sábado, 23 de fevereiro de 2013

Olhem e divulguem muito

"TEXTO DE TEREZA COLLOR

 
 Publicado por Mendonça Neto, Jornal Extra - Rio de Janeiro .
Carta aberta ao Senador Renan Calheiros

 ... "Vida de gado. Povo marcado. Povo feliz". As vacas de Renan dão cria

 24 h, por dia. Haja capim e gente besta em Murici e em Alagoas!
Uma qualidade eu admiro em você: o conhecimento da alma humana. Você sabe

 manipular as pessoas, as ambições, os pecados e as fraquezas.

 Do menino ingênuo que eu fui buscar em Murici para ser deputado estadual

 em 1978 - que acreditava na pureza necessária de uma política de oposição

 dentro da ditadura militar - você, Renan Calheiros, construiu uma trajetória

 de causar inveja a todos os homens de bem que se acovardam e não aprendem

 nunca a ousar como os bandidos.

 Você é um homem ousado. Compreendeu, num determinado momento, que a

 vitória não pertence aos homens de bem, desarmados desta fúria do desatino,

 que é vencer a qualquer preço. E resolveu armar-se. Fosse qual fosse o

 preço,

 Renan Calheiros nunca mais seria o filho do Olavo, a degladiar-se com os

 poderosos Omena, na Usina São Simeão, em desigualdade de forças e de

 dinheiros.

 Decidiu que não iria combatê-los de peito aberto, descobriria um atalho,

 um mil artifícios para vencê-los, e, quem sabe, um dia derrotaria todos

 eles, os emplumados almofadinhas que tinham empregados cujo serviço

 exclusivo era abanar, durante horas, um leque imenso sobre a mesa dos

 usineiros, para que os mosquitos de Murici (em Murici, até os mosquitos são
 vorazes) não

 mordessem a tez rósea de seus donos: Quem sabe, um dia, com a alavanca da

 política, não seria Renan Calheiros o dono único, coronel de porteira

 fechada, das terras e do engenho onde seu pai, humilde, costumava ir buscar

o dinheiro da cana, para pagar a educação de seus filhos, e tirava o chapéu

para os Omena, poderosos e perigosos.

 Renan sonhava ser um big shot, a qualquer preço. Vendeu a alma, como o
Fausto de Goethe, e pediu fama e riqueza, em troca.

Quando você e o então deputado Geraldo Bulhões, colegas de bancada de

Fernando Collor, aproximaram-se dele e se aliaram, começou a ser Parido o

 novo Renan.

 Há quem diga que você é um analfabeto de raro polimento, um intuitivo. Que
nunca leu nenhum autor de economia, sociologia ou direito.

Os seus colegas de Universidade diziam isso. Longe de ser um demérito,

 essa sua espessa ignorância literária faz sobressair, ainda mais, o seu

 talento

 De vencedor.

 Creio que foi a casa pobre, numa rua descalça de Murici, que forneceu a

 você o combustível do ódio à pobreza e o ser pobre. E Renan Calheiros

 decidiu que, se a sua política não serviria ao povo em nada, a ele próprio

 serviria em tudo. Haveria de ser recebido em Palacios, em mansões de

 milionários, em Congressos estrangeiros, como um príncipe, e quando chegasse

 a esse ponto,

 todos os seus traumas banhados no rio Mundaú, seriam rebatizados em Fausto

 e opulência; "Lá terei a mulher que quero, na cama que escolherei. Serei

 amigo

 do Rei."


 Machado de Assis, por ingênuo, disse na boca de um dos seus personagens:

 "A alma terá, como a terra, uma túnica incorruptível." Mais adiante, porém,

 diante da inexorabilidade do destino do desonesto, ele advertia: "Suje-se,

 gordo! Quer sujar-se? Suje-se, gordo!"

 Renan Calheiros, em 1986, foi eleito deputado federal pela segunda vez.

 Nesse mandato, nascia o Renan globalizado, gerente de resultados, ambição à

 larga, enterrando, pouco a pouco, todos os escrúpulos da consciência. No seu

 caso, nada sobrou do naufrágio das ilusões de moço!

 Nem a vergonha na cara. O usineiro João Lyra patrocinou essa sua campanha

 com US1.000.000. O dinheiro era entregue, em parcelas, ao seu motorista

Milton, enquanto você esperava, bebericando, no antigo Hotel Luxor, av.

Assis Chateaubriand, hoje Tribunal do Trabalho.


 E fez uma campanha rica e impressionante, porque entre seus eleitores

 havia pobres universitários comunistas e usineiros deslumbrados, a segui-lo

 nas estradas poeirentas das Alagoas, extasiados com a sua intrepidez em

 ganhar a qualquer preço. O destemor do alpinista, que ou chega ao topo da

 montanha -

e é tudo seu, montanha e glória - ou morre. Ou como o jogador de pôquer,

 que blefa e não treme, que blefa rindo, e cujos olhos indecifráveis

 Intimidam o adversário. E joga tudo. E vence. No blefe.

 Você, Renan não tem alma, só apetites, dizem. E quem, na política

brasileira, a tem? Quem, neste Planalto, centro das grandes picaretagens

nacionais, atende no seu comportamento a razões e objetivos de interesse

 público? ACM, que, na iminência de ser cassado, escorregou pela porta da

 renúncia e foi reeleito como o grande coronel de uma Bahia paradoxal, que

 exibe talentos com a mesma sem-cerimônia com que cultiva corruptos? José
Sarney, que tomou carona com Carlos Lacerda, com Juscelino, e, agora,

 depois de ter apanhado uma tunda de você, virou seu pai-velho, passando-lhe
 a alquimia de 50 anos de malandragem?


 Quem tem autoridade moral para lhe cobrar coerência de princípios? O

 presidente Lula, que deu o golpe do operário, no dizer de Brizola, e hoje
ospeda no seu Ministério um office boy do próprio Brizola?

 Que taxou os aposentados, que não o eram, nem no Governo de Collor, e
dobrou o Supremo Tribunal Federal?

 No velho dizer dos canalhas, todos fazem isso, mentem, roubam, traem.

 Assim, senador, você é apenas o mais esperto de todos, que, mesmo com fatos

gritantes de improbidade, de desvio de conduta pública e privada, tem a

 quase unanimidade deste Senado de Quasímodos morais para blinda-lo.


 E um moço de aparência simplória, com um nome de pé de serra - Siba - é o

 camareiro de seu salvo-conduto para a impunidade, e fará de tudo para que a

 sua bandeira - absolver Renan no Conselho de Ética - consagre a sua

 carreira.

 Não sei se este Siba é prefixo de sibarita, mas, como seu advogado in

 pectore, vida de rico ele terá garantida. Cabra bom de tarefa, olhem o jeito

 sestroso com que ele defende o chefe... É mais realista que o Rei. E do

 outro lado, o xerife da ditadura militar, que, desde logo, previne: quero


 absolver Renan.
Que Corregedor!... Que Senado!...Vou reproduzir aqui o que você declarou

 possuir de bens em 2002 ao TRE. Confira, tem a sua assinatura:

1) Casa em Brasília, Lago Sul, R$ 800 mil,

2) Apartamento no edifício Tartana, Ponta Verde, R$ 700 mil,

3) Apartamento no Flat Alvorada, DF, de R$ 100 mil,

 4) Casa na Barra de S Miguel de R$ 350 mil ..

E SÒ.


 Você não declarou nenhuma fazenda, nem uma cabeça de gado!!

 Sem levar em conta que seu apartamento no Edifício Tartana vale, na

 realidade, mais de R$1 milhão, e sua casa na Barra de São Miguel, comprada

 de um comerciante farmacêutico, vale mais de R$ 2.000.000.Só aí, Renan, você
 DECLARA POSSUIR UM PATRIMONIO DE CERCA DE R$ 5.000.000.


 Se você, em 24 anos de mandato, ganhou BRUTOS, R$ 2 milhoes, como comprou

 o resto? E as fazendas, e as rádios, tudo em nome de laranjas? Que herança

 moral você deixa para seus descendentes?.

 Você vai entrar na história de Alagoas como um político desonesto, sem

 escrúpulos e que trai até a família. Tem certeza de que vale a pena? Uma
vez, há poucos anos, perguntei a você como estava o maior latifundiário de

Murici. E você respondeu: "Não tenho uma só tarefa de terra. A vocação de

 agricultor da família é o Olavinho." É verdade, especialmente no verde das

 mesas de pôquer!

O Brasil inteiro, em sua maioria, pede a sua cassação. Dificilmente você

 será condenado. Em Brasília, são quase todos cúmplices.

 Mas olhe no rosto das pessoas na rua, leia direito o que elas pensam,
sinta o desprezo que os alagoanos de bem sentem por você e seu comportamento

 desonesto e mentiroso. Hoje perguntado, o povo fecharia o Congresso. Por

 causa de gente como você!


 Por favor, divulguem pro Brasil inteiro pra ver se o congresso cria

 vergonha na cara. Os alagoanos agradecem.

 Thereza Collor


Edinei Sena

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