [estatal]
expansão do crédito e redução das taxas de juros na perspectiva da manutenção
de um mercado interno aquecido. Lessa sugere ainda cuidado com
a desvalorização do real e com a crescente desindustrialização brasileira. Diz
ele: "O câmbio tem que voltar a ser controlado.
O Brasil
não deve estimular empresas brasileiras a investirem no exterior (recentemente,
duas indústrias de calçados do Rio Grande do Sul anunciaram que vão deslocar
suas operações para a Nicarágua em busca de mão de obra barata e menor
intervenção do Estado)".
Na
opinião de Lessa, a presidenta Dilma está atenta
aos desdobramentos da crise. "A presidente é economista, com sólida
formação e ampla informação". Comenta, porém: "Somente critico a
presidente pela modéstia das medidas. Outra presidente sul americana, que vem
adotando medidas radicais de defesa nacional, acabou de receber uma reeleição
consagradora. A timidez não é sábia em momentos de crise mundial".
A
referência à Argentina feita por Lessa é partilhada pelo
economista chileno Gabriel Palma:
"Argentina é diferente na América Latina, tanto na política monetária
quanto nos problemas que tem. Não que eu seja otimista, mas ao menos, uma coisa
interessante na Argentina é que se está tomando medidas mais agressivas, mais
pragmáticas, no sentido de uma política monetária expansiva, uma política
fiscal expansiva, de uma regulação dos fundos de pensão e de outras partes do
mercado financeiro. Pelo menos está fazendo algo".
Sobre o Brasil, o economista afirma que os
problemas se concentram nas altas taxas de juro e no fato de que "o êxito
tem se baseado no crescimento dos preços das commodities e na grande entrada de
capital estrangeiro". Em sua opinião a "sorte" do Brasil são
suas reservas. "O mais importante que vai minorar o ajuste são as grandes
reservas que tem o Banco Central; é um grande colchão. Isso México, Peru e
Chile não têm. Com sorte, o Brasil vai seguir. Com má-sorte vai desacelerar
mais", destaca.
Um sinal
de que o Brasil está preocupado com as conseqüências advindas da crise da zona
do euro pode estar no movimento do Banco Central de redução da taxa de juros. A medida objetiva manter aquecida a economia
interna. Foi vista, porém, com desconfiança pelo mercado financeiro, na
contramão da pressão inflacionária que em sua opinião exigiria medida
exatamente contrária.
O
economista e ex-ministro Delfim Netto considerou
acertada a decisão: "O angustiante quadro mundial revela que as hipóteses
da política econômica brasileira estão a confirmar-se. Mais do que isso, ele dá
razão à política monetária (apoiada numa política fiscal mais austera) que
tenta antecipar-se à queda da nossa taxa de crescimento reduzindo a taxa de
juros real".
Na
realidade, o governo Dilma tem oscilado entre medidas de caráter liberal e
keynesianas. O
pêndulo de Dilma na economia tem por um lado a preocupação com a economia
interna, mas também o horizonte do cenário mundial. As medidas, sobretudo
macroeconômicas, desejam responder ao contexto internacional de crise.
Até o momento, assiste-se a um discurso confiante
do governo, da capacidade do país resistir à conjuntura econômica mundial
adversa. Um discurso com certo tom ufanista e triunfalista que se vale do
crescimento econômico obtido pelo país nos últimos anos e do acesso social de
milhares de brasileiros via mercado de consumo.
Essa interpretação precisa, entretanto ser
complexificada. Como vimos destacando em análises anteriores é fato
incontestável o crescimento do Brasil, porém persistem problemas e gargalos. Na
economia é sério os riscos de desindustrialização em face de crescente com monetização
da balança comercial. Na área social, apesar da crescente acesso ao mercado de
consumo por milhares de brasileiros, persiste no país um enorme passivo social.
Ao lado desses temas, tem-se ainda o passivo ambiental que já não pode ser
visto como uma externalidade a economia de mercado.
Desindustrialização.
Má notícia em tempos de crise mundial
O peso da
indústria de transformação na economia nacional já foi na ordem de 30% nos anos
70, hoje está na ordem de 20% nas avaliações mais otimistas. Proporcionalmente
ao encolhimento da indústria junto ao PIB brasileiro,
assiste-se ao crescimento da economia baseada em produtos primários, a
denominada com monetização ou ainda reprimarização da
economia, com o avanço do agronegócio e da mineração. A pauta de exportações
brasileira é feita, sobretudo, de produtos básicos, de commodities e
mercadorias de baixa tecnologia, por outro lado, cresce a pauta de importação
de bens manufaturados.
Economia desindustrializada significa perda de
competitividade no mercado internacional. É na indústria de transformação que
se desenvolve pesquisa e tecnologia o que possibilita ganhos para o conjunto da
economia de um país. Por outro lado, a desindustrialização precariza o mercado
de trabalho.
Como
resposta e reação a crescente desindustrialização, o país anunciou recentemente
o plano Brasil Maior. Sobre o plano, o jornalista Vinicius Torres Freire afirma
que "a política industrial de Dilma é um programa de
defesa comercial disfarçado e um analgésico para o real forte". A crise da
zona do euro e a crise americana estão por detrás das medidas do Plano Brasil
Maior.
O debate
sobre a desindustrialização brasileira tem sido recorrente no sítio do
IHU e duas revistas IHU On-Line, entre outras, dedicaram-se
particularmente ao tema: O Brasil está se
desindustrializando? Um debate – IHU
On-Line n. 218 e Economia brasileira. Desafios e
perspectivas - IHU
On-Line n. 338.
A questão
social
Apesar
dos reiterados indicadores de que a economia brasileira cresce, de que milhares
de brasileiros chegaram à classe C -
calcula-se que 58% da população pertencerá à classe C em 2014 – num vigoroso
movimento de mobilidade social para a parte de cima da pirâmide, os indicadores
sociais brasileiros indicam que a questão social permanece como um grande
desafio na sociedade brasileira como se pode perceber da divulgação do último Índice de Desenvolvimento Humano
- IDH, segundo o Relatório de Desenvolvimento de 2011 do PNUD (Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento).
O IDH,
que varia entre zero e um (quanto mais próximo de um, maior o nível de
desenvolvimento humano), leva em conta as realizações médias de um país em três
dimensões: a possibilidade de usufruir uma vida longa e saudável, o acesso ao
conhecimento e um padrão de vida digno.
O Brasil
ficou na 84ª posição entre 187 países. Considerando a divulgação dos anos
anteriores, a posição brasileira é de estagnação. Segundo o economista Flávio Comim, "o
Brasil sobe a "ladeira do IDH’ como uma pessoa sedentária sobe uma
montanha: vem para cima, mas diminuindo cada vez mais o passo e um pouco
ofegante".
De acordo
com Comim, "esse desempenho lento do Brasil tem nome e
sobrenome: chama-se falta de investimento na educação e saúde e baixo impacto
dos mesmos. Enquanto a renda nacional bruta per capita passou de US$ 7.689 em
2000 para US$ 10.162 em 2011 (crescimento de 32%), na educação, os anos médios
de estudo dos brasileiros acima de 25 anos passaram de 5,6 anos em 2000 para
7,2 anos em 2011 (crescimento de 28.6%)".
O
economista acrescenta que "por sua vez, a expectativa de vida escolar caiu
no mesmo período de 14,5 para 13,8 anos (redução de 5%). Na saúde, a
expectativa de vida ao nascer passou de 70,1 em 2000 para 73,5 em 2011
(crescimento de 5%)". Conclusão de Flávio Comim: "Assim,
pode-se dizer que o progresso nas áreas da saúde e da educação foi bem menos
significativos do que os avanços na renda".
O
economista Eduardo Fagnani contesta
a análise de Flávio Comim. Segundo ele, "a questão social no Brasil é
uma chaga secular", porém considera que não se podem negar os avanços
realizados.
Outro
indicador que revela o gap social no país é da pobreza
infantil. A Cepal e a UNICEF divulgaram nos
últimos dias um relatório que reflete a situação da pobreza infantil na
América Latina. A pobreza na América Latina chega a 45% do total de menores que
vivem na região. Isto quer dizer que existem 80,9 milhões de menores que têm
uma ou várias necessidades básicas insatisfeitas. O Brasil, uma das potências
econômicas da região, tem uma pobreza infantil de 38,8%.
O
resultado do relatório Índice de Desenvolvimento Humano 2011, que colocou o
País na 84.ª colocação entre 187 países, provocou uma irada reação – incitada pelo ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva – do governo brasileiro.
A
ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, contesta os
dados do PNUD ao afirmar que o relatório usa números de 2006, o que impede o
registro de avanços significativos do País nos últimos cinco anos. "É
justamente depois de 2006 que o Brasil avançou significativamente nas questões
da pobreza multidimensional. A partir de 2007, incorpora-se uma parcela grande
de pessoas à Bolsa Família, há a valorização do salário mínimo, da agricultura
familiar, ampliação significativa do programa Luz para Todos. Se conseguirmos
incorporar os números mais recentes no próximo relatório, certamente teremos um
salto muito grande", disse ela.
Quem
também entrou na briga contra dos dados do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento - PNUD foi o IPEA. O
instituto começa a botar em cheque a credibilidade do relatório do PNUD e
diz estar pronto para produzir um IDH próprio, caso o PNUD não
se mostre convincente.
Apesar da
reação do governo, o IDH deixa patente o passivo na área
social no país. A resposta pode estar no fato de que crescimento econômico,
expansão no consumo, não resolve por si só os problemas estruturais da
sociedade brasileira, particularmente na área da saúde e educação.
A questão
ambiental. O desafio de dialogar com a economia
A
temática ambiental exige uma leitura associada ao tema da crise mundial. O meio
ambiente e a economia não são temas desconexos. O próprio relatório do
Desenvolvimento Humano 2011, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) e citado anteriormente, é em grande medida
voltado às questões ambientais. O documento se intitula "Sustentabilidade e
Equidade: Um Futuro Melhor para Todos" e fala da influência do meio
ambiente sobre o desenvolvimento dos países.
O
relatório ressalta que uma pessoa num país com um IDH muito
elevado é responsável, em média, por mais de quatro vezes as emissões de
dióxido de carbono e cerca de duas vezes as emissões de metano e óxido nitroso
de uma pessoa num país com IDH baixo, médio ou elevado.
O PNUD aponta
que existe uma relação não linear entre o IDH e as emissões de
carbono num país. Nações com maiores emissões tendem a ter atividade econômica
maior, o que faz seu IDH aumentar, mas não implica que tenham
bons indicadores em outras componentes do índice, como saúde e educação.
Mas há
outras questões ambientais que podem ser mais claramente relacionadas com
o IDH. As privações ambientais vividas pelas famílias, como a
poluição do ar e a falta de acesso a água potável e saneamento, por exemplo,
são mais graves nas regiões com níveis mais baixos de IDH e
diminuem à medida que o índice aumenta.
O PNUD considera
que, de maneira geral, as tendências ambientais ao longo das últimas décadas
"demonstram uma deterioração em diversas frentes", com efeitos
negativos no desenvolvimento humano, especialmente para as pessoas que dependem
diretamente dos recursos naturais para subsistência.
Logo,
o PNUD revela que a separação entre economia e ecologia é
errônea e desastrosa. Impulsionada, entretanto, pela idéia de progresso linear
e quantitativo assentado sobre o crescimento econômico e recursos naturais
ilimitados, a economia, na sociedade industrial, foi se desvencilhando
gradativamente do meio ambiente e passou a medir as riquezas dos países com o
redutor índice do Produto Interno Bruto (PIB) que não leva em
consideração o ativo ambiental, para ficar nos conceitos econômicos.
Esta visão justificou – e ainda justifica – a visão
predatória dos recursos naturais, a extinção da biodiversidade, a poluição.
Isso fundamentalmente porque a natureza foi considerada pela economia como uma
externalidade, isto é, como algo que não entra no cálculo econômico.
Justificava-se a destruição da natureza em vista da criação de
"riqueza".
Um
exemplo de que a ecologia ainda continua sendo uma "externalidade" à
economia pode ser vista no debate sobre o código florestal. Isso para ficar apenas em um exemplo e não citar
a construção de mega-hidrelétricas – Belo Monte, Complexo Madeira, Complexo
Tapajós –, abertura de rodovias e hidrovias, ampliação da exploração de madeira
e minérios, expansão da pecuária e das monoculturas da soja e da cana-de-açúcar.
A Reforma
no Código Florestal é motivada por lógica produtivista. No Novo Código Florestal falta sinergia entre economia e
ecologia. Para o pesquisador Dieter Wartchow em
entrevista ao IHU, "estudar e cuidar da "casa’ pode
significar um processo de desenvolvimento econômico mais duradouro e
sustentável. “Neste, nota-se certo cartesianismo nos percentuais e números
propostos, visto que, a natureza tem características singulares de acordo com o
bioma e região.”
"Não
dá mais para tratar a natureza como um modelo de negócio’", insiste Carlos Alberto Scaramuzza também
em entrevista ao IHU. Segundo ele, "hoje, se não tivermos o quarto
capital, que é o natural, todos os negócios estão falidos, ou por questões de
produtividade ou por deixarem os recursos existentes para a produção. Isso se
aplica à agricultura e à qualquer outra questão. Não dá mais para tratar a
natureza como um modelo de negócio".
A
aprovação da reforma – para pior – no Código Florestal coloca a nú a
subordinação da agenda ambiental à agenda econômica. Nos três anos em que esse
tema pautado pela bancada ruralista se encontra em debate, o governo pouco fez
para impedir o avanço das teses do agronegócio.
Os acontecimentos da última semana envolvendo o debate do código florestal apenas
confirmam essa tese.
No
contexto acima, e tendo presente o debate da crise mundial, destacamos a vinda
nessa semana ao Brasil de Serge Latouche.
O
economista, sociólogo e antropólogo Serge Latouche, professor na
Universidade de Paris-Sul (Paris), é uma dos nomes mais respeitados no debate
sobre as implicações da obsessão pelo crescimento na vida das sociedades.
Na
opinião do economista Serge Latouche, "a
obsessão pelo crescimento econômico nos levará à destruição. Uma taxa de
crescimento de 2% - extremamente modesta -, fará com que em 2050 não serão
precisos três ou seis planetas, e sim dezenas de planetas e isso não temos como
encontrar de nenhum modo", afirma. Segundo o economista, o nosso modo de
produzir e de consumir é condenatório da existência humana. "Precisamos
apostar no decrescimento, caso contrário estaremos condenados a viver em uma
sociedade de explosão, de destruição, ou seja, a lógica na aposta do
decrescimento é uma aspiração à justiça levando em conta o fator ecológico,
entrando em uma via razoável da democracia ecológica", aponta Latouche.
"Como sair da sociedade do crescimento, como
organizar essa sociedade do decrescimento?", é a questão formulada pelo
economista e objeto dos seus estudos nos últimos anos.
Economia em viagens e bolsas Chanel - A pior crise do Brasil em 25 anos. Na encruzilhada - ECONOMIA BRASILEIRA: CENÁRIOS PARA 2013 Grupo de
Economia / Fundap
Introdução: A herança de 2012 e o
esgotamento da fase expansiva do ciclo centrada no consumo.
Ao final de cada ano, o Grupo de
Economia da Fundap elabora perspectivas para o desempenho da economia
brasileira. Nas duas últimas estimativas, a variação do PIB no cenário adverso foi
projetada em 2,9% para 2011 e em 1,0% para 20121.
Em ambos os cenários, a hipótese
era de aprofundamento da crise na zona do euro, com algum grau, inclusive, de
ruptura: a saída da Grécia, o contágio em outros países e problemas graves de
solvência no sistema bancário europeu.
De fato, a crise na Europa não se
desdobrou até agora para uma situação disruptiva, e alguns passos estão sendo
dados no sentido de se construir uma união mais sólida do ponto de vista fiscal
e financeiro, porém sem garantia de que esse processo não possa vir a se
deteriorar a qualquer momento, provocando novamente o aumento da volatilidade
nos mercados.
A estratégia de levar em
“banho-maria” os problemas estruturais da zona do euro conseguiu, até agora,
diminuir as tensões ao injetar liquidez no mercado de dívida soberana em troca
de fortes ajustes fiscais por parte dos países em crise.
O efeito colateral dessa política
é a recessão na Europa e o enfraquecimento da economia alemã, com reflexos
negativos na economia mundial.
A variação observada no PIB
brasileiro em 2011 foi de 2,7% e as perspectivas com base nos últimos
indicadores coincidentes da atividade econômica mostram que o PIB poderá
crescer abaixo de 1,0% em 2012.
Ou seja, nos últimos dois anos, o
cenário adverso das nossas projeções praticamente se confirmou, e a média de
crescimento do governo Dilma no biênio 2011-12 deverá se situar na faixa de
1,9%, resultado igual ao do observado no período 2002-2003, quando as
exportações
A conjuntura econômica no Brasil,
em foco sustentava a baixa expansão do PIB e a economia passava pela crise do
apagão de energia elétrica.
Como argumentamos acima, o quadro
internacional desde a eclosão dos problemas fiscais e financeiros nos países da
zona do euro não é disruptivo, mas afeta a economia brasileira pela via comercial,
dada a lenta recuperação dos preços das commodities em 2012 e a redução da
demanda externa por nossos produtos básicos, semimanufaturados e manufaturados.
Fica claro, assim, que o atual
baixo crescimento do Brasil deve-se, além disso, a fatores internos.
Com o intuito de elucidar as
causas desse movimento, que surpreendeu pelo grau de intensidade da retração da
indústria de transformação, é importante examinar quais foram os fatores
domésticos que afetaram a dinâmica econômica e a formação das expectativas,
especialmente as empresariais, e se ano de 2013 sofrerá a influência da
reversão ou não desse contexto e das mudanças na gestão da política econômica.
Cabe destacar que as projeções do
PIB estão bastante influenciadas pelo desempenho da economia em 2012.
A boa notícia é que a recuperação
da atividade econômica no segundo semestre, apesar de ter ficado abaixo do
esperado pela maioria dos analistas econômicos e pelo próprio governo,
transferirá um efeito estatístico (carry-over) positivo para 2013. Se no quarto
trimestre de 2012 o PIB mostrar crescimento de 1,2%, em relação aos resultados
do trimestre imediatamente anterior, excluídos os efeitos sazonais o que
significa acelerar (dobrar) a variação na margem em relação à alta observada no
terceiro trimestre, e se a economia permanecer nesse patamar ao longo de 2013,
a expansão do PIB será de 1,3% (valor igual à média do carry-over do período
2000-2012.
O ritmo atual de crescimento da
economia brasileira e a sua composição setorial mostram os desafios que a
política econômica terá de enfrentar para propiciar o retorno a um padrão mais
“saudável” de expansão, no qual haja avanço do investimento produtivo, retomada
da produção industrial e ganhos de produtividade, necessários para recompor a
competitividade da economia brasileira.
Ao
término de 2010, a demanda interna havia crescido 9,2% e, no início de 2011,
mostrou alta de 7,8%, na comparação do acumulado em quatro trimestres.
Conjuntura econômica em foco li
brada, sendo que a contribuição do consumo das famílias e da formação bruta de
capital fixo para o crescimento apresentava patamares próximos de,
respectivamente, 3,8 e 3,2 pontos percentual.
As empresas ampliaram sua
capacidade produtiva, as famílias aumentaram o consumo de bens e serviços e as
expectativas para aquele ano foram favoráveis (na faixa de 4,5% nas projeções da
pesquisa Focus, de dezembro de 2010).
Contribuição ao crescimento do
PIB, no acumulado em quatro trimestres. Ótica da demanda (%) 3,8 Consumo das
famílias Consumo do governo Formação bruta de capital fixo Demanda Interna Exportações
Importações (-) Demanda Externa Variação de Estoques I/2011 II/2011 III/2011
IV/2011 I/2012 II/2012 III/2012
Essa fase expansiva do ciclo
econômico doméstico, iniciado em 2004 e centrado na expansão do consumo –
ancorada, por sua vez, no endividamento das famílias (impulsionado, em grande medida,
pelo crédito consignado) e nos efeitos positivos das políticas de transferência
de renda e de aumento real do salário mínimo sobre o poder de compra da
população, e, em menor medida, nos programas de investimento em infra-estrutura,
foi brevemente interrompida pelo efeito-contágio da crise financeira global em
2009 e passou a perder força a partir de meados de 2011, mostrando sinais
relevantes de esgotamento no final de 2012.
Esses sinais são inequívocos: a
alta da demanda interna recuou para a faixa de 1,8% no terceiro trimestre de
2012, sendo que a formação bruta de capital fixo passou a contribuir
negativamente (-0,4 p.p) para o crescimento do PIB e a contribuição do consumo
das famílias recuou para a faixa de 1,6 pontos percentuais; o consumo do
governo permaneceu contribuindo na faixa de 0,5 p.p ao longo de 2012.
O circuito renda consumo produção
investimento conseguiu se reerguer da crise financeira global de 2008/2009
graças a uma política fiscal anticíclica com desonerações tributárias para bens
de consumo e uma diretriz ativa dos bancos públicos no sentido de manter a
oferta de crédito, dada a retração do setor bancário privado.
No biênio 2011-2012, parte
importante desse fluxo foi interrompida, a oferta doméstica de produtos
industriais e o investimento produtivo andaram para trás em 2012 e o circuito
renda-consumo perdeu força.
O atual retrato da economia
brasileira é bastante sugestivo.
O consumo de bens e serviços mantém-se
sustentado, no período recente, em função de: A renda do trabalhador tem se
mantido em trajetória ascendente, especialmente nos segmentos de bens não
comercializáveis, e as taxas de desocupação se situarem em níveis baixíssimos
nas regiões metropolitanas (na faixa de 4,9 % da PEA, em novembro de 2012).
Do lado da oferta, a retração da
atividade industrial em 2012 reflete problemas estruturais da economia
brasileira.
As manutenções do real valorizado
por um longo período e o acirramento da concorrência no mercado internacional
com o aprofundamento da crise da zona do euro impactaram duplamente a indústria
brasileira, que já vinha, ao longo ao ano passado, sofrendo redução da
rentabilidade e com custos de produção crescentes. Nesse contexto, as empresas
exportadoras perderam mercado, as importações passaram a substituir parcela da
produção nacional de modo mais intenso e o aumento da capacidade produtiva saiu
da pauta estratégica dos empresários.
Aliado a esse quadro pouco
animador para a indústria nacional, as empresas iniciaram o ano de 2011
extremamente estocadas, antevendo um crescimento econômico que não aconteceu.
Os estoques contribuíram para a
expansão do PIB (+0,9 p.p no acumulado em quatro trimestres).
De lá para cá, o desempenho da
indústria sofreu o impacto negativo de um processo contínuo de ajuste nos
inventários das empresas, sendo que no terceiro trimestre de 2012 esse
movimento retirou 0,8 p.p da variação do PIB.
Antes de sintetizarmos os
cenários (básico e adverso) para 2013, na última seção deste artigo, além desta
introdução que colocou parâmetros gerais para as nossas perspectivas, a segunda
e terceira seções detalharão o cenário internacional e a atual formatação da
política econômica.
Contexto Internacional
O segundo semestre de 2012
caracterizou-se por uma nítida redução dos riscos de ruptura na zona do euro,
provocada pela mudança de postura do Banco Central Europeu (BCE), que anunciou a
intenção de adquirir quantidades ilimitadas de títulos públicos dos países que
tivessem de pedir resgate para poder honrar suas dívidas. Embora, por razões
específicas o seu formato, as medidas anunciadas não tenham sido postas em
prática em 2012, o simples impacto de seu anúncio tem perdurado até esse início
de 2013.
Essa reação mostra que uma das
principais razões da desconfiança dos mercados em relação ao euro está
intimamente vinculada à ausência de um emprestador de última instância nessa
moeda.
A implantação do terceiro
programa de afrouxamento quantitativo (QE3) pelo Federal Reserve (Fed) também
contribuiu para atenuar os temores dos investidores.
As reações dos mercados
financeiros a essa combinação de fatores foram de extremo alívio, desencadeando
fortes altas nos preços dos ativos. Assim, a partir do segundo semestre de
2012, observou-se uma acentuada redução da percepção de riscos, que, medida
pelo índice VIX, alcançou, no início de janeiro de 2013, seu valor mais baixo desde
meados de 2007.
As bolsas de valores subiram para
níveis anteriores à crise, enquanto caíam as taxas de juros dos títulos
públicos dos países europeus vulneráveis à desconfiança dos mercados (Grécia,
Irlanda Itália, Portugal e Espanha, ou GIIPS).
Todavia, a euforia dos mercados
financeiros reflete, sobretudo, as políticas monetárias de ampla injeção de
liquidez nos mercados, mas está longe de repousar em sólidos fundamentos
macroeconômicos.
Se a sobrevivência do euro não
está, no momento, em questão, a economia européia encontra-se em uma situação
extremamente difícil. Os altos níveis de endividamento dos países europeus,
principalmente dos GIIPS, têm sido combatidos com acentuados cortes nos gastos
públicos e aumento de impostos.
Contudo, isso tornou as coisas
piores, não melhores. Após décadas em que preconizava ajustes baseados na
austeridade fiscal, o Fundo Monetário Internacional passou, em outubro de 2012,
a apontar para o fato de que, na corrente crise, o multiplicador fiscal –
indicador que mede o impacto da política fiscal na atividade econômica – é bem
mais elevado do que as projeções anteriores. Dessa forma, as políticas de contração
fiscal provocam quedas muito mais acentuadas do que as previstas na atividade
econômica e acabam deteriorando ainda mais a situação das contas públicas,
tradicionalmente medidas como proporção do PIB, ao acarretar recessão econômica
e queda das receitas.
As projeções do OCDE Economic
Outlook, divulgadas em 28/11/2012, são de uma “recuperação econômica desigual e
hesitante”.
Profundas divergências políticas
sobre a política fiscal nos EUA e o risco de renovada instabilidade na zona do
euro têm o potencial de voltar a mergulhar o mundo em um processo de redução da
atividade econômica.
Mas, mesmo assumindo que eventos
extremos não ocorram, o relatório da OCDE projeta uma contração do PIB da zona
do euro em 2013 e forte alta no nível de desemprego, que, em alguns países como
a Grécia e a Espanha, alcançam níveis inéditos próximos a um quarto da
população ativa.
PIB e taxa de desemprego:
projeções para 2013 (em %), Países PIB Desemprego:
Estados Unidos 2,0 7,8
Inglaterra 0,9 8,3
Japão 0,7 4,4
Zona do euro
Alemanha 0,6 5,5
Espanha -1,4 26,9
França 0,3 10,7
Grécia -4,5 26,7
Irlanda 1,3 14,7
Itália -1,0 11,4
Portugal -1,8 16,9
Total OCDE 1,4 8,2
Já a economia dos Estados Unidos
encontra-se numa situação mais favorável do que a da Europa.
O país tem registrado crescimento
econômico a partir do terceiro trimestre de 2009, embora esse seja bem mais
tímido do que nos períodos que sucederam as recessões após a Segunda Guerra Mundial,
levando a uma baixa redução do nível de desemprego.
Entretanto, persiste o risco de
que essa incipiente recuperação venha a ser interrompida a partir de 2013, por
uma austeridade fiscal ao molde da
adotada na Europa.
Com efeito, no final de 2012, o
governo democrata e a maioria republicana na Câmara dos Representantes chegaram
a um acordo mínimo para enfrentar o chamado abismo fiscal (fiscal Cliff) que,
entre aumentos de impostos e cortes de gastos, retiraria da economia um valor
estimado em US$ 646 bilhões (perto de 5% do PIB). Esse acordo aumenta as
alíquotas de imposto para as famílias com renda anual superior a US$ 450 mil,
mas apenas adiou, por dois meses, os cortes de gastos, previstos.
Dessa forma, a questão deve
voltar à baila em fevereiro de 2013, junto com as negociações para aprovar um
novo aumento do teto da dívida pública, com o partido republicano exigindo que essa
elevação seja substituída por cortes, em particular nos benefícios sociais
(entitlements).
A OCDE assume a hipótese de que
tal austeridade fiscal não se concretizará e projeta um crescimento de 2% do
PIB americano, em 2013. Essa projeção é inferior ao crescimento de 2,2%,
verificado no ano passado, em razão do embate político sobre a política fiscal,
que tem provocado o adiamento das decisões de investimentos e de contratação de
pessoal.
O cenário da OCDE de baixo e
desigual crescimento em 2013 é completado por perspectivas mais favoráveis para
2014.
Mas esse cenário repousa sobre a
expectativa de que não haverá agravamento da situação na zona do euro e de que
tampouco ocorrerá forte contração fiscal nos EUA. Assim, pode-se afirmar que as
incertezas em relação à economia internacional continuam, mesmo que menos intensas
do que no início de 2012.
A política econômica em 2012
Ao longo de 2012, o governo Dilma
aprofundou a estratégia, adotada desde o início de governo, em janeiro de 2011,
de flexibilizar o tripé do regime de política macroeconômica herdado dos
governos anteriores (meta de inflação, regime de câmbio flutuante e metas de
superávit primário).
Essa estratégia ancorou-se, num primeiro
momento, na adição de outras iniciativas de política (como as medidas macro
prudenciais e os controles de capitais) aos instrumentos convencionais desse
tripé (meta da taxa Selic, flutuação “suja” da taxa de câmbio e meta de
superávit primário).
Num segundo momento (mais especificamente,
a partir do segundo semestre de 2011), também passou a envolver mudanças mais
significativas na condução das políticas monetária, cambial e fiscal, dentre as
quais se destacam a redução sistemática da meta da taxa básica de juros, a
depreciação do real e a redução do superávit primário.
Embora essa tenha sido a
estratégia mais geral, é possível dividir em dois períodos a política econômica
em 2012.
O primeiro período estendeu-se de
janeiro a junho, quando o governo deu continuidade à condução anticíclica das
políticas monetária (redução da taxa básica de juros e estímulos creditícios), cambial
(depreciação cambial) e fiscal (desonerações tributárias, sobretudo no âmbito
do programa Brasil Maior), iniciada em agosto de 2011 em resposta ao
arrefecimento, mais forte do que o desejado, da economia num contexto de
aprofundamento da crise européia.
Contudo, simultaneamente, Para
uma análise dessa gestão desde o início do governo
Dilma, o governo anunciou
contenção adicional de gastos públicos, entendida como uma precondição para que
não tivesse efeito inflacionário a nova combinação de preços-chave, favorável
ao setor industrial (juros mais baixos e câmbio mais alto).
Evolução da meta Selic e da taxa
de câmbio (final de período) Selic (meta) Taxa de Câmbio (R$/U$) O segundo
período abrangeu o restante do ano (julho a dezembro) e envolveu, igualmente,
uma política fiscal de estímulo ao crescimento econômico de caráter mais ativo
e direto do que a desoneração tributária privilegiada até então.
Diante da pequena eficácia das
medidas de estímulo aos gastos privados nas áreas monetária, cambial e fiscal,
adotadas no primeiro período, o governo decidiu também atuar diretamente sobre
a demanda, mediante o Programa de Compras Governamentais, além de ampliar o
estímulo ao investimento privado, mediante a cobrança de juros negativos na
aquisição de máquinas e equipamentos (até dezembro de 2012), no âmbito do
Programa de Sustentação do Investimento (PSI) e da prorrogação e definição de
novas renúncias fiscais (que totalizaram R$ 5,5 bilhões, a serem divididos
entre os anos de 2012 e 2013).
Nesse contexto, o governo abriu
mão da meta de superávit fiscal cheia, de 3,3% p.p Esse superávit fechou o ano
em 1,9% no acumulado de 12 meses.
Contudo, a política fiscal mais
ativa do segundo período também não foi suficiente, até agora, para estimular o
nível de atividade e o investimento produtivo, e evitar que o crescimento da
economia brasileira caísse abaixo de 1% em 2012.
A interação de pelo menos dois
fatores reduziu a eficácia das medidas anticíclicas indiretas e diretas
adotadas ao longo de 2012. Contudo, é importante destacar que, na ausência
dessas medidas, a economia brasileira provavelmente teria entrado em recessão
aberta.
O primeiro fator foi o ambiente
internacional desfavorável, que se traduziu na deterioração das expectativas e
na generalização do pessimismo entre as empresas. O segundo fator diz respeito
à fase do ciclo econômico doméstico, marcada por um processo de desaceleração
após a expansão anterior ancorada no mercado interno e no endividamento das
famílias, que se estendeu de 2006 a meados de 2011 (sendo brevemente
interrompida pelo efeito-contágio da crise em 2009 e artificialmente prolongada
em 2010 pelas medidas contra cíclicas adotadas em resposta àquele efeito).
Ademais, algumas heranças da fase
altista do ciclo contribuíram para reduzir a eficácia das medidas de estímulo.
Por um lado, o aumento do grau de endividamento e de comprometimento da renda
com o serviço da dívida das famílias. Por outro lado, a perda de
competitividade da indústria brasileira após anos de juros reais elevados e
câmbio apreciado, que corroeram sua capacidade de competir nos mercados
internos e externos.
Síntese dos cenários
O nosso cenário básico para 2013
(expansão do PIB na faixa de 3,2%, do Apêndice) incorpora um quadro
internacional com as seguintes características: a crise na zona do euro deverá se
manter estável (graças a medidas paliativas, no caso grego) com volatilidade
nos indicadores financeiros, fraca recuperação na Europa e avanço da recessão
nos GIIPS e na zona do euro; a economia americana deverá entrar em uma
trajetória de retomada do crescimento apenas razoável, praticamente repetindo o
crescimento observado em 2012, sem os efeitos deletérios do “abismo fiscal”, que
seria solucionado no primeiro trimestre, juntamente com a ampliação do teto do
endividamento público; a China deverá apresentar um pouso suave, com o processo
de transição para um ciclo com maior peso do mercado interno, ainda mais
dependente dos investimentos públicos.
Nesse contexto, a demanda externa
poderá permanecer com contribuição negativa ou nula para o crescimento, com
poucas chances de alavancar as exportações de manufaturados no curto prazo.
A continuidade da política
cambial de manutenção do real num patamar mais desvalorizado (na faixa de R$/U$
2,10) poderá, gradualmente, suscitar o início de um processo de substituição de
importações por produção nacional, fato esse que, se confirmado, criará
condições para que a demanda externa voltasse a contribuir positivamente á
expansão do PIB no final de 2013.
No front interno, os desafios são
enormes. Fica evidente que, diante desse quadro extremamente desfavorável, a
flexibilização do tripé de política econômica e as medidas de estímulo à
demanda agregada estão na direção correta (ver segunda seção), embora na nossa
avaliação a inclusão do investimento no cardápio das medidas de incentivo foi
tardia e teve lacunas visíveis, premiando as empresas que já tinham decidido
investir, como no caso da medida de depreciação acelerada com validade
predeterminada.
O cenário básico contempla o
consumo doméstico como o principal vetor de crescimento e uma recuperação
modesta do investimento produtivo. Alguns fatores, em nossa opinião, criam
obstáculos para que a economia brasileira possa alçar em 2013 uma expansão mais
robusta, especialmente no que diz respeito às decisões dos empresários em
imobilizar capital na produção.
Em primeiro lugar, existem elementos
que provavelmente inibirão o movimento de aceleração do consumo doméstico,
diminuindo as chances de uma retomada mais intensa do investimento, quais
sejam: A inadimplência do consumidor cresceu ao longo do ano passado e, mesmo
que não apresente tendência de se tornar explosiva, combinada com o maior
comprometimento da renda total dos trabalhadores com o pagamento de juros e
amortização, desenha um quadro de provável estabilidade (ou pequena desaceleração)
do patamar de consumo;
A retirada da desoneração do IPI dos
bens de consumo duráveis, mesmo que paulatina em 2013, também joga na mesma
direção e pode gerar uma acomodação para baixo da demanda;
Os sinais de retomada mais forte
da oferta privada de crédito são tímidos e incertos para tomar os parâmetros
acima, a nossa projeção é que a indústria iniciará, no primeiro trimestre de
2013, um processo de recuperação da atividade com o final do processo de ajuste
dos estoques e que o investimento retornará gradualmente. O ritmo e a
intensidade das decisões de investir das empresas dependerão de uma miríade de
fatores, com destaques para: as políticas de incentivo do governo; a capacidade
do setor público de coordenar uma expansão dos investimentos na infra-estrutura
econômica; o desempenho do consumo doméstico; a rentabilidade dos negócios
estimulada pelas mudanças institucionais, especialmente a redução dos preços de
energia elétrica; e, por fim, o desenrolar da crise na zona do euro.
Em síntese, o desempenho mediano
do investimento no cenário básico é o principal fator que impedirá a economia
brasileira de conseguir alcançar um patamar de expansão do PIB mais próximo de
4,0%.
De fato, mesmo um crescimento na
faixa de 3,5% e 4,0% dependerá do desempenho da formação bruta de capital fixo.
Isso implicaria uma reversão mais rápida da baixa confiança das empresas e um
quadro positivo para os fatores determinantes do investimento, citados no
parágrafo acima.
Atualmente, há um debate sobre os
efeitos de algumas decisões recentes de política econômica sobre a confiança do
empresariado. Ficou claro que interesses privados foram contrariados, com impacto
negativo sobre as expectativas. Em alguns casos, essas medidas poderiam ter
sido negociadas mais amplamente com os agentes econômicos (por exemplo,
mudanças no setor elétrico).
A discussão sobre a possibilidade de
haver racionamento de energia elétrica (caso o volume de chuvas não se amplie
nos próximos meses) e a perspectiva de que o corte nos preços desse importante insumo
poderá ser menor do que o esperado, com o acionamento do sistema de
termoelétricas, acaba, em última instância, aumentando a incerteza das empresas
em relação aos seus negócios e, conseqüentemente, adiando as decisões de
investimento.
Essa conjunção de fatores aponta
na direção do nosso cenário básico de maior probabilidade.
O cenário adverso parte da
hipótese de que o impasse político na zona do euro se agravará, fato que
inibirá soluções definitivas para a crise e, assim, fará aprofundar a recessão
e os problemas de financiamento na direção de países mais importantes (Espanha
e Itália).
Nesse contexto, os temores de uma
nova crise bancária voltariam a eclodir na região, com explosão do risco de
calote da dívida soberana e crescimento das tensões sociais.
As expectativas poderão assim sofrer
uma nova onda de pessimismo e a recessão poderá se aprofundar, com impactos
negativos na economia americana e chinesa.
Ante esse quadro, a política
econômica no Brasil tentará contrabalançar a deterioração do cenário
internacional com maior dose de estímulos à atividade econômica (incluindo a
redução da meta da Selic para a faixa de 6,25% a.a), mas isso não deverá ser
insuficiente para evitar a menor expansão da economia em 2013.
Segundo as nossas projeções, o
PIB aumentará na faixa de 1,3%, permanecendo praticamente estagnado em relação
a 2012. Caso esse cenário se confirme, as estimativas mostram que: o saldo da
balança cairá para a faixa de U$ 9 bilhões, em função da maior queda no volume
das exportações em relação às importações (há a perspectiva de que a
estabilidade ou queda dos preços das commodities compensará a desvalorização
cambial); o real tenderá a ficar mais desvalorizado (na faixa entre 2,15 (e
2,20), porém não conseguindo impulsionar as exportações, dada a fraca demanda
externa; a inflação se situará mais próxima do centro da meta (5,0%); e a
demanda interna perderá força, com o consumo em trajetória mais clara de
desaceleração.
Além do PIB, as principais
projeções do cenário básico são: Meta da taxa Selic se estabilizará no patamar
de 7,25% a.a;
A inflação ficará na faixa de
5,6% ainda distante do centro da meta;
A balança comercial se recuperará um pouco e o
saldo poderá atingir U$ 25 bilhões: perspectiva um pouco mais positiva para
preços das commodities e menor expansão das importações;
A formação bruta de capital fixo
avançará pouco (4,0%);
O consumo manterá a expansão, mas
não se acelerará: haverá maior endividamento das famílias, mas será menor a
alta real do salário mínimo na faixa de 2,7%.
Fonte:
economia_brasileira_cenarios_para_2013.pdf
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http://www.ihu.unisinos.br/cepat/cepat-conjuntura/507040-conjuntura-da-semana-crise-do-euro-europa-redescobre-seus-novos-pobres-no-brasil-tudo-vai-bem
Contas Nacionais, IBGE. Elaboração: Grupo de
Economia / Fundap.
OCDE, Economic Outlook, novembro de 2012
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