Política
Apesar de Tudo
MERVAL PEREIRA
Ele recebeu 18 votos, quando estava apoiado teoricamente pelos votos da oposição (11 do PSDB e 4 do DEM) e mais pelo dissidente PDT (5 votos), o PSB ( 4 votos), 1 do PSOL e pelo menos dois votos dissidentes do PMDB, dos senadores Pedro Simon e Jarbas Vasconcellos. Se contarmos os dois votos em branco e os dois nulos como expressões contrárias à candidatura oficial, teríamos um total 22 votos, quando deveria haver no mínimo 27 votos.
Os votos brancos e nulos, aliás, são uma expressão concreta de como o corporativismo controla a Casa, pois mesmo no voto secreto esses quatro senadores não tiveram a coragem de votar no opositor. Pode ser até que tenham combinado com o senador Renan Calheiros votar dessa maneira para deixar claro que não votariam contra ele.
Outra questão a ser analisada é como os senadores não têm nenhum tipo de preocupação com as manifestações da opinião pública. Uma das explicações possíveis é que dos eleitores de ontem, nada menos que 21 eram suplentes sem voto, isto é, sem nenhuma ligação direta com o eleitorado.
O senador Lobão Filho, por exemplo, suplente do pai, o ministro Edson Lobão, fez uma defesa da candidatura de Renan Calheiros que se ocorresse diante de um plenário sério, teria sido um desastre. Lembrou que a última vestal do Senado fora o ex-senador Demóstenes Torres, tragado pelas denúncias de corrupção. Com isso Lobão queria defender Calheiros, mas só fez chamar a atenção para o que o meu amigo Marcio Moreira Alves, meu antecessor nesse espaço, chamava de “moral homogênea” do PMDB, mote que foi usado pelo deputado Chico Alencar, do PSOL, para criticar a outra candidatura do partido à presidência da Câmara.
Como se sabe, também o deputado Henrique Alves está sendo alvo de diversas denúncias e nem por isso deixará de ser eleito. Um abaixo assinado na internet, de movimentos da sociedade civil, arregimentou mais de 300 mil assinaturas contra a indicação de Renan Calheiros, mas não houve repercussão interna.
Vários manifestantes apareceram em Brasília, mas também não mexeram com a tendência dos senadores-eleitores, motivados por interesses outros que não os da sociedade. As candidaturas do PMDB acabaram se transformando em motivos de luta política para a base governista, especialmente o PT, que passou a tratá-las como fundamentais para o projeto governista,
Não houve dissidências no PT, que assumiu Renan Calheiros como um companheiro que está sendo atacado por uma “ofensiva midiática”, como definiu o ex-ministro José Dirceu, condenado por corrupção passiva e formação de quadrilha pelo STF. Renan Calheiros foi elevado à condição de grande personagem da história brasileira, que estaria sendo atacado por ser da base da presidente Dilma.
As denúncias do Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, contra ele passaram a ser tratadas como parte do mesmo complô moralista que estaria sendo montado contra o governo popular petista. O verdadeiro samba do crioulo doido leva a que certas confusões sejam feitas.
Dirceu disse, por exemplo, que os movimentos que levaram Jânio Quadros, os militares e Fernando Collor ao poder tinham a mesma base pseudo-moralista que agora se volta contra Renan Calheiros e o governo Dilma. Mas na mesma votação, ontem, o antigo “caçador de marajás”, o hoje senador Fernando Collor, estava do lado do governo, criticando o Procurador-Geral e defendendo seu companheiro Calheiros.
O fato é que o senador Renan Calheiros foi denunciado por peculato e falsidade ideológica e pode vir a tornar-se réu de um processo no Supremo Tribunal Federal. A manutenção de sua candidatura nessas condições é uma clara confrontação com o Supremo, que pode gerar uma crise política perfeitamente evitável se o PMDB tivesse apresentado outro nome para representá-lo na presidência da Senado, : como sugeriu o senador Aécio Neves, ao mesmo tempo garantindo o apoio do PSDB ao critério da proporcionalidade, mas assumindo uma posição claramente contrária à candidatura de Renan Calheiros.
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